Muito se tem falado em “auto-suficiência”, nesta Prova. Embora compreenda onde querem chegar os seus defensores, também compreendo a posição de quem tem opinião contrária e quero deixar claro que, para mim, tanto de uma maneira como de outra, continuarei a estar presente.
Se a Organização entendeu colocar um abastecimento aos 28,5km, estou certo que o fez tendo em conta a saúde dos participantes, pois poderia dar-se o caso de haver quem já tivesse gasto a água que levava e, então, só teria duas opções : ou arriscava correndo mais 15km sem água, ou teria de se abastecer clandestinamente para chegar a Tróia. –“Pelo regulamento, não podia!” – dirão. Mas existirá regulamento que prevaleça sobre o instinto de sobrevivência?
Por outro lado, se a Organização disser que “a Prova tem que ser feita em auto-suficiência”, tem também que garantir uma vigilância que assegure a igualdade de participação a todos os atletas. E não me parece que a Organização disponha de meios humanos suficientes para, ao longo de 43km de areal, estar atenta a quem aceita uma garrafinha de água de um banhista ou de um pescador, para o desclassificar. Considero, pois, sensato que a Organização não imponha regras cujo cumprimento não consegue garantir.
Já basta que se diga que “ninguém pode abastecer-se fora do único posto de abastecimento, aos 28,5km!” Eu comi umas uvas aos 29km ! Se a organização viu, fingiu que não viu. Se não viu, eu não deixei de praticar uma transgressão. Quanto a mim, até este ponto deveria ser retirado do regulamento, pela mesma razão.
Assim, ninguém é obrigado a levar ou deixar de levar água, mas a Organização – que não me passou qualquer procuração – sente que desta forma demonstra preocupar-se com a saúde dos atletas, não querendo que corram perigo. Trata-se de uma medida de segurança, que ninguém é obrigado a aceitar, mas que está lá.
Quanto ao aliviar da carga, isso poderia ser feito em qualquer local. Para o evitar, a Organização recolhe e depois devolve. Também isto será desvirtuar o espírito da Prova?
Acho que não devemos ser “fundamentalistas”. Reparem que impor-se restrições é abrir caminho ao chico-espertismo de quem sabe que serão mínimas as hipóteses de ser “apanhado a pisar na bola”.
Numa prova no deserto, na montanha, onde não se passa por ninguém ao longo do percurso, é correcto que a organização diga que a prova é em auto-suficiência, mas mais no sentido de prevenir o atleta que não é possível garantir-lhe abastecimento, do que no sentido de o proibir de beber água num qualquer chafariz que encontre.
Acho eu…
4 comentários:
Isso eu nunca vi.. Impiedosa a coisa... Literalmente comendo areia... Trata-se de uma corrida de camelos? Bom... Para encarar uma dessas o cara tem que ser fera mesmo.. De preferência um tipo de camelo mesmo... Isso é que é aventura.. Parabéns e grande abraço.
Assunto muito polémico e complicado!
Se pensarmos em termos de Marathon Des Sables apenas é fornecida água aos atletas e se quiserem mais para além da quantidade estabelecida isso implica penalizações a nível do tempo que têm em prova.
Mas a UMA não tem nada a ver com essa prova nem em meios envolvidos nem em dureza da mesma e estamos em Portugal!
A auto-suficiência pode ser entendida com um forma de tornar a prova mais dura mas valera a pena?
Por outro lado o esquema adoptado presentemente na UMA permite uma certa segurança e faz com que os atletas tenham que transportar alguma água é assim um género de solução intermédia.
Mas depois de pensar muito neste assunto acabei por aclarar um pouco as ideias e pensar de outra forma em relação a isto tudo.
Penso que o esquema usado na UMA dá azo a muita batota pois a organização não tem meios de controlar os atletas.
Assim temos atletas honestos que cumprem os regulamentos e outros que se vão abastecendo a socapa (não me estou a referir as uvas que é insignificante mas ao fornecimento de agua por amigos estrategicamente colocados que segundo relatos que tenho lido acontece muito).
Não tendo a organização meios para fazer cumprir o regulamento eu acho que o abastecimento dos atletas devia ser da responsabilidade dos mesmos mas não sendo obrigatória a auto-suficiência.
A prova poderia não ser tão “pura” mas as condições seriam iguais para todos e a batota acabaria.
Mesmo com esta minha ideia a organização poderia continuar fazer o tal abastecimento até por questões de segurança.
Vai-me cair toda a gente em cima com esta minha teoria mas enfim!
Seja como for, lá estaremos a cumprir as Meliadas!!!!
Um abraço Amigo Fernando
Olá, Manequinho.
Há uma grande dose de masoquismo nestas coisas, mas o principal é que todos têm de estar sujeitos às mesmas condições, o que, aqui não se consegue assegurar.
Passei pelo seu blogue. Gostei do que vi e já o adicionei.
Apareça sempre.
Caro Jorge
A polémica deste assunto não existiria se a Organização tivesse condições para se impôr. Aí, muito sinceramente, tanto alinharia com como sem abastecimento. Era uma questão de me precaver em conformidade.
Amigo Parro
É cá dos meus, porque a gente não alinha nessa coisa dos "secos e molhados".
Então baldou-se ao TNLO?
Para todos, um grande abraço.
FA
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