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terça-feira, 6 de novembro de 2018

15ª Prova do Ano : 15ª Maratona do Porto

Parece que estava a adivinhar o regresso do "otchenta e otcho"
Oh p'ra mim e o Capela a mostrar respeito aos quenianos...



Os deuses, às vezes são lixados e não respeitam o trabalho de quem tem sido exemplar naquilo que faz. Ao invés de premiarem o mérito, castigam-no com crueldade, aproveitando-se de uma vulnerabilidade corajosamente assumida por uma Organização com “O” dos  grandes, ao longo das 15 edições da Maratona do Porto.

E vão 15

Mas vamos começar pelo principio.
Às 9;00, tudo a postos para ser dado o tiro de partida junto ao “Sealife”. As velhas glórias da Corrida, Fernando Mamede e Paulo Guerra apontavam para o ar, a pistola que haveria de dar o sinal que poria em marcha toda aquela multidão que, de um momento para o outro, tinha enchido aquela avenida. Por ser totalista da Prova, (eu e mais vinte) a organização brindou-nos com a prerrogativa de nos posicionarmos bem lá na frente, junto dos candidatos à vitória.
PUM ! Aí vamos nós. Como não queria ser estorvo para ninguém, havia que dar à perna e, na Rotunda do Queijo, olho para o relógio. Ia a 4,45/Km, eheh, onde é que vais, pa?! Vá, toca a encostar à esquerda na subida da Boavista e deixar passar aqueles que aguentariam um ritmo que, para mim, seria suicida em poucos quilómetros. Era preciso encontrar uma passada confortável. Pareceu-me encontrar a passada certa, folgada, como convinha. Mais uma espreitadela para o relógio: 5,00/Km ! Mas o que é isto ? Passo o km 3, o 4, o 5 e eu a pensar que estava a abrandar e, afinal, continuava abaixo dos 5,15.E pensei: “ou vou bater o meu record de há muitos anos, ou darei um estoiro de todo o tamanho.” À Meia Maratona ainda estava a andar abaixo dos 5,30 e, estranhamente, continuava a sentir-me bem. Ia mais próximo do balão das 3,30H do que do das 3,45H. Afurada e retorno, onde me vou cruzando com vários amigos que se espantavam de me ver ali. E eu também. A qualquer momento, a coisa podia quebrar. Na ponte D. Luis, por volta dos 29, pareceu-me sentir alguns sinais, mas estava a manter o ritmo.
Faço o último retorno, por volta dos 31 Km. Agora era sempre em frente até à rotunda da Anémona. A entrada no Túnel da Ribeira (33Km) é sempre um momento esperado. É um ponto estratégico do percurso e a Organização sabe disso.  Lá estava o “homem da marreta” de um lado e do outro, passavam vídeos motivadores, mostrando a espantosa ponta final do Kipchoe na Maratona de Berlim. Claro que era para rir. Mas tinha de optar e, entre a “marreta” e o Kipchoe, imaginei-me a correr ao lado deste para fugir daquele. Aos 34 vejo-me a ser ultrapassado por um grupo numeroso de atletas. E outro. Mau sinal. Estava a andar a 6,00´/Km! Era óbvio que o balão das 3,45 estava também a passar. Bruxo! E o da marreta também. Tentei reagir, mas não deu. Teria de me dar por satisfeito se não baixasse muito dos 6/km, pois esta era a parte penosa. Vão passando alguns e eu vou passando outros (menos). Na rotunda da Anémona, começo a sentir algo no estômago. Mau,mau. Era bom que aguentasse até cortar a meta que estava a 500m. Não deu. Lá tive de encostar, nauseado e parei cerca de um minuto. A chuva aumentou muito de intensidade. Lá recupero a corrida, e entro no Queimódromo para pisar a passadeira vermelha. As majoretes, protegidas com impermeáveis, lá iam abanando os pompons com alegria e o speaker também não se cansava de incentivar os atletas naqueles últimos metros. Gestos de vitória para a fotografia e o cronómetro a marcar 3,50,23. Mais umas náuseas (que ainda tinham ficado por sair) e os jovens da Cruz  Vermelha, atentos, a oferecerem-me um saco para vomitar. Agradeci, mas dispensei, pois eram vómitos que não tinham conteúdo. Foi rápida a recuperação. Medalha ao peito, capa pelos ombros, fui beber uma cervejinha que soube pela vida.
A intempérie acentuava-se e vejo elementos da organização aflitos para segurarem as tendas e os chapéus que o vento ameaçava levar. Junto aos guarda-roupas, vi que havia alguma confusão e com muita pena, não era possível ficar ali sentado um bocadinho, a descontrair, como sempre tem acontecido. Sem grandes perdas de tempo, encaminho-me para o autocarro que me levaria ao hotel, para tomar um banho e fazer o checkout.
Recebo por SMS, uma mensagem de felicitações a dizer: “A Vitalis e a Runporto dão-lhe os parabéns por terminar a Maratona do Porto de 2018. Class.Provisória:3.50.23 .Pos.2022. Vitalis, água oficial das maratonas”. Como diria o outro: “- Porreiro,pá.” Menos 2 minutos que em 2017, que já tinha considerado bom. (Todos os resultados aqui.)
Infelizmente, vim a confirmar depois, que a tal confusão junto aos guarda-roupas, tinha vindo a revelar-se bastante mais grave do que aquilo que me tinha parecido, pois muitos atletas estavam em hipotermia e as mantas térmicas tinham-se acabado cedo; as mochilas dos atletas, além de não estarem ordenadas como é costume, estavam encharcadas, o que gerou também alguma indignação.
O pedido de desculpas público, que o Director da Prova, Jorge Teixeira apresentou, logo de seguida, revela a humildade que as grandes organizações devem ter quando falham. Estou certo de que ninguém, mais do que ele - como perfeccionista que é naquilo em que se empenha- lamenta  o sucedido. É verdade que a Organização estava avisada de que iria chover e por isso custa a crer que tenha sido por aí que “deu o flanco” para ser atacada.
Entendo, no entanto, que a Runporto, pelo que já fez pela Corrida e por ter conseguido elevar a Maratona do Porto ao mais alto patamar competitivo do Mundo, ao assumir que falhou onde não devia, merece uma segunda oportunidade àqueles que ficaram mal impressionados com este incidente.
PARABÉNS, RUNPORTO. Mesmo sem ter conseguido a excelência, porque as condições climatéricas pesaram. Correr a Maratona do Porto, ao longo de um cenário fabuloso, em que os atletas se sentiram deslumbrados e sempre acompanhados é um privilégio enorme. E que ninguém tenha dúvidas que a falha deste ano não voltará a repetir-se, pois é muito mais fácil a um organizador de maratonas organizar um guarda-roupa, do que a um organizador de guarda-roupa organizar uma maratona como a do Porto.
A 16ª Edição está já marcada para 3 de Novembro de 2019. Quero lá estar de novo. 

5 comentários:

JoaoLima disse...

Muitos parabéns Fernando pela fantástica marca!
E muitos parabéns por continuares a ser totalista :)

Grande abraço

Fabiana disse...

Totalista Fernando? WOW!!! Tomara eu ser totalista de uma quanto mais de tantas! Ahahahah Muitos e muitos parabéns!

À medida que vou lendo os vossos relatos sobre a Maratona do Porto tenho cada vez mais vontade de me estrear nesta distância nessa bela cidade, onde por sinal também me estreei na Meia Maratona ;)

Bons treinos!

Anónimo disse...

Parabéns Mestre por mais uma,boa marca.
Abraço,
António Almeida

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Parabéns Fernando pela magnífica prestação! E tão pouco tempo depois de Lisboa, ainda. E sim, a Runporto e a Maratona do Porto merece a confiança dos atletas, apesar do que aconteceu este ano, e eu, e todos os que puder levar comigo, voltarei para o ano, e se a vida e a saúde me deixarem, para CORRER a MARATONA, que isto dos 15 km é muito bom e tal, interessa é participar na festa, etc e tal, mas...não é a mesma coisa!

HappyRun Team disse...

Sim, também lá estive mas, ser totalista da maratona do Porto é só para "Berdadeiros" campeões.
Parabéns :)
MIKE
Happyrun