
Gosto de correr e gosto da natureza. Quando se proporciona juntar estes dois gostos, o resultado é extasiante. É essa a sensação que trago comigo, depois de ontem ter participado nos Trilhos do Pastor, no coração da Serra d’Aire.
Numa extensão de 28 km, o percurso, que incluía a passagem pelas profundezas calcárias das Grutas de Alvados, levou-nos por caminhos de terra batida, junto à base, entre veredas da floresta que ia sendo substituída por vegetação rasteira e agreste à medida que íamos subindo a serra e os caminhos deixavam de o ser para passarem a estreitos carris. O piso era só pedra e mais pedra, de arestas vivas, como que a dizer-nos para vermos onde púnhamos os pés. Havia “traço contínuo”, isto é, quando alguém mais lento ia na frente, criava-se uma fila de corredores, que não podiam ultrapassar. Também, ninguém fazia questão, pois nada como uma boa desculpa, para dar descanso ao pulmão e às pernas, até nos recompormos. Lá no alto, junto ao moinho, a mesa de um primeiro abastecimento. Parámos, refrescámo-nos e olhámos em volta. Por instantes, achamos que a montanha nos “alarga” a vista, torna-nos o horizonte mais distante, sentimos a dominar o mundo.
Havia que descer, com cuidado. Atravessar a Pia do Urso, pitoresca aldeia (em pedra, como não podia deixar de ser) recuperada, onde a rua era feita de curiosos mosaicos de troncos de árvore “às rodelas”.
A dada altura (cerca dos 18km) a descida era quase na vertical, não fossem uns zigue-zagues . Lá em baixo, a aldeia do Reguengo, onde estava mais um abastecimento, este mais rico, com laranja, banana, marmelada e, claro, água. Depois, vinha o “Buraco Roto” (estranhei o nome, pois se alguém conhecer um “buraco”! que o não seja…) que obrigava à escalada de uma escarpa virada a norte. Terrível! Depois, um miradouro e novamente uma descida, também em escarpa, mas aqui havia umas cordas, que nos davam alguma segurança. Outra vez a subir. Outra vez a descer. Andámos nisto, uns bocadinhos a andar outros a correr e às tantas estávamos a chegar.
O tempo esteve seguro e a temperatura agradável. Isso contribuiu muito para o êxito deste evento. À chegada havia laranja (boa laranja, que não fosse o receio de me “dar a volta”, não parava de as comer) e água com fartura. E música a dar ambiente. Depois, foi a banhoca e o almoço. Diziam que era feijoada, mas a mim calhou-me entrecosto com arroz de feijão.
Nunca reparo nas classificações, mas vi que foram rapidamente afixadas e que eu fiz o tempo de 3,07,23. Não digo que não pudesse ter feito um bocadinho menos, mas acho que se tivesse feito um bocadinho mais, teria retirado mais proveito desta Prova que quero repetir e aconselhar aos meus amigos.
Relativamente à Organização, penso que merece nota máxima, pois o percurso esteve muito bem assinalado (eu, que sou novato nestas coisas, nunca tive dúvida no caminho a seguir) e notou-se uma grande atenção dos organizadores para com os atletas. Só faço um pequeno reparo: deram-nos uma t-shirt, da Câmara da Batalha e um prato do Clube de Veteranos da Serra d’Aire ! Nada fazia referência à 2ª Edição dos Trilhos do Pastor!
Uma pedra com uma etiqueta simbolizaria, na perfeição, esta maravilhosa prova e constituiria um troféu, a guardar com o mesmo afecto, que dispendiosos brindes que outras organizações nos oferecem: “Eu estive na 2ª Edição dos Trilhos do Pastor -28.MAR.2010” .