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quarta-feira, 30 de junho de 2010

UTSF-Memorial Sálvio Nora



Rio de Frades (no final do Trilho do Carteiro)


Quanto à minha opinião sobre o UTSF (e foi a primeira vez que lá estive) acho o seguinte: - Se o Moutinho, pela sua louvável dedicação a este tipo de provas, pretende captar mais gente para elas, escolheu mal, ao enveredar por esta versão "extreme", só ao alcance de muito poucos. Há que chamar as pessoas à montanha sim, mas de forma suave. Pelos comentários que ouvi (ainda a quente, é certo) muitos não querem lá voltar. Se o Moutinho pretende fazer do UTSF a "Prova mais difícil do Mundo", como ele diz orgulhosamente, aí fica reservada a meia dúzia de semi-deuses.
Os aspectos relacionados com a segurança, também merecem uma atenção especial, pois em pisos bastante perigosos (gostam de lhes chamar "técnicos"), se houver azar e o atleta não conseguir sair dali pelos seus próprios meios, estamos perante uma situação complicada para resolver. Mas aí, penso que pouco haverá a fazer, pois não é possível colocar nos sítios mais perigosos, equipas de socorristas de prevenção. Quanto à dureza do traçado, bom, ela foi anunciada e mostrada a sua altimetria com algumas indicações sobre as características do piso. O problema é que se devíamos saber o que tínhamos de trepar, não nos pareceu que o que tivéssemos de descer fosse tão complicado. Se a subida era lenta, para nos pouparmos, a descida era ainda mais lenta, para nos protegermos, pelo que não podíamos nunca compensar o tempo perdido. E o relógio não parava. E os postos de controlo eram implacáveis.
Também esteve mal, o Moutinho, quando, peremptoriamente, dizia que não seriam classificados os que chegassem depois das 15h de prova, quando já estava mais que provado que foi ele que falhou os cálculos. Esse limite foi determinante para o abandono de muitos. Já no dia seguinte, resolveu classificar todos os que chegassem à meta. Só que essa informação seria muito importante para os que, já tendo feito 60km viram que não conseguiriam chegar nas 15 h e optaram por abandonar. É caso para dizer que se fez justiça para quem foi persistente e injusto para quem acatou o Regulamento. O correcto seria dar instruções aos pontos de controlo para informar os atletas de que os limites tinham sido alargados.
Outra coisa que me doeu o coração foi o facto de ver atletas a chegar, darem-lhe um pólo e uma garrafa de água e, não fosse o locutor de serviço, Fernando Costa, fazer uma pequena entrevista a quem ia chegando, aquele momento que há tantas horas era esperado, não tinha a dignidade que merecia e se impunha. Um esforço épico merece uma lembrança especial, que não seja a pensar em aproveitamentos para futuras edições (parece que não puseram a edição no pólo) e é de nos deixarem estupefactos, quando juntamente com o dorsal nos dão uma t-shirt da… 2ª edição !!!
Estou convencido que dá muito trabalho, organizar um evento destes, de 70 km no meio da serra, em que aqueles que têm o privilégio de o completar, devem ter a grata sensação de missão cumprida e esse é o grande prémio. Mas a Organização também ficaria melhor, se tivesse uma lembrança para eles, na proporção do esforço efectuado. Não falo de coisas caras. Falo de coisas que até poderiam ser pedaços de xisto com uma inscrição tipo “ Eu completei o UTSF-27.Jun.2010”. Seria uma honrosa medalha, que todos teriam orgulho em mostrar, sem onerar o orçamento da Organização e esta livrar-se-ia de uma crítica em que há unanimidade.
Voltarei ao tema.

terça-feira, 29 de junho de 2010

UTSF-Memorial Sálvio Nora

Por esse rio acima...



Depois de verificados os dorsais dos participantes e ouvidas as últimas indicações do Director da Prova, José Moutinho, quando eram 5 da manhã, ainda noite cerrada, é dada a partida. Ao som arrepiante de “1492 - The conquest of paradise” dos Vangelis, serra adentro, centena e meia de atletas, frontais acesos, com aquele som a penetrar-lhes na alma, sentiam elevar-se a outra dimensão: à dimensão ULTRA em versão “Extreme”.
Rapidamente se formou uma fila quando se chegou ao primeiro carreiro. Havia muitas “estrelas” no chão, como resultado da luz dos frontais reflectida na mica (ou seria do feldespato?, ou do quartzo?) do piso granítico que pisávamos. A primeira aldeia por onde passámos, não deu por nós, ainda dormia, embora já houvesse luz do dia. Era fácil esta parte do percurso. Atravessámos uma pequena ponte e subimos para outra aldeia, na encosta contrária da primeira, subida curta, que não criou dificuldade, tanto mais que foi feita a passo. Desce-se depois por um longo trilho (o do Carteiro) o qual, embora estreito, permitia a corrida até chegar a uma outra aldeia. A entrada no Rio Paivô obrigou-nos a caminhar nas margens pedregosas e escorregadias que para alguns proporcionou momentos hilariantes, para outros, momentos trágicos, com lesões que implicaram não só a desistência, como a obrigatoriedade de ter de continuar até chegar à estrada. Mas a travessia, com a água pelo pescoço, soube mesmo bem e não resisti a dar umas “braçadas”. A água estava (ou parecia-me )quentinha e não apetecia sair dali. Mas o tempo continuava a contar e o controle dos 20Km estava a pressionar. Ouvi o Moutinho dizer: “-Tendes meia hora para sair daí!”
Chegado ao abastecimento, comi uns bocadinhos de laranja e de banana e era preciso subir e depois descer até que passámos por uma outra aldeia, onde se substituiu a água já morna da mochila por água fresquinha. Aí, o empedrado da rua estava “atapetado” por caganitas de ovelha esmagadas pelos atletas que me antecederam e aquele cheiro típico fez-me recordar os meus tempos de infância. Os cães dormiam sem se incomodar com a passagem dos atletas .
Depois de uma subida em piso solto, chega-se a um pequeno planalto. Sentei-me numa manilha de cimento que ali estava e descansei um pouco. Descida para Drave, uma velha aldeia de xisto abandonada. Tirei umas fotos e, distraído, saí da rota. Quando dei por isso, todos aqueles que vinham no grupo que eu tinha ultrapassado, tomaram-me a dianteira e ganharam-me vantagem naquela que seria a 1ª subida a sério. Terrível! Nunca mais chegava lá acima. O trilho era em zigue-zague, assinalado por fitas no meio do mato. Era mesmo preciso parar de vez em quando, até atingir o cume. Depois vinha a descida por um estradão que serpenteava e onde consegui correr e chegar à torneira dos 31km.
Aí parei, sentei-me e ao ver a subida da Garra, com os atletas -quais pontos minúsculos na imensidão da montanha- a treparem, vagarosamente, lá longe. Fiquei com o moral em baixo. Se até ali eu me sentia todo "roto" (doía-me tudo) como é que conseguiria subir aquilo!? Só que não tinha outro remédio pois ali ninguém me ia buscar. No rio que se seguia, refresquei os pés por alguns minutos e retomei a marcha. Com dois paus de eucalipto, preparo dois bastões, para transferir para os braços uma parte da carga que até ali tinha ficado só por conta das pernas. Um deles partiu-se logo à saída do rio, mas o outro resistiu e acho que me deu jeito, pois custou-me muito menos esta subida que a anterior (talvez o efeito de um gel que tomei, se tenha também manifestado). Chego às eólicas (38km) e tinha 45m para chegar dentro do controle dos 40km, que era de 9h. Sentia-me bem e achava que não teria problema, pois o terreno agora era a descer. A verdade é que, quando tenho de desviar o mato para ver onde ponho os pés, comecei a ver que que tudo se iria complicar. E assim foi. Cheguei com 9,26h à Póvoa das Leiras, onde estavam outros 25 atletas que tinham terminado ali, uns por vontade própria, outros porque o tempo limite se tinha esgotado. Eu já me tinha decidido ficar, mesmo antes de saber que tinha excedido o tempo, pois constava-me que os 30Km seguintes iriam ser bem mais difíceis. E tantos com experiência comprovada, optaram pela desistência ..! Quem era eu, para continuar?! Dei assim, por finda a "minha actuação" naquele palco fantástico da Freita. Depois foi só esperar por transporte e ir ver os heróis que conseguiram levar até ao fim a jornada.
Voltarei ao assunto.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

UTSF-Memorial Sálvio Nora

Máquina na mão esquerda e...pimba

Que diferença, entre o falar da Freita com base no que se ouve e falar dela depois de lá ter estado e de ter sentido na pele o que ela tem de belo e de duro …!
Eu tinha uma noção de que o desafio era grande e seria preciso um grande autocontrole para terminar o UTSF-Memorial Sálvio Nora. Não cometi excessos que pudessem comprometer os meus objectivos, mas a verdade é que tudo tem limite. E o meu, que foi sendo alterado ao longo da Prova, ficou-se pelos 40Km! Havia outro limite fixado pela organização, que era o do tempo de passagem naquele ponto, que seria de 9h. Tempo mais que suficiente, pensava eu, mas que se revelou curto. Mas ainda que me tivesse sido permitido continuar, eu não o faria! E depois de ter assistido à chegada de alguns atletas, a frustração da desistência deu lugar ao contentamento por ter tomado a decisão mais adequada. Afinal, o que eu queria da Freita, já tinha tido ao longo destes 40km. Os restantes 30 já só iriam trazer-me sofrimento e risco para a minha integridade física e isso não encaixava no pensamento de quem para lá foi, com o intuito de prestar um tributo ao Sálvio Nora (que não era sob a forma de martírio) e usufruir das paisagens únicas que aquela Serra podia proporcionar.
A experiência tida não dará apenas uma estória, mas muitas estórias, que falarão dos amigos encontrados, da beleza das paisagens que eu não conhecia, do ambiente no Parque de Campismo , da Prova, do que ela tem de paradisíaco que nos abençoa e de infernal que nos pune, da Organização, dos comentários feitos por quem concluíu a prova e de quem não a conseguiu concluir, etc.
Tentarei falar de tudo isso em próximos relatos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

UTSF-Memorial Sálvio Nora

Serra da Freita

Correr, andar, trepar, lá nas alturas
Onde o ar rarefeito me enfraquece,
Por íngremes caminhos, rotas duras
Que só com quatro apoios me apetece;
Lindos quadros, belíssimas molduras
Que a gente ao contemplá-los se envaidece
E nos esquecemos da competição,
Que o prémio é a natura em nossa mão.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Mas as crianças, Senhor?!...

Contaram-me um episódio, que não resisto a partilhar convosco, pois entendo que é de grande importância, para a modalidade e para o desporto em geral, uma reflexão sobre o tema.
Era mais ou menos assim:

O miúdo tinha-se destacado de toda a concorrência e entra na recta da meta, para correr os últimos metros. Vai olhando para trás, controlando a distância sobre os seus adversários e vê que a vitória já não lhe escapará. Vibrando com os aplausos do público, num gesto instintivo, tira a camisola, ergue os braços e fixa com o olhar o céu e, feliz, termina a corrida.
Nesse instante, entram em cena os juízes da prova, asseverando que o rapaz não podia cortar a meta sem o dorsal visível e obrigam-no a vestir a camisola. Primeiro, precisou de saber o que pretendiam dele com tão inesperada recepção. Depois, então, cumpriu a ordem. Entretanto, outros chegam à meta e, quando chega a sua vez, fica em sétimo!
Obviamente, que o miúdo não se conteve, com tão severa punição e chorou.
Todos os adversários reconhecem que era ele o vencedor mas, inflexíveis, os juízes entenderam que os regulamentos eram para ser aplicados, mesmo sem queixa por parte dos que pudessem ter sido prejudicados com a infracção cometida.
Alguém, de experiência comprovada, aconselha o miúdo e vai com ele junto dos juízes, para pedir desculpa e justificar a sua atitude. Viram-lhe as costas e não o quiseram ouvir.
Mas o director da Prova, ouviu-o. E, sem questionar a soberania daqueles a quem tinha pago para ajuizar, não podia ficar indiferente, quando soube da explicação do gesto do miúdo e, emotivamente, premiou-o com uma oferta pessoal, de valor bem superior ao que estava em disputa. Afinal, não fora irreflectido o tal gesto: Tinha-lhe falecido a mãe há um mês atrás e aquela foi a forma que encontrou para lhe dedicar esta vitória.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Corrida das Festas da Cidade

Todas as provas têm o seu percurso buscando a perfeição inatingível. Mas algumas aproximam-se de tal maneira que o pouquinho que falta (que nem se sabe bem o que é) torna-se desprezível . Foi atingido um padrão de qualidade tal que, tentar fazer melhor é “inventar” e correr riscos desnecessários.
Para a Runporto a Corrida das Festas da Cidade, acaba por ser apenas mais uma das suas excelentes provas, pois trata-se de uma Organização que não se “assusta” com uma multidão que se sente bem tratada, nem com uma elite capaz de bater recordes. Ganhou um “traquejo” e um “automatismo” que garantem aos participantes nas suas provas, a qualidade desejada.
Sempre que possa, lá estarei e recomendo a todos que o façam e testemunhem o que digo. Bem sei que, para alguns, existe a má memória da antiga Corrida de S. João, mas isso corresponde à “pré-história” da corrida na invicta.
Estive lá e, com grande prazer, encontrei vários amigos, com quem pude confraternizar na véspera, durante e depois da prova. E se sabe bem encontrar amigos e estar com eles, não posso deixar de assinalar a grata sensação de ser abordado simpaticamente, por outros que se dão a conhecer porque sabem do “cidadão de corrida”. A grande magia da net a alargar os nossos horizontes ( ou a tornar o mundo mais pequeno?).
1.11,30 foi o tempo que demorei a fazer os 15 Km daquele lindíssimo percurso na margem direita da foz do Douro, agora com um bocadinho menos de empedrado, pois levou um tapete novo.
Parabéns à Runporto por mais este sucesso. Bem haja pelo que tem feito pela Corrida.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Corrida das Festas da Cidade

Correr na Cidade do Porto é sempre um enorme prazer e com o Porto em Festa, então, esse prazer é redobrado. A Corrida das Festas da Cidade, na distância de 15km, disputada na margem direita do Douro, junto à Foz, é uma das melhores em que tenho participado: muita gente na corrida, muita gente na caminhada, um ambiente festivo que nos convida a permanecer por ali e uma Organização com um “O” grande, que sabe acolher tanto os atletas de elite como os simples corredores ou caminheiros. Todos comungam do mesmo espírito: confraternizam, movimentam-se e “absorvem” aquele cenário fabuloso.
Pouco importa o tempo que faz e o tempo que se faz. Quem conhece esta prova, sabe do que falo e quem não a conhece, precisa de conhecer.
Domingo, então, lá estarei na Invicta para a 11ª Edição da Grandiosa Corrida das Festas.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

14 de Junho




Faz um ano, porém, eu não me esqueço
Que em Madrid, ou melhor, em Colmenar
Tentei dura conquista, sem sucesso,
De percorrer os 100 a palmilhar.
Virei, assim, os planos do avesso,
Mas prometi que iria lá voltar,
Não este ano, que aquilo que se ajeita
É ir tentar a sorte lá na Freita.

Farei depois aqui o meu relato
Contando os pormenores dessa aventura
Só espero melhor sorte e ser sensato
Sem me preocupar com a má figura.
No meio, há tanta pedra e tanto mato
E também tanta escarpa não segura...
Chegar ao fim? veremos se consigo
Seria um bom tributo ao Sálvio amigo.

sábado, 12 de junho de 2010

Foi sem querer...

Acho que meti água! Não só pelo conteúdo lisonjeiro do texto do Jorge Teixeira (e não fica bem, estar ” a pôr-me em bicos de pé”), mas porque ele foi feito em jeito de comentário. E aí é que está a questão: houve outros comentários igualmente valiosos sobre o mesmo tema aos quais não dei o mesmo destaque. A única diferença é que o tal texto , tendo sido feito a pedido do Jorge, teve, da parte dele, uma reacção que me sensibilizou e, havendo já textos posteriores neste blogue, haveria grandes possibilidades de não ser lido. Daí tê-lo trazido para a actualidade.
Espero que os restantes amigos comentadores, a quem estou sempre muito grato pela atenção que me têm dado, entendam a minha atitude.
Ou será que ninguém ligou a isso e eu é que estou com a necessidade de dar uma explicação?
Se achei que devia, ela aqui fica e espero que seja compreendida.

Venham mais últimos

Em comentário ao texto publicado abaixo "Falar de Corrida" recebi do nosso amigo Jorge Teixeira, uma mensagem que, perdoem-me a vaidade, coloco aqui no espaço de texto para a partilhar convosco. Espero que não vejam nisto uma atitude tipo :-"olhem como eu sou bom!". Faço-o para dar destaque à mensagem de quem comprendeu e sentiu muito bem aquilo que eu pretendia transmitir. Obviamente que me sinto muito honrado com as palavras que se seguem :

Meus caros, e em especial meu CARO FERNANDO, o seu texto "A APOLOGIA DOS ÚLTIMOS", que guardo comigo religiosamente, é o texto mais fantástico e mais inspirador (e refiro-me à minha pessoa), que jamais conheci. Lembro-me que no primeiro encontro do Mundo da Corrida que se realizou em Ovar o tentei ler sem que se me embargasse a voz mas não foi fácil, já que naquele texto se revê um pouco do que tem sido a minha ascensão na cidade do Porto, pois como todos sabem tenho tentado fazer exactamente isso, A APOLOGIA DOS ÚLTIMOS. Estou sempre interessado em ter cada vez mais ÚLTIMOS, e sobretudo, tentar tratá-los bem, não sem que por vezes me sinta triste, ao saber que não somos reconhecidos e em especial acham até que deveríamos fazer mais, pois o que fazemos pelos últimos, comparado com o que por aí se vê, ainda não chega para alguns, mas o que interessa é que nesse texto, que eu ia desafiá-lo a divulgar JÁ......., para que todos vejam que tudo o que ali está escrito é de facto, a verdade das corridas, e essa verdade tem a ver com isso mesmo :A APOLOGIA DOS ÚLTIMOS.
Termino dizendo-lhe que sinto enorme prazer em tê-lo conhecido e agradeço sinceramente o facto de me deixar ser seu amigo.
Um abraço e até domingo dia 20, a Cidade do Porto está à sua espera, e já agora, à espera de todos.

Jorge Teixeira

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Os “últimos”, esses vencedores...

O nosso amigo Jorge Branco, do "Último km", experiente entusiasta da Corrida, na sua recente participação na 2ª Meia Maratona na Areia


Tudo o que aqui disser, não será mais que a constatação de trivialidades que todos conhecem e que se apresentam desligadas, avulsas. Mas que sejam essas trivialidades o ponto de partida para uma reflexão necessária em favor do movimento da corrida.

Falar dos “últimos” não é fácil. Até porque na corrida não há “últimos”. O primeiro também seria o “último” se corresse sozinho, ou se todos os outros desistissem…E, em termos mais competitivos, os que chegam hoje em “últimos”, poderão amanhã ser os primeiros se estiverem numa fase transitória da preparação. Sempre que falar de “últimos” colocarei aspas.

Aquilo que dá virtude à corrida é ser uma actividade acessível a todos: aos que correm mais depressa e aos que correm mais devagar. Estes, onde me incluo, que se dispõem a participar conscientes das suas limitações, levam alegria e movimento às nossas estradas e demonstram a quem não corre, que não é preciso estar-se obcecado por chegar primeiro, para que se saia vencedor; para que se ande contente no desporto.

Chegar ao fim, com aquilo a que nos propomos, independentemente do tempo que levarmos, é, de facto, a grande mensagem que transportamos connosco, em cada prova em que participamos.

Correr sem a pressão de ter de chegar primeiro, dá-nos um bem estar, incomparavelmente maior. Aí, ganhamos. Mas é também justo que aos outros - os primeiros - os que sofrem na sua preparação, os que sofrem a ansiedade da partida e que sofrem ao longo da prova a agressão de trabalhar no limite, se lhes reconheça o mérito e se lhes atribuam os merecidos prémios.

Porém, o papel dos “últimos”, ou melhor, dos mais lentos, nas actuais circunstâncias do nosso desporto, é pioneiro na mudança das mentalidades habituadas a ver os desportos como eventos em que há apenas um vencedor. E quando não se ganha, ou se sabe à partida que não se vai ganhar, entende-se que já não vale a pena participar, pois isso é dar a satisfação da vitória a outro.

A lógica da vitória e da derrota terá de ser minimizada!

No fundo, os verdadeiros últimos são aqueles que, podendo correr, não correm.

É verdade que numa corrida, para meia dúzia de atletas mais dotados, há apenas uma competição! Mas há outras tantas competições, quantos os atletas participantes, pois cada um compete consigo próprio, marca os seus objectivos e tenta cumpri-los! São sempre equacionados os objectivos e a performance e sabe-se também que não se poderá apontar para grande marca, quando também se sabe que a preparação necessária não foi suficientemente cumprida.

Mas participa-se. Far-se-á mais 10 minutos que o normal, mas isso não impede de se figurar na festa desportiva, em mais um “convívio em movimento”.

E nisto também há a nossa quota-parte na vitória do 1º, pois ser 1º entre milhares é diferente de ser 1º entre 10 que lutariam por esse lugar. Se perguntarem ao 1º, quantos eram, ele terá mais satisfação em dizer que eram muitos. E se eu estiver lá, entre esses muitos, sentirei que dei o meu contributo para a sua vitória.

Aqueles que têm a sorte de poder correr e não correm têm um mundo por descobrir e não sabem. Quando corro, lembro-me muitas vezes destas pessoas e das outras que tanto o desejariam fazer e não podem.

A alegria de acabar uma corrida, comentar com os companheiros mais uma jornada, voltar para casa esquecendo-se até de perguntar quem foi o primeiro, revela o sentimento de que, afinal, quem ganhou também fomos nós.

Quanta satisfação nos daria, saber que a grande maioria do nosso povo, via o desporto desta maneira? Sabemos que outros povos, noutras paragens, encaram a corrida como a forma mais simples de fazer exercício físico. Talvez por isso têm um índice de corredores bastante significativo. Isto em sociedades bem mais desenvolvidas que a nossa. Mas será essa uma forma tão extraordinária de cultura, que a mentalidade lusa não consiga atingir?

O significado da corrida para um povo, conforme o mote lançado pelo nosso incansável amigo e promotor de corridas Jorge Teixeira, só assumirá alguma relevância, quando a sua cultura desportiva lhe permita compreender que, independentemente de se ser último ou primeiro, o essencial do que fica após cada corrida, não será o prémio que nos dão no final, mas sim aquilo que fica em nós mesmos, na nossa vivência desportiva. O prazer de nos confrontarmos com a nossa própria condição. Isso é o que nos enriquece, para além de sabermos que são os “últimos” que legitimam a existência dos primeiros. A importância de ambos para o evento é idêntica.

Sem tristeza vos digo que nunca ganhei uma corrida.
Com orgulho vos digo que continuarei a participar em todas as que puder. Enquanto puder.


Fernando Andrade
Porto, 18.Junho. 2005

terça-feira, 8 de junho de 2010

Falar de Corrida


Um belo dia, está agora a fazer 5 anos, recebi um convite que me deixou surpreendido. Agradavelmente surpreendido. Mas, ao mesmo tempo, assustado, pois podia alguém estar a tomar-me por quem não era e, decepcionar era a última coisa que eu queria. E que estranho convite seria este? – Participar, como orador, numa conferência. denominada “Falar de Corrida” a ter lugar na Cidade do Porto, integrada na Corrida das Festas da Cidade!
Eh lá! Eu?!
Tentei demover da ideia, quem me fez tão gentil e honroso convite, dizendo que eu não era pessoa para essas coisas (e não!), que não tinha grandes conhecimentos da matéria (e não!), que não tinha o dom da palavra (e não!).
Inúteis foram os meus argumentos, pois, mesmo sem me conhecer, a decisão estava tomada. Eu só teria de arranjar um tema e falar dele. Era uma honra, sem dúvida alguma, mas também uma responsabilidade.
Arranjar um tema que eu dominasse era difícil. Tinha de ser qualquer coisa em que eu trocasse o saber, pelo sentir. Lá me pus a fazer umas reflexões e delas saiu um texto que seria a base da minha apresentação.
Foi nesse dia, 18 de Junho de 2005, que tive o privilégio de conhecer Jorge Teixeira, o homem que veio dar outra dimensão à Corrida na Cidade do Porto, a quem estarei sempre grato por ter confiado em mim quando ainda nem sequer sabia quem eu era (a não ser pelos escritos que punha na net).
Nesse mesmo dia conheci também o saudoso Sálvio Nora, que, na dita conferência, recordou uma das suas engraçadas aventuras, muito ao seu estilo que tanto apreciávamos.
Foi há cinco anos. Reparei então, que “Falar de Corrida” tem sido uma constante na minha vida. O nome do evento não podia ter sido mais bem escolhido. Acompanha-me todos os dias e lembra-me esse dia. Obrigado Jorge.

Quanto ao texto que fiz “A apologia dos últimos”, descobri-o um dia destes e, como é um bocadinho comprido, fica para depois.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ainda o raio da "corneta"

O melódico som do violino
(Do antigo futebol tão afinado)
Foi trocado - partida do destino -
P’lo som monotroante e embriagado
Que sai de um erecto corno, em desatino
E deixa qualquer um desconcertado.
Pode este “cornetar” ter o condão
De dar algum engenho à Selecção?


Poooo´-poooó, medonho som de quem pragueja
Como o vociferar do Adamastor,
Que, perto, no seu Cabo, só deseja
Pesadas perdas ao seu descobridor.
Que ideia, este sinal de vil peleja
Se queriam demonstrar o seu amor!?
Apoiar com a voz do inimigo
Não é prenda segura, mas castigo!

sábado, 5 de junho de 2010

Poooooooooooó - Pooooooooooó



Não há rua nem viela
De qualquer povoação
Que não tenha a vuvuzela
A massacrar a audição.

Mas que ideia mais fatela
Surgiu na Federação
Pôr o som da vuvuzela
A apoiar a Selecção

Não sendo de tradição
Nem “feeling” nem vuvuzela
A única explicação
Só pode estar na "cadela".

Basta acender uma vela
E muita concentração
E esquece-se a vuvuzela
P'ra dar sorte à Selecção.

Mas se ao som da vuvuzela
Portugal fôr campeão
Temos de levar com ela
Como hino da Nação.

E se -por suposição-
“I’ll get a” vuvuzela
Passará por cima dela
A roda de um camião.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Solar City Tower



Fiquei impressionado - pela positiva - com a informação e fotos colocadas no Cambralenta, o excelente site do Luis Novo. Ponho aqui só uma das fotos, mas deixo-vos o link para que vejam o que está a ser feito para ser a imagem de marca do Rio de Janeiro, na sua missão de organizar os Jogos Olímpicos de 2016. Não adianto mais, mas deixo o meu aplauso à iniciativa. Bravo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Um treino e pêras

20,6km /2,25h


Acho que exagerei. Estou aqui que nem posso, com as “cruzes a gemerem” por todo o lado.
Como se aproximam aí uma série de desafios, não se pode dar tréguas na preparação. Mas tudo tem conta. Vejo que a falta de disponibilidade pode ser nossa amiga, não nos deixando treinar mais do que a conta. Hoje, como era feriado, pensei cá para comigo : -“vai um longão de 2h, em piso variado, com alcatrão, rampas, trilhos”.
E assim fiz, mas estupidamente, nem uma garrafinha de água levei, pois ainda ia na esperança de que o percurso idealizado demorasse menos.
O pior é que acabei por demorar 2,25h (mesmo fazendo algumas rampas a passo) e já estava fartinho de correr. Valeu-me o chafariz de Catribana, já com 2h no papo.

Ai, ai a Freita...!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Aí está Junho! um mês de memória.


Mais uma vez a Corrida das Fogueiras vai coincidir com outro grande desafio que tenho em mente. Desta vez é o Trail da Freita-Memorial Sálvio Nora. É que, mesmo antes de saber a data, já tinha prometido ao Moutinho não faltar.
Peniche é, para mim, uma das clássicas de referência e uma das provas que fiz mais vezes ao longo da minha “carreira”. Fico com muita pena de cometer mais uma falta .

Mas há apelos que se tornam irresistíveis.

Percebam porquê, deixando-se envolver pelo perfume do texto de Joaquim Margarido, retirado do site da Prova:



"Há-de vir um Natal e será o primeiro
Em que se veja à mesa o meu lugar vazio"-

(David Mourão-Ferreira, Ladainha dos Póstumos Natais )


Das janelas do meu quarto vejo a Freita. Ora nítida no seu recorte, aos primeiros alvores da manhã, como uma onda a cavalgar a terra; ora apenas adivinhada quando, em tardes de invernia, as nuvens açoitadas pelo vento se desfazem em água no seu seio. É sempre mágica, a Freita. Nos sulcos do seu dorso rasgam-se as dores dum tempo que apenas se adivinha e que os murmúrios do vento teimam em calar. Poiso nela o olhar e deixo-me invadir por uma estranha, suave calma. Tamanha vastidão enche-me de mim. Impossível resistir ao seu apelo. Abro as janelas de par em par e vou. Uma vez mais, vou. Vou porque és tu, Freita, e não outra. Vou para te ouvir o canto em mornas brisas ou no marulhar dos teus regatos. Vou para te ver vestida de flores e me vestir do teu pó. Vou, mas não vou só. Comigo vão todos aqueles que, mesmo não te vendo como eu te vejo, te sentem como eu te sinto. Com eles estarei, não subindo encostas abruptas, não trilhando pedregosos rios, não trespassando portais dos infernos, antes reunido no ideal fraterno da paixão pela corrida e do apego à natureza e à vida. Bem sei que os montes que troto são outros. Todavia, aspirando o mesmo pó que os pés levantam, sentindo no rosto o mesmo ar, bebendo a mesma água cristalina ou magoando as mãos nas mesmas negras e afiadas pedras, serei eu mesmo e cada um de nós. E todos seremos um. Unidos na certeza dum tempo de partilha a clamar liberdade. Quando regressar, voltarei ao meu quarto. Abrirei de novo as janelas de par em par e voltarei a ver-te, negra silhueta que me invade e me acalma. O meu lado telúrico despede-se. Sobre ti, uma estrela brilhará com redobrado fulgor. E então, de olhos cerrados, sussurrarei ao vento o nome de Sálvio Nora.


(Obrigado, José Moutinho, pelo convite)

Joaquim Margarido