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sábado, 30 de agosto de 2008

Um Cartaz no "Alfarrabista"

Curiosamente, uma pesquisa no Google com a entrada "Meia Maratona de S. João das Lampas" levou-me ao cartaz da 12ª Edição. Foi há 20 anos.

Há muito, muito tempo, era eu uma criança...


SDUA: Cartazes

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Recordando a 31ª Meia Maratona de S.J.Lampas

Estou a rever algumas fotos da 31ª Meia Maratona de S. João das Lampas e a tentar mostrar-vos. Com efeitos especiais e tudo ! Se conseguir, dou por bem empregue o tempo, pois transmiti alguma coisa. Se não conseguir, vou ter de fazer uma formaçãozinha. Mas tenho cá uma fé, que desta vez vai dar.


segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sintra Desportivo


Eh pá!

Acho que estou a ficar famoso, eheheh.

O quinzenário Sintra Desportivo publicou, no seu último número, uma entrevista que me foi feita pelo seu Director e amigo, Ventura Saraiva, acerca dos "planos" para a 32ª Meia Maratona de S. João das Lampas a realizar no próximo dia 13 de Setembro.

Tudo muito certo. O que eu não estava à espera era de uma foto logo no cabeçalho da 1ª página!

Um grande bem haja ao Sintra Desportivo.


Diz assim :


“Uma centena de voluntários garante o êxito da prova”


No sábado, 13 de Setembro pelas 17,00 horas, realiza-se a 32.ª edição da Meia Maratona de São João das Lampas, a segunda mais antiga prova do género que se realiza em Portugal. Ao longo destas três décadas existem ainda dois sobreviventes da organização de 1977, Fernando Andrade e António Manuel Tomé. Nos últimos anos, como forma de proporcionar a participação de outras pessoas, foi criada a “Mini Maratona” que vai na 5.ª edição e não tem intuitos competitivos, ou seja, podem participar pessoas de todas as idades, desde que estejam aptas a cumprir os 5.600 metros do percurso definido para o efeito, seja, a caminhar, conversar, marchar ou até em corrida.“Temos uma equipa formada à volta de cem voluntários que garante o êxito da prova” confessa ao Sintra Desportivo, Fernando Andrade, o grande dinamizador da corrida desde o seu início.

Uma entrevista para acompanhar na íntegra na edição em papel do Sintra Desportivo desde 5.ª feira (21/8) nos locais habituais de leitura em todo o concelho de Sintra.

domingo, 24 de agosto de 2008

O Samuel

Samuel Wansiru - o "voador"




O Samuel é um “chavalo” que hoje tem 21 anos, e que, desde muito cedo, se habituou a correr quilómetros e quilómetros lá pelos campos do corno de África.
Há cerca de 2 anos, na Holanda , ainda com idade de júnior, cometeu a proeza de bater o record do Mundo da Meia Maratona !
Agora, em Pequim, bateu , em quase 3 minutos, o Record Olímpico da Maratona, de que o nosso Carlos Lopes foi detentor durante 24 anos!
Refiro-me apenas a dois espectaculares feitos do Samuel só para dizer que isso nunca teria sido possível se ele tivesse nascido em Portugal, onde um junior, não pode ter a “veleidade” de querer correr uma meia maratona!
Entretanto, os resultados do nosso fundo e meio fundo, estão mesmo... a bater no fundo.
Talvez o Samuel faça reabrir o “dossiê” da discussão em volta do tema.
Se se provar que é a saúde do jovem atleta que corre riscos, então, que fique tudo como está. Mas o que parece claro é que esta teimosa interdição dos jovens em participar em provas com mais de 10 Km, impossibilita o aparecimento de novos valores na maratona.
De ambos os lados da questão sei que existem sérias convicções, mas o que é visível é que no tempo de vigência desta lei , o “fundista” português é uma espécie em vias de extinção. Pode ser só coincidência, mas custava tentar ?

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Vanessa e Alta Competição

Já se esperaria alguma polémica em torno das declarações da Vanessa. Não devemos, no entanto, esquecer-nos de que elas são consequência de outras, essas sim, infelizes, de alguns atletas ( a do Marco Fortes ficará na história).

O empolamento dos media já preparava terreno para uma grande polémica em torno deste suposto “fracasso”olímpico. “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Valeu o excelente salto do Nelson para nos restituir o orgulho nacional e melhorar o aspecto do "subnutrido" medalheiro luso.

Voltando às declarações da Vanessa, penso que ninguém tem dúvidas de que ela é uma lutadora. Poderá haver quem pense que ela falou “de barriga cheia” mas será que foi despropositado “ter posto um ponto de ordem à mesa”, face a declarações pouco dignificantes para os atletas, que já tinham sido proferidas?

Diz –se que um minuto e tal de atraso em relação à primeira, deu-lhe prata, e o Bruno Pais, com um minuto e tal do primeiro, ficou em 17º. Logo, fosse idêntica a concorrência no sector feminino e a Vanessa teria vindo de mãos a abanar.

Mas isso não foi por falta de combatividade da Vanessa e ela própria elogiou o desempenho do Bruno e do Duarte. Lembremos que a Snowsill, durante o ano, poupou-se claramente para estar no pico de forma nos JO, enquanto a Vanessa, foi mais do género de ir a todas (aqui sim, haverá matéria para uma discussão sobre os critérios de exigência que lhe foram infligidos), para consolidar a sua posição no ranking.

Como ninguém é de ferro, os sinais de desgaste surgiram e, logo que ela se apercebeu que a australiana saiu “disparada” sem que ela tivesse forças para reagir, viu que tinha pela frente 10 km “intermináveis” para defender o 2º lugar. Fê-lo, controlando conforme podia, com garra, acreditando sempre.

Em suma, o que a Vanessa disse não foi nada que não aplicasse a si própria. Que o estatuto de “alta competição” implica responsabilidade e entrega, o que não era compatível com as declarações – ainda que empoladas - que outros atletas tinham proferido.

Quanto ao “desporto-lazer”, bem… nesse, até eu alinho !

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Ele saltou "Mais longe"...

Grande Nelson Évora

Ao conquistares o ouro com uns esmagadores 17,67, restituiste o orgulho nacional a toda esta gente que já estava a peparar-se para se lançar numa polémica estéril sobre esforço e merecimento (...ou nem uma coisa nem outra).


Obrigado.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

"É bué da bonita"





Foi assim que, depois de um olhar emocionado e contemplativo para aquele disco reluzente que segurava nas mãos, Vanessa se expressou. O mundo inteiro viu como ela deu conta do recado, sabendo ultrapassar com grande espírito de sofrimento, aqueles momentos terríveis com que o comum dos mortais teria claudicado.
No segmento de corrida, a australiana Emma Snowsil arrancou imparável para o ouro e a prata estava a escapar-se. A máscara de esforço da Vanessa contrastava com a da serenidade a que ela nos habituou. Ia ser muito difícil segurar o 2º lugar ao longo de 10 km! Só uma lutadora não entregaria os pontos. Como diria o grande Poeta, ela sabia que era muito mais que ela : eram 10 milhões que nela se reviam e que ela não queria defraudar.
E, com a maior das bravuras, conseguiu!
Obrigado Vanessa. Valeu a pena ter ficado acordado até às 5 da manhã, para assistir, em directo, a este feito histórico: Medalha Olímpica de Prata (dourada!).
É mesmo “bué da bonita” !

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Spiridon

Foi com satisfação que, ao folhear o último número da Revista Spiridon, li uma simpática referência ao “cidadaodecorrida”, este espaçozito da blogosfera que vou partilhando com todos aqueles e aquelas que o visitam. É uma honra muito grande ter sido notado pela pioneira das revistas dedicadas à corrida em Portugal.
Uma revista que me ensinou os primeiros conceitos de corrida de fundo e em que eram (e continuam a ser) esclarecidas as dúvidas de quem abraçava uma modalidade em franca expansão. Foi a Spiridon que me “contagiou” com o bichinho das grandes distâncias e me levou a experimentar a minha primeira maratona no Autódromo do Estoril, em Dezembro de 1983. Lembro-me bem que se tinham de dar oito voltas e meia ao circuito (em cada volta entregávamos um talão de controlo). 3h 3m! Nunca mais consegui bater este tempo. Lembro-me também das palavras do Prof. Mário Machado, de magafone em punho, à chegada : “- ...e agora, chega o homem da Meia Maratona de S. João das Lampas, que já é maratonista !” Esta frase (de que ninguém se lembra, pois só eu lhe dei uma importância muito grande) ficou associada à minha “gloriosa” entrada na mítica distância da Maratona. Faz em Dezembro 25 anos !
Deixo aqui uma nota de agradecimento ao Professor pela referência ao blogue e pela sua entrega a um projecto editorial com 3 décadas e que tão importante tem sido para a Corrida em Portugal.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Ainda o Raide...

Uns dez dias antes desta grande Prova...

Já estava escrito :


Tanta areia iremos ter p‘la frente!
Tanta hora a correr …ou caminhar!
Tanto esforço, debaixo de um sol quente
E tão grande o desejo de chegar!
Ando eu "metido" com esta brava gente,
Logo eu que nem cuidei de me treinar;
Armo-me em raider ou mais forte ainda
E hei-de fazer uma figura “linda” !


Ei-la...





No Carvalhal (28,5km)...
... e após 6,27,32 ... o que eu passei p'raqui chegar...










terça-feira, 5 de agosto de 2008

Raide Melides-Tróia 2008 - Conclusão

As grandes lições a tirar

1 –Esta é óbvia: Sem treinos adequados, em ambientes idênticos, não pode esperar-se grande desempenho. Estive no Raide, sabendo disso, mas tendo presente que não poderia apontar para grandes objectivos. Concluí-lo, dentro do tempo que nos era dado, satisfazia-me perfeitamente Estive lá porque, desde a primeira vez, lhe reconheço características que ainda não encontrei noutras provas. “Puxa” muito por nós e ajuda a “descobrir-nos”.

2 – Protector solar : num dia cheio de sol, como este, foi fundamental a aplicação de protector . Sem ele, hoje estaria “bem passado”.

3 - Calçado: tem sido uma preocupação constante. Livremente, a Organização deixa que cada um leve o calçado que entender, mas com muita frequência, se chega à conclusão que não se tomou a opção certa. Que o digam os/as socorristas da Cruz Vermelha, a quem não faltou pés com bolhas para tratar. No meu caso, as meias de neoprene que usei se, por um lado, tiveram a grande vantagem de não permitir a entrada de areia, por outro, para quem não está habituado a correr descalço, sentiria a falta de protecção na planta do pé e os impactos, às tantas, começavam a incomodar. A água que entra, se, de vez em quando, a tirar-mos, não é o problema, mas acho que não voltarei a usar. No final, enquanto não troquei de calçado, estava aflito dos pés, principalmente do esquerdo , que foi o que “aguentou” com maior carga. Quando as tirei, tinha os pés branquinhos, que pareciam “mãos-de-vaca” prontas a cozinhar. No dia seguinte, senti dores onde habitualmente não sinto : tendão de aquiles, mas à direita ( ao contrário do que estava à espera).

3- Mochila : Acho que não volto a levá-la! Acabo por enchê-la de “coisas-que-podem-fazer-falta” e só servem para ir carregado. É desconfortável e, “aquece” muito as costas. Só é prática por causa do tubinho para bebermos água, mas ela aquece e fica sem graça nenhuma. Parece-me que o cinto é preferível, conclusão a que muita gente já chegou e que tem tirado bons resultados.


E a Organização?

Em termos de Organização não vi nada que possa ser desfavorável à atribuição de uma nota máxima. Um trabalho que já está “mecanizado” e que revela grande eficiência.Uma boa comunicação com os atletas e vê-se o cuidado que revela em ouvi-los, registando as observações que são feitas. Um bom acompanhamento durante a Prova (com moto-quatro), fazia-nos sentir em segurança. Cinco estrelas.

O único reparo que faço ( senão também não tinha graça ) é o fazerem-nos ir buscar o lanche lá looooooonge. Para ser franco, eu estava disposto a abdicar do lanche, por um naco de melancia, mas como calhava em caminho para apanhar o barco, lá fui. Já não deu foi para voltar para trás e assistir à entrega dos prémios. E não foi que não tivesse tempo, pois fartei-me de esperar pelo barco.

Só mais uma coisinha : andaram, andaram e retiraram por completo o nome de Raide (que em 2007 ainda mantiveram como subtítulo). Mas a mim... não me "apanham" a dar-lhe outro nome.

Falta só enviar um forte abraço a toda a Organização e felicitá-la por mais um grande sucesso.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Raide Melides-Tróia 2008

Saio de casa às 4,30 da matina e, por via das dúvidas, tratei de tomar um pequeno almoço antecipado, constituído pelo leite e cereais, que é aquilo a que estou acostumado.
No carro já tinha colocado aquilo que, no meu entendimento, poderia vir a fazer falta.
Arranco, rumo a Setúbal, onde – sem necessitar de ultrapassar os limites de velocidade – cheguei às 5,45. O barco seria às 6,15. Curiosamente, já havia por ali raiders. Não precisamos de os conhecer para “tirá-los pela pinta”. Mas logo a seguir, começa a chegar um bem conhecido: o Zen, depois o Pina, depois o Antunes, o Vitor Silva, o Zé Martins, o Jorge Pereira, a Analice e, de repente, tudo nos era familiar. Fiquei com a sensação que aquele viajem de barco, seria exclusivamente para “mártires” que encontrariam a “glória paradisíaca” nas areias do lado de lá do rio.
No barco, o Antunes faz, em primeira mão, a apresentação de um protótipo de calçado adaptado às areias, a merecer a atenção de um fabricante (deu cabo de uns Nike “qualquer coisa” recortando a parte de frente e substituindo-a por uma fita de velcro. A água (e a areia) entrava, mas sairia da mesma forma, mantendo o pé sempre confortável. Vim a saber que a “costura” é que precisa ser reforçada, para que a fita não ande ali a dar-a-dar e, às tantas, obrigue... “ao mergulho” involuntário.
Enquanto ouvia as estórias do Jorge Pereira, sobre as caimbras e das aventuras na Geira, olho de relance e vejo o Zé Martins, sentado, de olhos fechados, costas muito direitas, em pose de yoga, certamente numa meditação que o ajudasse a enfrentar este desafio.
Ah, ainda tive o prazer de conhecer o Tiago Martins, que viria a revelar-se a grande revelação das areias.
Chegámos à outra banda: um cais novo que, a partir de 15 de Setembro –e por força dos interesses imobiliários em presença, passará a acolher a “plebe” libertando a zona nobre da península para os “donos do mundo”, substituindo o antigo.
2 Autocarros à nossa espera, e lá vamos nós para Melides.
Quando chegámos, já lá estavam bastantes amigos nossos (que dispunham de condutor para levar as viaturas para Tróia: O João Hébil e a sua “armada” da Atlas Kopco-Madrid (Ricardo, Eduardo e Roberto), o Fernando Alves e o Luis Oliveira, que preparam intensamente a sua participação no Madeira Island Ultras Trail; o Eduardo Santos, o Tigre , a Margarida e a Yolanda .
Um cafezinho e um queque, numa das roulotes que substituiram o antigo café e encaminho-me para o Secretariado, onde assinei o termo de responsabilidade, levantei o meu dorsal e me deram uma garrafa de água, uns cubos de marmelada e mais umas coisitas que levei, mas que ainda não sei o que eram.
Vou equipar-me . Passo um protector pela pele e vejo que, de tanta tralha que levei, não precisava de 80%! E o saco que entreguei à Organização para me ser devolvido em Tróia, pesava que se fartava.
A grande novidade no meu equipamento era no calçado . Resolvi utilizar umas meias de mergulho. Tinha feito alguns treinos com elas e sabia que entrava a água, mas não a areia. E a água tirava-se com facilidade e não magoava os pés. Receava apenas que a ausênc ia de protecção da planta do pé, me obrigasse a um esforço a que não estava devidamente adaptado. Apenas tinha feito treinos de uma hora com elas e esse, era o único senão que me retirava alguma confiança. Decidi na hora : ou fazia a experiência ou fazia como nos anos anteriores já sabendo que, volta e meia, tinha de descalçar os ténis para tirar a areia. Optei pela primeira.
Ouvimos umas palavrinhas da Drª Margarida Moreno, Directora da Prova e encaminhámo-nos para o local da partida.
..../...




A Partida. Eu estou lá para trás...


Ouviu-se um “estalo” e puseram-se em marcha os 164 raiders, onde estavam incluídas 14 mulheres “que os têm no sítio” .
Prudentemente, parti atrás. Estava com o João Hébil, quando “tudo” começou.
Havia que encontrar a passada certa, pelo que os primeiros metros eram de experimentação. Logo a seguir, vemos que uns vão pela esquerda, pela “pista húmida”, outros seguem em frente, pela “pista superior” . Entendemos seguir cá por cima, evitando a forte inclinação.

“JÁ O FIZ ! SÓ VOS DIGO ISTO : HERÓIS!”

Era com esta frase, toscamente escrita a castanho numa velha placa de madeira prensada, que um pescador que ali estava, incentivava este grupo de aventureiros. “Herói” é forte de mais, mas que nos faz bem ao ego...!

Vi que não tinha pernas para acompanhar o João, que, entretanto, optou por descer. Ao ver que ele se distanciava, ainda pensei que fosse por ser mais fácil correr na areia molhada. Passado o primeiro quarto de hora de corrida, entendi correr junto à água.
As distâncias entre os atletas iam crescendo e as nossas “referências” passavam a ser a côr dos equipamentos : o laranja era o Zen, o branco e preto era o Vitor Silva (ambos teimavam em correr na “pista superior” e, pelos vistos, a darem-se bem) o amarelo era o João Hébil e o Eduardo Esteves (que tinha a bandeira espanhola na mochila), o verde era o Tigre. Vim “na peugada dele” !
Desta vez, sabia que não iria ser apanhado pela Analice, pois, “estrategicamente”, parti atrás dela e... nunca mais a vi.
A primeira bandeirinha, dos 5,5 km, só aos 44 minutos é que apareceu. A “coisa“ prometia !
Uma hora de corrida. Era tempo de tirar a água das “botas”: sento-me na areia, “alço a perninha” e, com as mãos alargo o “cano” de neoprene e, só pela gravidade, a água saía. Vinha quente. Pensei cá para comigo que, quando chegasse ao fim, teria os pés cozidos. Continuei em passo de corrida durante mais uma hora. Era um passo fraquinho com que me ultrapassavam facilmente.
À passagem da 2ª hora (teria feito pouco mais de 10 km) volto a tirar a água. Aí, como já tinha passado por alguns que vinham a passo, fui contagiado e pus-me também a andar, na esperança de que a vontade de correr voltasse depressa. A primeira tentativa, após 20minutos, falhou ! Um jovem do norte, equipado de vermelho, vinha também a passo, com os pés cheios de areia e trazia unicamente uma garrafinha na mão, já com pouca água. Aconselhei-o a tirar a areia dos pés para não os ferir e ofereci-lhe o meu apoio para essa operação. Não quis, mas tenho a certeza de que viria a fazê-lo mais tarde, pois só estava feito pouco mais de um quarto da prova.
O sol, impiedoso, batia forte, projectando na areia toda a minha sombra em menos de um metro. Apesar de ter tido a precaução da aplicar protector principalmente nas partes (nas partes?) mais expostas, começava a sentir alguns ameaços de escaldão. Felizmente, não passou de ameaços
Nisto, aproximam-se duas atletas : a Tânia Machado e a Rita Carrola, da Açoreana-Banif, minhas colegas de equipa. Diz a Tânia :- “para o ano é umas coisas dessas que eu trago!” referindo-se ao meu calçado. De imediato lhe disse que não era grande coisa, pois deixava entrar a água. Aproveitando a passagem da motoquatro da organização, ela pediu para lhe levarem os tenis e optou por correr descalça. E lá foram as duas continuando sempre a ganhar terreno.
Às 3 horas de prova, sou ultrapassado por um atleta que vinha num passo que era uma “desgraça”, mas mantinha-se em corrida e a verdade é que em 5 minutos deixei de o ver ! Pensei então, que era muito importante manter um passo de corrida. Lembrei-me daquela máxima acerca do sorriso : “corre ainda que o teu passo seja triste, porque mais triste que o teu passo triste, é a tristeza de não saber correr”! E pus-me a dar à perna. A pouco e pouco, vou ganhando um ritmo aceitável e até vou ganhando posições.
28,5km. Vinha bem. Aceito as duas garrafinhas de água, bem mais fresquinha que a da mochila, e, com sofreguidão, não resisti a uns bons goles. Asneira. Lá vem a náusea e o desconforto e tive de me pôr a passo outra vez, à espera de melhores momentos.
Passa o José Valentim, que me convida a segui-lo, mas não fui capaz. Mas dali a bocado, recomecei e apanhei-o. Estava ele, entusiasmado a olhar o mar e disse-me:
-Oh Andrade, olha p’r ali ! Não vês uma baleia ? Olha! Olha! – e fazia-me seguir com os olhos a direcção que ele apontava com o dedo.
-Onde?
-Ali, ali, oh,oh!!!
Eu não podia parar. Ia saltitando, tentando, ao mesmo tempo, descortinar a baleia que ele dizia que ali estava.
Às tantas, digo-lhe : - Ãh,ãh! Iiiiiiiiii...
Não tinha visto nada, mas a verdade é que se parasse, sabia lá quando é que voltaria a ter vontade de correr!?
Sei que é feio o que disse, mas, dadas as circunstâncias, o Zé Valentim, grande amigo das grandes jornadas, vai-me perdoar ter “concordado” só para me despachar.
Hoje, no jornal, vi a notícia : “Tubarão-Frade assusta costa alentejana” ! E trazia a fotografia do bicho, a poucos metros dos banhistas de uma das praias por onde passámos, por volta da hora do almoço.

.../...

Fui novamente alcançado pelo Valentim e ele aconselhou-me a não ir a passo; para tentar encontrar uma marcha que nem seja a andar nem a correr. Dei-lhe razão e viemos os dois alguns quilómetros, quando ele me disse para eu continuar que ele já não conseguia. Tentei dar-lhe o mesmo conselho que ele me dera, mas não resultou. Pôs-se a passo e eu contava que me acontecesse o mesmo lá mais para a frente.
Uma senhora vinha a caminhar, em sentido contrário e diz-me : -“Vá já falta pouco, que eu saí de lá!”- O que ela não disse foi a que horas saíu, pois não se viam sinais da meta! Quando vejo o pórtico branco da meta lá longe, já me custava a acreditar. Só depois da última curva é que me certifico de que aquilo era mesmo o “ponto final” desta longa caminhada.
Entro na areia solta. Naqueles 50m de areia que eram a “passadeira da glória”. 6.27.32!
Alguém agachado junto ao pórtico, aplaudia mais vibrantemente a minha chegada. Era o Rui Lacerda! Apetecia-me “entrar” com ele, dizendo com uma “vozinha de vodafone desgastada” : “ontem à noite, Ãin !?” mas muito mais desgastado que a voz, estava todo eu!
Em vez de andar, cambaleava. As pernas não obedeciam. A tenda da Cruz Vermelha tinha “clientela” com fartura: uns faziam massagens, outros tratavam das caimbras e das bolhas dos pés (tás bom Jorge?!). Recebo o saco e vou direitinho à tenda, para me sentar e refrescar com a soborosíssima melancia e o saborosíssimo melão e a saborosíssima sombra e o apetecidíssimo repouso.

Ahhhhh! “Bendita a fruta da vossa tenda! De truz!”

domingo, 3 de agosto de 2008

Raide Melides-Tróia 2008


O período PR (Pós Raide) imediato, é pouco amigo de incentivar à escrita quem nele participou. Quero contar tudo aquilo que conseguir lembrar-me. Mas hoje, sinto-me cansado e falho de muitas qualidades. Amanhã, farei uma tentativa. Deixo apenas o testemunho da minha pior marca dos 4 Raides, mas que é também, uma grande vitória (como os políticos, que ganham sempre...!) Volto Já!