Uma brisa suave e fresquinha vinda da frente, temperava os efeitos escaldantes do sol que dava nas costas.
A um ritmo crescente, demos por nós a fazer 6,05/Km, o que excedia largamente as previsões e nos fazia recear vir a “pagar a factura” lá mais para a frente. Abrandámos e fomos “segurando a coisa” nos 6,30-6,45/km . É que o piso era bom e a tentação de responder ao facilitismo era grande. Passa a Rute com o Luís Parro quando estavam percorridos cerca de 10 Km . Vinham bastante bem e rapidamente “desapareceram”.
Fui ver o que se passava com a mochila. Não descobri a anomalia, mas a água que tinha já era pouca. Numa das Praias lá estava o Zen a incentivar a malta… e que bem sabe uma palavrinha de apoio. Também o meu colega de equipa, André Quarenta, me foi dar uma “forcinha” ( e até nos tirou uma foto).
Perto dos 28km, o João começou a ficar para trás. No abastecimento (28,50Km) apenas aceitei uma garrafa de água, pois na outra mão levava uma de Isostar. Seria suficiente. Vou ao tubo para um golinho de água e… só bolhas. Tou feito! E eu que só trouxe uma garrafa! Estava condenado a poupá-la.
Noto que nos vamos aproximando do Luís Parro, que, entretanto já vinha sozinho, e passámo-lo durante uma “paragem para libertação de líquidos”.
À medida que a distância ia sendo percorrida, notava-se a necessidade de apelar cada vez mais à concentração. Olhos em frente, a pala do chapéu, fazia-me pensar que me aproximava de qualquer coisa por onde passaria por baixo. Levantava a cabeça e era apenas o céu que me tapava. Do lado esquerdo, o mar, calmo e suave, convidava a uma banhoca. Não podia ser. Diz o Jorge : - Olha, já estamos a andar a mais de 7,30! Eu bem te dizia que, há bocado íamos muito depressa!
Fizemos umas continhas: se mantivéssemos assim, chegaríamos dentro das 5h, o que não era nada mau. O importante era ir resistindo à tentação de nos pormos a passo, dizia eu.
Só o facto de estar a pôr essa hipótese, já era indicador de que poderia claudicar. Na altura, o Adelino tinha-se juntado a mim e ao Jorge e eu fiquei impressionado com a sua prestação, pois as várias vezes que ele se tinha aproximado e deixado ficar para trás, fazia-me pensar que estaria a desgastar-se em demasia. Mas não! Grande Adelino, ele aí estava para as curvas, quando já passava dos 35km.
De repente, “trau”! um impulso qualquer descontrolado, pôs-me a passo! Ui… doía-me tudo: as ancas, os joelhos, os tornozelos… Não conseguia andar. E, nestas coisas, andar a passo pode compensar, desde que se consiga andar rápido. Como era possível? Se a correr, embora lento, ia bem, sem qualquer tipo de dor, como é que a marcha me era tão desagradável? Arrependi-me de me ter posto a passo, mas não encontrava ânimo para recomeçar a correr. Vêm depois umas náuseas. Atentos, aparecem logo elementos da organização, em moto-4, perguntando-me se era preciso alguma coisa, se estava tudo bem. -Não, obrigado. Já passa! –disse eu! –Então dê cá o lixo, escusa de ir carregado! – Nem tinha reparado que andava com duas garrafas vazias nas mãos.
Vou à mochila buscar uma peça de fruta e depois outra e vou andando e comendo. Vários são os atletas que passam por mim: José Martins, Luís Parro e outros. Passa também o António Almeida : -“Vamos embora, Fernando !Neste passinho assim …curto, acha que não consegue!? “-Ainda não, António! Siga,siga, que eu, já recomeço!”
Não sabia quantas eram as curvas que faltavam para avistar a Meta, mas sabia que faltariam, talvez, 3Km. Deixa cá experimentar a correr novamente: Em cerca de 50 metros, encontrei o ritmo e parecia-me que ia bem. Pensei logo que devia ter recomeçado há mais tempo, mas pronto. Recupero algumas posições entretanto perdidas, volto a passar pelo António e, lá longe, avisto o pórtico amarelo da Meta. O objectivo estava à vista! Agora nada me faria parar. O ânimo regressa e acho, até que aumentei o andamento, chegando ao final com 5,24!
O prémio, os Parabéns, a descompressão naquela tenda “abençoada” onde tabuleiros com melão, melancia, uva, faziam as delícias daquela gente que “tão mal tinha tratado o corpo” naquelas últimas horas. Misteriosamente, a glória de chegar, mesmo que ainda doridos pelo esforço, sublima-nos para uma dimensão diferente. Quanto mais difícil o caminho, mais saborosa é a vitória.
Cá por mim, já vão cinco! E só quando não puder mesmo é que não estarei lá.
A um ritmo crescente, demos por nós a fazer 6,05/Km, o que excedia largamente as previsões e nos fazia recear vir a “pagar a factura” lá mais para a frente. Abrandámos e fomos “segurando a coisa” nos 6,30-6,45/km . É que o piso era bom e a tentação de responder ao facilitismo era grande. Passa a Rute com o Luís Parro quando estavam percorridos cerca de 10 Km . Vinham bastante bem e rapidamente “desapareceram”.
Fui ver o que se passava com a mochila. Não descobri a anomalia, mas a água que tinha já era pouca. Numa das Praias lá estava o Zen a incentivar a malta… e que bem sabe uma palavrinha de apoio. Também o meu colega de equipa, André Quarenta, me foi dar uma “forcinha” ( e até nos tirou uma foto).
Perto dos 28km, o João começou a ficar para trás. No abastecimento (28,50Km) apenas aceitei uma garrafa de água, pois na outra mão levava uma de Isostar. Seria suficiente. Vou ao tubo para um golinho de água e… só bolhas. Tou feito! E eu que só trouxe uma garrafa! Estava condenado a poupá-la.
Noto que nos vamos aproximando do Luís Parro, que, entretanto já vinha sozinho, e passámo-lo durante uma “paragem para libertação de líquidos”.
À medida que a distância ia sendo percorrida, notava-se a necessidade de apelar cada vez mais à concentração. Olhos em frente, a pala do chapéu, fazia-me pensar que me aproximava de qualquer coisa por onde passaria por baixo. Levantava a cabeça e era apenas o céu que me tapava. Do lado esquerdo, o mar, calmo e suave, convidava a uma banhoca. Não podia ser. Diz o Jorge : - Olha, já estamos a andar a mais de 7,30! Eu bem te dizia que, há bocado íamos muito depressa!
Fizemos umas continhas: se mantivéssemos assim, chegaríamos dentro das 5h, o que não era nada mau. O importante era ir resistindo à tentação de nos pormos a passo, dizia eu.
Só o facto de estar a pôr essa hipótese, já era indicador de que poderia claudicar. Na altura, o Adelino tinha-se juntado a mim e ao Jorge e eu fiquei impressionado com a sua prestação, pois as várias vezes que ele se tinha aproximado e deixado ficar para trás, fazia-me pensar que estaria a desgastar-se em demasia. Mas não! Grande Adelino, ele aí estava para as curvas, quando já passava dos 35km.
De repente, “trau”! um impulso qualquer descontrolado, pôs-me a passo! Ui… doía-me tudo: as ancas, os joelhos, os tornozelos… Não conseguia andar. E, nestas coisas, andar a passo pode compensar, desde que se consiga andar rápido. Como era possível? Se a correr, embora lento, ia bem, sem qualquer tipo de dor, como é que a marcha me era tão desagradável? Arrependi-me de me ter posto a passo, mas não encontrava ânimo para recomeçar a correr. Vêm depois umas náuseas. Atentos, aparecem logo elementos da organização, em moto-4, perguntando-me se era preciso alguma coisa, se estava tudo bem. -Não, obrigado. Já passa! –disse eu! –Então dê cá o lixo, escusa de ir carregado! – Nem tinha reparado que andava com duas garrafas vazias nas mãos.
Vou à mochila buscar uma peça de fruta e depois outra e vou andando e comendo. Vários são os atletas que passam por mim: José Martins, Luís Parro e outros. Passa também o António Almeida : -“Vamos embora, Fernando !Neste passinho assim …curto, acha que não consegue!? “-Ainda não, António! Siga,siga, que eu, já recomeço!”
Não sabia quantas eram as curvas que faltavam para avistar a Meta, mas sabia que faltariam, talvez, 3Km. Deixa cá experimentar a correr novamente: Em cerca de 50 metros, encontrei o ritmo e parecia-me que ia bem. Pensei logo que devia ter recomeçado há mais tempo, mas pronto. Recupero algumas posições entretanto perdidas, volto a passar pelo António e, lá longe, avisto o pórtico amarelo da Meta. O objectivo estava à vista! Agora nada me faria parar. O ânimo regressa e acho, até que aumentei o andamento, chegando ao final com 5,24!
O prémio, os Parabéns, a descompressão naquela tenda “abençoada” onde tabuleiros com melão, melancia, uva, faziam as delícias daquela gente que “tão mal tinha tratado o corpo” naquelas últimas horas. Misteriosamente, a glória de chegar, mesmo que ainda doridos pelo esforço, sublima-nos para uma dimensão diferente. Quanto mais difícil o caminho, mais saborosa é a vitória.
Cá por mim, já vão cinco! E só quando não puder mesmo é que não estarei lá.
11 comentários:
Excelente amigo Fernando, o feito e a história.
Cada um de nós lutou utilizando toda a sua capacidade física e mental, ali não há truques nem habilidades, é apenas a superação de um desafio que de vez em quando desartamos, sabe-se lá de onde.
A compensação é que no final olhamos para trás recordando aquela quase infindável e difícil corrida com a noção estranha do nível das capacidades a que somos capazes de nos submeter e vencê-las.
Agradeço as palavras elogiosas em relação ao meu comportamento, mas tive no vosso experiente grupo sempre um ponto de referência que me ajudou ao longo de todo o percurso, pena foi que quando lá cheguei (36kms) as pilhas tivessem acabado para o Fernando. Fica a admiração por teres arranjado ainda forças para venceres aqueles metros finais.
Um abraço.
Companheiro Fernando,
É mesmo isso:"Quanto mais difícil o caminho, mais saborosa é a vitória." Parabéns por mais este feito.
E estes relatos deixam-me com vontade de para o ano estar presente.
Um abraço.
---------\\\\|/---------
--------(@@)-------
-o--oO--(_)--Ooo-
Amigo Fernando o que dizer dessa prova, lendo o seu relato sei que foi dificil completa-la, mais vc fez dever de casa muito bem, meu parabéns pela brilhante prova amigo Ultramaratonista.
Um abraço,
Jorge Cerqueira
www.jmaratona.blogspot.com
e eu aqui sentado a ler o relato!
espero ter coragem para me juntar a vocês um dia.
Parabéns.
Um abraço.
Que maravilha de cenário. Imagino quantas dificuldades não venceu. Bela recordação. Parabéns!!!
Ele hà coisas...Essa altura em que fui "elevar a maré" foi o TWITLIGHTZONE. Todos passaram por mim, o ritmo perdeu-se e passei dos 6 para os 7, entretanto passa um simpático amigo de Mafra que me diz: Vamos embora apanhar aqueles 2, o da direita é o Fernando Andrade. Eu mandei-o ir e fiquei com o Jovem Martins que se deitou na água, preocupado fiquei ali a olhar para ele, depois passou o Helder Jorge e nunca mais vos vi.
Espanto meu quando vi o resultado, ou seja o Fernando tinha chegado 1º e estava atrás....mau,mau.
Conclusão, eu nem vos vi...tal como o Hélder Jorge também me pareceu "distante" quando o amávelmente cumprimentei. Francamente tenho a certeza que os não ultrapassei e não os vi chegar depois de mim...será que atravessei algum portal do tempo!!!!
Nunca deveria ter ido com a RUTE, foram 10 Km a -de 6, e depois foi o que se viu.
Nossa Fernando, parabéns pela prova.
Correr em local próprio já é complicado.
Correr uma maratona toda na aréia deve ser muito exaustiva.
Vc é realmente um fera nas corridas.
Parabéns novamente.
Abraços.
tutta
ubiratã-pr.
www.correndocorridas.blogspot.com
Fernando, muitos parabéns!
Um dia ainda hei-de alinhar ao seu lado nesta prova! Estou a referir-me à linha de partida, claro.
Um beijinho
Ana
Parabéns, Fernando. Quem termina é sempre herói aí.
Abraço
Até S. João.
Amigo Fernando,
Parabéns por mais esta prova para o seu longo historial.
Parabéns, também, pelo relato.
Abraço
José Alberto
Ao ler diversos relatos desta ultra, não pude deixar de notar que a "loucura" parece ser proporcional à idade, ou seja, quanto mais velhos mais "loucos"!!! Continuem a perseverar nesta saudável "loucura" que envergonha as gerações mais novas, cada vez mais sedentárias e inertes.
Perdoe-me a ousadia mas não podia deixar de passar por aqui sem expressar a minha admiração pela façanha de completar tão duros kms.
Ah, gostei também do anacrónimo:
U(ltra)
M(aratona)
A(tlântica)
Para o ano, quiçá, também me encontre por lá (pelo menos à partida!!!).
Cumps
RM
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