Foi giro! Dou por bem empregue o
facto de me ter inscrito e participado nesta Prova , cujo “defeito-mor” está no
nome que lhe deram : Run Sintra Trail By Night , blhaaaac…! Porque raio hão-de
dar àquilo que é tão português, nomes estrangeiros, como se fosse essa a via
para uma eventual internacionalização do evento!? Sintra não fica mais bela
porque é descrita em inglês. Sintra é bela porque é bela. Quem for inglês, que
fale dela em inglês com a simplicidade ou com o talento que cada um tenha. Percebe-se
que Lord Byron tenha dito de Sintra o que disse na língua que conhecia, mas
jamais se perceberia que Eça o tivesse feito sem ser em português.
Mas deixemo-nos destas questões e
vamos a esta fabulosa Corrida, que me
levou a sítios por onde, vergonhosamente, nunca tinha andado. Disse “vergonhosamente”,
porque sou de Sintra! O traçado, embora anunciado, deixei propositadamente, que fosse surpresa:
Saída do Palácio da Vila, Volta do Duche, Rio do Porto, Escadinhas do Hospital,
Largo da Vila e… a partir daí, junto ao Café Paris, penetrámos naquela Sintra invisível
por quem não a percorre a pé (ruas estreitas, em calçada, com arcadas, com
escadinhas, esquinas e mais esquinas, pequenos pátios); Estrada dos Seteais,
entrada para a Quinta da Regaleira, com os seus imponentes jardins que, mesmo à
luz ténue dos frontais dos atletas, deixava adivinhar os seus encantos meio
escondidos pelos muros altos que a cercam. Aí, naquele serpentear de caminhos
pedonais, que atravessavam riachos por pequenas pontes de madeira e sempre na
presença do murmúrio das águas, assistiu-se a alguma confusão que, para aqueles
que tinham mais espírito competitivo, foi uma enorme desilusão : as voltas
estavam a sair repetidas, os da frente misturavam-se com os do meio e às tantas já ninguém sabia que rumo tomar,
até que um elemento da organização, rompe uma das fitas balizadoras e dá uma
indicação alternativa para que pudéssemos prosseguir. Passámos depois por um túnel escavado na rocha, que nos conduzia ao fundo do famoso Poço Iniciático, que
ostentava o desenho de uma estrela octogonal e ao centro, um archote aceso a
chamar a atenção. Subimos a escada em espiral contemplando os diversos nichos –
cada um com o seu archote - marcando os
níveis . Chegados lá acima, continuámos a correr saindo dali. Penetrámos num
trilho da Serra, por vezes enlameado, mas com um cheirinho a eucalipto agradável
e penetrante que, a acreditar nos velhinhos xaropes caseiros que se fazia com estas
folhas, certamente terá ajudado a “abrir” as vias respiratórias. Apetecia
gritar : AR PURO! Entrámos no alcatrão da
Rampa da Pena, num pequeno troço comum ao GP Fim da Europa e depois, por uma
pequena porta aberta numa espécie de contentor entrámos no Parque da Pena, onde,
por diversas vezes encontrámos árvores caídas atravessadas no trilho. Ora
saltávamos, ora passávamos por baixo, sempre atentos ao piso escorregadio que
aqui e ali encontrávamos. Às tantas estávamos a entrar no Castelo dos Mouros, que
percorremos com atenção aos inúmeros degraus e às irregularidades do percurso,
o que nos impedia de contemplar, de lá de cima, a vista enorme que dali se
tinha : Uma espécie de firmamento terreno estrelado, era o aspecto das terras planas que se
estendem a norte da serra. Mas o momento não era para contemplações e havia que
continuar.
Descemos, depois para S. Pedro e
aí entrámos na zona urbana, onde já era possível correr até à meta instalada no
Parque da Liberdade, no antigo ringue de patinagem, onde o chazinho quente e as
bolachas Maria (seus malandros, anunciaram chazinho em chávena e bolachinhas
recheadas e deram-nos chá em copo de plástico e bolacha Maria!!iol) estavam à
nossa espera.
Soube há pouco que demorei 1,27,02 a fazer a Prova, ou melhor, a minha
prova (pois aquela confusão na Quinta da Regaleira fez com que nem todos tenham
feito o mesmo percurso) e classifiquei-me na 128ª posição da geral e 6º do escalão M50.
Comentários: Foi uma excelente
experiência em que apenas lamento a confusão na Quinta da Regaleira. Permito-me apenas, fazer uma sugestão : Dado
o volume de atletas, seria sempre de escolher um percurso inicial largo,
durante cerca de 3Km para permitir que o pelotão “esticasse” de acordo com os
andamentos de cada atleta. Só depois se poderia entrar naquelas ruas e escadas
estreitinhas, por onde só pode passar um de cada vez. Por isso, não teria
utilizado as escadas para o Rio do Porto, a pouco mais de 500 metros da partida.
Havia a possibilidade de utilizar a estrada que passa junto aos Paços do
Concelho e que também conduziriam à Escadinha do Hospital, onde uma nova “selecção”
colocaria os atletas nas respectivas posições. O que se passou na Quinta da
Regaleira, não passou de um acidente de percurso. Não nos esqueçamos que, numa
prova desta natureza, quem vai à frente é tentado a seguir o caminho óbvio, quando,
muitas vezes, é necessário “arrepiar caminho” estando sempre atento aos sinais
reflectores. Se isso não acontece, os que vão atrás, confiam e seguem os passos
de quem já vai enganado. Depois…acontece.
Sublinho, no entanto, que o
espírito das provas de trilhos, não deve ser tão competitivo quanto as
clássicas provas de estrada, mas sim participativo e de forma a que cada um, “saboreie”
melhor o cenário envolvente, conhecendo sítios que, de outra forma jamais
conheceria. Isso vale muito mais que chegar nos primeiros lugares.
Quando voltar a haver esta prova,
estarei lá! AH…mas, por favor mudem-lhe o nome e escolham uma data mais primaveril.
(ver se arranjo umas fotos...)
3 comentários:
Caramba!
Que tortura!
Eu para aqui parado, a ver se recupero umas peças avariadas, e leio uma descrição, absolutamente fabulosa, de uma prova que me parece ser de sonho!
Aqui está uma prova que muito gostaria de fazer se o esqueleto voltar a ter condições e se conseguir ultrapassar os problemas logísticos e económicos que uma prova realizada em Sintra de noite acarretam para mim.
Totalmente de acordo quanto ao nome da prova e ao uso do Inglês.
Um pequena sugestão: o corpo, ou tipo de letra, usado no texto parece-me algo pequeno e, pelo menos a mim, torna-se algo cansativa a sua leitura. Se calhar é defeito meu que alem de ser uma "Raposa Manca" sou, igualmente, uma "Raposa Pitosga""! Forte abraço.
Deve ter sido espectacular.
Obrigada pela sua descrição, desta forma senti quase que estive lá.
Boas corridas!
Obrigado, Jorge. Faço votos para que "isso" recupere rápido e não perca a esperança de penetrar nas entranhas da Serra, mesmo numa noite gelada como a de ontem. Quanto ao tamanho da letra, vou ver se consigo escolher um tamanho maiorzito.
Grande abraço.
Obrigado Isa. Pode crer que foi mesmo espectacular. Basta que a organização lime umas arestas. Mas quem ia para apreciar o percurso, esteve-se borrifando para as falhas da organização. O mais importante é que as críticas não desanimem quem nos proporcionou este belo evento.
Beijinho.
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