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sexta-feira, 25 de julho de 2008

Apontamentos do Raide 2006 - II

Ainda na partida

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De facto, agora sentia-me mais solto e, mesmo pela areia seca, fui recuperando posições, até que tive de afrouxar. Por volta dos 11Km, olho para a esquerda e, lá em baixo, juntinho à água, vinha a Chantal, que ganhou em 2005. Admirei-me de ela ainda vir ali, mas reparei que os seus pés, embora molhados, não se afundavam. “Olá! Troco já a areia solta pelos pés molhados!”- pensei e, na verdade, até deixei a Chantal para trás depois de meia dúzia de palavras (disse-me, com o seu sotaque engraçado, que este ano estava com anemia e, por isso, não arriscava muito) . Então… já que o piso agora era favorável, aproveitei e ia vendo os outros lá em cima, na areia solta, a ficarem para trás .

Porém, a rebentação das ondas, interceptava a minha trajectória e a água foi-me enchendo os sapatos de areia até que os pés já tinham dificuldade em lá caber. Não tive outro remédio que foi descalçar-me, tentar tirar a areia e voltar a calçar-me. Isto repetiu-se mais duas vezes. Cerca dos 16 Km resolvi descalçar-me, atar os sapatos à mochila e … andar. Ia-se bem, a usufruir, sem cansaço, daquela interminável costa, com a água a convidar a uma banhoca. Mas não. Foram talvez 3 Km aqueles que fiz a passo, e, neste período, muitos foram os raiders que me passaram e me dirigiam uma palavra de estímulo, mas eu… estava noutra! Comecei a fazer contas e vi que, a continuar assim, chegaria a Tróia já com o controle encerrado. Não podia ser. Encontrei uma garrafa de 1,5 L abandonada por ali e fiz com que ela tivesse alguma utilidade: enchi-a de água do mar e, calmamente, sentei-me tirei a areia dos pés e das peúgas. Um companheiro aproximou-se da garrafa para fazer o mesmo :-“Ohh… mas isto é uma bolha! Eu a pensar que era areia! Não há nada a fazer, vou ter que gramar!”-disse ele. E continuou. Acabei de me calçar, enchi-me de coragem e fui atrás, agora com mais atenção à água para ver se me mantinha a correr por mais tempo. E a verdade é que até consegui não voltar a parar. Recuperei novamente muitos dos lugares que tinha perdido.

Nas praias, por onde ia passando, houve alturas em que tinha de ziguezaguear por entre os banhistas que não se apercebiam da aproximação. Alguns até aplaudiam, mas 99% nem sequer sabiam quem eram aqueles “malucos” que a espaços tão prolongados, iam passando pela praia. Que bom seria que aquela quantidade de banhistas assumisse a função de público! E não teriam de alterar muito os seus planos : estavam na praia e continuariam na praia. Só precisariam de saber quem era aquela gente estranha. Uma aparelhagem sonora nas principais praias teria dado um excelente resultado. Mas esta é uma questão a ser abordada mais à frente.

Impressionantes são as aproximações e os afastamentos dos nossos companheiros de jornada. A falta de sincronização das performances, acaba por apelar ao esforço individual, se bem que registe com muito agrado o grande espírito de entreajuda. Na alternância de posições (um abraço, Vítor Silva) há sempre uma palavra de estímulo para quem vai mais lento.

28,5Km – Lá estão as duas garrafinhas com água fresquinha. A da mochila estava morna e devia estar a acabar.

(continua)

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