Distante
e perdida na serra, juntamente com meia dúzia de irmãs, fomos encontrá-la
assim, ao caír de um dia soalheiro de Dezembro. Estava velha e seca. Mas continuava ali, no sítio que sempre foi o
dela, à espera que alguém se acercasse. Acercámo-nos, guiados por um amigo que
a conhecia bem, e contemplámo-la e ouvimos o que ela nos disse, sem serem
precisos sons, sem serem precisos outros sinais para além daquela aura que nos
transporta no tempo. Falava das mágoas
de quem foi abandonada, depois de ter sido, anos a fio, fonte de rendimento e
símbolo de vitalidade e de respeito.
Fazia
muitos anos que as mãos que cuidavam dela deixaram de o poder fazer e a
diáspora da prole, em busca de uma vida mais próspera (?), ditou o
abandono daquele hectare de barranco.
Mas não o seu esquecimento.
Sem
folhas, sem cortiça… sem vida, a sua silhueta, embora triste, continua a romper o céu da
Serra do Caldeirão. De pé. A velha árvore permanece de pé.
Isto, no dia em que Mandela nos deixou.
4 comentários:
Não tenho palavras para comentar...Quando o textos me tocam tanto fico assim... Um abraço MESTRE Fernando Andrade.
As grandes árvores morrem sempre de pé!..
E aquela “árvore” morreu fisicamente, mas poderá permanecer entre nós se soubermos e não nos esquecermos dos frutos que ela(e) nos deixou…
Orlando Duarte
Assim as árvores nos deixam ficando sempre connosco.
beijinho
Fernando,
Grande texto e este em particular toca-me bastante.
Abraço
Joao
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