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terça-feira, 30 de julho de 2013

UMA 2013 - A nona




UMA 2013
Muito gostava eu de vos contar o que ontem vivi naquele interminável areal entre Melides e Tróia, mas só sei que irá haver uma grande diferença entre o que aconteceu e aquilo que agora me ocorrer e que até pode nem ser o mais importante. E antes que me esqueça e me deixe embalar por outras emoções, digo já : Foi dura. Muito dura. A mais dura das nove que tenho na memória !
Com 460 inscritos, numa demonstração que esta Prova vai crescendo ano após ano,  logo cedo, começou, em Melides, a azáfama habitual: levantar o dorsal, receber a garrafa de água (para irmos hidratando, como convém) uma barra e um gel energéticos, uma maçã. Procurar, depois um local, para nos prepararmos para a “viagem”: protector solar (àquela hora nada faz lembrar a necessidade disso) bem aplicado (escaparam-me sítios que, à chegada, foram logo identificados) vestir o equipamento e verificação da trouxa (80% era para ir no carro!). Levei uma bolsa com a barra energética oferecida,  5 géis, marmelada e uma banana; e levei também um cinto com 3 frasquinhos de bebida isotónica. Na mão levava um boião do 0,5l de água.  ( Só viria a gastar a barra, um gel e a água ).
Umas fotografias com amigos, ouvir as recomendações da organização e encaminharmo-nos para o pórtico da partida. Por laracha, digo que não se viu ninguém a fazer aquecimento.
Tiro da partida dado pela antiga glória do nosso Atletismo, Carlos Lopes e começa o calvário que já se esperava nos quilómetros iniciais : areia solta. O mar não tinha descido, mas isso, já não era de estranhar, pois a maré vazia seria dali a umas horas. Passados  5 ou 6 km já teria deixado areia compacta para pisarmos, logo, mandava a prudência, não batalhar muito contra a areia difícil, para que quando ela colaborasse mais, ainda houvesse pernas para poder correr. O problema é que os quilómetros foram passando e… tudo na mesma: não só a água teimava em se atravessar no caminho, como nos obrigava a subir e descer um ondulado de dunas de areia fofa, que criou ao longo do areal. E assim foi até cerca dos 16 Km. Por mais contido que quisesse ser nos km iniciais, o facto de ter de fazer o triplo do previsto, viria a manifestar-se lá mais para a frente.
Às tantas vejo um atleta sair da linha da água, subir para a areia seca e encaminhar-se para a encosta da arriba, e pensei cá para comigo :-“aquele vai aliviar”. Depois outro, outro e mais outro. Mau! Tantos aflitos! E começo a vê-los a correr junto à base da arriba e verifico que os pés deles não se afundam. Ah ele é isso!? Encaminho-me também para lá e durante, cerca de 2km segui-lhes o exemplo. Corria-se bem. Pois, mas aquilo acabou-se e o remédio era retomar a linha da água.  Começava a sentir os pés com muita areia na parte da frente e, antes que começasse a incomodar muito, resolvi tirar os ténis e correr de peúgas. Gostei, mas a chatice era trazer os sapatos nas mãos.  Resolvi atá-los ao cinto, onde também já tinha encaixado o boião da água. Aquele balançar também era incomodativo, mas, pelo menos deixava-me as mãos livres.
Lembrava-me que, na apresentação inicial, nos falaram de um pórtico Vitalis instalado na praia do Carvalhal, local do abastecimento dos 28,5Km . Depois de muito prolongar a vista pelo areal, lá consegui ver um ponto minúsculo, que sobressaía de uma mancha mais escurecida da areia que deveria ser a desejada Praia do Carvalhal. Continuando a correr, desviava de lá os olhos, para mais tarde ver se notava alguma diferença no tamanho do pórtico. Nada. Passa o meu colega Carlos Souto que diz: “Carvalhal à vista!” “ - à vista está, respondi,  mas não se nota é a aproximação!”  Lá continuei, no meu ritmo, que me parecia razoável.  Pensei em utilizar a mesma estratégia do ano passado. Parar a seguir ao Carvalhal, mandar um mergulho e continuar. Só que, desta vez, tinha que voltar a calçar os ténis, quer porque estava farto de os levar à cintura, quer porque a areia entretanto mais firme, começava a magoar os pés. Recebo as duas garrafas de água, paro, tiro o cinto, os óculos e o chapéu e lá vou eu à água. Não me demorei. Demorei foi a calçar os ténis. Muitos foram os que passaram naqueles  6 ou 7 minutos (Zé Carlos Melo, Tigre, Analice, Carlos Freire). Bebi uma das garrafas e levei a outra no cinto. Retomo a corrida e senti-me mais fresco, com um andamento mais vivo. Aproximo-me do Nelson Alegre. Subitamente, começo a ficar nauseado e tive de me pôr a andar até que a indisposição passasse. Mas primeiro passou a Graça Roldão, que simpaticamente me perguntou se estava bem. Seria uma questão de tempo. Novamente a correr e novamente nauseado. Paro mais uma vez e recomeço.  Chego-me junto da Analice aos 37,5 e cheguei a passá-la, mas foi sol de pouca dura. Segue-se aquela sequência de curvas para a direita, mas a definitiva, aquela de onde haveríamos de ver o pórtico da chegada, ainda que pequeno, nunca mais aparecia. O meu colega e amigo Nelson Mota, que estava ali a ver o pessoal a passar, ofereceu-me uma água fresquinha, mas eu não aceitei – não com o receio de ser desclassificado, que isto é assunto de outra conversa – pois ainda tinha. Mais à frente, o Tó Jó vem também ao nosso encontro e a perguntar :”-O que é que se passa hoje, que o pessoal vem todo estoirado!??”. Eu só sabia dizer :-“Isto está terrível!”   Vem a Fernanda Parro, à procura do Luis, que me dirige também umas palavrinhas de incentivo. E eu pumba, pumba, pumba, ainda ganhei alguns lugares. Finalmente, a última curva. Agora era aguentar o barco, respirar e esperar . Ainda pensei em ir acelerando para chegar a par com a grande Analice, que estava a 20m de mim, mas achei que era melhor não servir de emplastro a esta ultra-lenda por quem todos têm a maior das admirações. Gostei de ouvir os merecidos aplausos que lhe dedicaram. A seguir foi a minha vez: tiro o chapéu e os óculos para a fotografia, mas já vi que fiz mal : pelo menos disfarçava um bocado a carinha com que cheguei, agravada ainda com a decepção do tempo que fiz: 5,44,40! Apesar dos contratempos, estava convencido que andaria pelas 5,10/5,15. Ah…esqueci-me de dizer que não uso relógio. Mais 50 minutos que em 2012!
Sentei-me, bebi um isotónico que o amigo Didier me foi buscar e esperei uns minutos para recuperar as condições. Fruta fresquinha, um guaraná e relax durante um bocado, antes de ir levantar o saco com as trapalhadas que não eram precisas e que tinha levado para Melides.
E pergunto eu agora : Quem é  que, no final da Prova, foi dançar a Zumba?!


12 comentários:

Nuno Sentieiro Marques disse...

Grande Senhor e grande Atleta.

A 9ª...e muito bem relatada.

Obrigado pela partilha.
Talvez na Tua 10ª a gente te faça companhia ;-)

Parabéns e abraço

Fernando Andrade. disse...

Fico a contar com isso, Nuno. Muito obrigado. Abraço.

Horticasa disse...

Grande Fernando, isso é que é sofrer.
Tenho estado a ler os relatos dos que lá estiveram e é unânime, a coisa foi mais dura que os outros anos....
Ou foi a temperatura, ou a areia ou, ou...
Lembro-me de uma meia maratona há anos, que fiz e que demorei mais meia hora que o meu habito, na hora de chegar começo a ver todos os que costumavam chegar quando eu, pensei, - Afinal não foi só a mim que correu mal, quando é mau para nós é mau para todos...
Ou é do tempo, ou é do calor, ou é....
beijinho, eugénia

Fernando Andrade. disse...

Não sei se se pode falar em sofrer, Eugénia. Quando somos nós próprios que impomos os nossos limites, traz à mistura o enorme prazer da superação. Mas se fôssemos obrigados a fazer aquilo...aí seria mesmo tortura. Mas fica uma sensação indescritível, quando atingimos os nossos objectivos.
Beijinho.

Tigas disse...

Muitos parabéns. Fui acompanhar os últimos 10kms, de um amigo que se foi estrear na UMA e vi que foi uma prova mesmo muito dura física e psicologicamente, só ao alcance de super-atletas.
Excelente relato.
Abraço e boa recuperação.

Ricardo disse...

Fernando,
Parabéns por mais UMA!

Abraço
SlowRunner

JH disse...

Fernando,
Já me levas 4 de avanço... mas no ano que vem conto estar contigo. Fizeste-me reviver a UMA ou Raid há uns anos atràs, mas quem corre por gosto não cansa. Parabéns, sei o que sofreste, mas pena de ti ... zero hahaha.
Vemo-nos por aí.
Abraço,
João

Jorge Branco disse...

Mais uma UMA para o grande Fernando Andrade! Pode ter sido muito dura mas para mim o que é mais duro é que dá mais gosto em se acabar e dizer eu fiz!|
Parabéns campeão!
Abraço.

Isa disse...

Parabéns Fernando!
Se esta prova já não deve ser nada fácil habitualmente, este ano, pelo relato, percebe-se que foi mesmo duro. Mas só lhe dá mais mérito pelo feito.
Boas corridas!

António Almeida disse...

Com toda aminha admiração muitos Parabéns Mestre por mais UMA e por todas.
Abraço.

João Paixão disse...

Nove vezes esta prova é obra.
Muitos parabéns.
Próxima prova: S.João das Lampas.
Abraço

MPaiva disse...

Fernando,

Muitos parabéns por continuares totalista desse (já) mítica prova. As dificuldades que tiveram de enfrentar só vêm dar mais relevo à dimensão do feito e à coragem de quem se aventura.
Muitos parabéns!

abraço
MPaiva