Ainda a aurora não tinha chegado à "Notável Vila de Estremoz" fazíamos nós uma pequena ronda à procura de um café. Excluimos dois (cujo aspecto e clientes deixavam muito a desejar) e entrámos num terceiro que ainda estava vazio, mas onde tomámos o nosso pequeno almoço, para termos tempo de o digerir até à hora da Prova e pusemo-nos a caminho.
Quando chegámos à zona da partida, já o João estava à nossa espera. A área para estacionar era muito grande, embora estivesse alagada numa parte significativa. Ou em vias disso, pois as tréguas que a chuva tinha feito durante a viagem, pareciam estar a terminar.
Havia que equipar-nos, pois estávamos a 45 minutos da hora estipulada. Parecia tempo mais que suficiente, mas um episódio inconfessável relacionado com um “misterioso guarda-jóias armadilhado” fez-nos ser os últimos a passar pelo controlo da partida.
Era feita a leitura óptica do dorsal, com um aparelho manual, sem o que ninguém estaria considerado em prova. Não conhecia este sistema. Entre o pelotão ainda parado, vejo passar apressado o Sérgio Santos, do Triatlo, que se posiciona uns 20 metros à nossa frente.
Soa o tiro da partida e lá arrancam os quinhentos e tal corredores (havia 590 inscritos).
Tanto o João Hébil como o Carlos Neto, por não estarem minimamente preparados, apenas pretendiam chegar ao fim (mais o Carlos que o João) sem estarem preocupados com a marca. Eu, que também não tinha feito nada de especial (4 horas de corrida nas duas últimas semanas), ao pé deles, achava-me um corredor de elite e o único objectivo que tinha em mente era o de não passar à meia com menos de 1,45 para, então, avaliar a minha capacidade para correr a 2ª parte.
Fizemos juntos o 1º km. Oh p'ra eles aqui:
Quando chegámos à zona da partida, já o João estava à nossa espera. A área para estacionar era muito grande, embora estivesse alagada numa parte significativa. Ou em vias disso, pois as tréguas que a chuva tinha feito durante a viagem, pareciam estar a terminar.
Havia que equipar-nos, pois estávamos a 45 minutos da hora estipulada. Parecia tempo mais que suficiente, mas um episódio inconfessável relacionado com um “misterioso guarda-jóias armadilhado” fez-nos ser os últimos a passar pelo controlo da partida.
Era feita a leitura óptica do dorsal, com um aparelho manual, sem o que ninguém estaria considerado em prova. Não conhecia este sistema. Entre o pelotão ainda parado, vejo passar apressado o Sérgio Santos, do Triatlo, que se posiciona uns 20 metros à nossa frente.
Soa o tiro da partida e lá arrancam os quinhentos e tal corredores (havia 590 inscritos).
Tanto o João Hébil como o Carlos Neto, por não estarem minimamente preparados, apenas pretendiam chegar ao fim (mais o Carlos que o João) sem estarem preocupados com a marca. Eu, que também não tinha feito nada de especial (4 horas de corrida nas duas últimas semanas), ao pé deles, achava-me um corredor de elite e o único objectivo que tinha em mente era o de não passar à meia com menos de 1,45 para, então, avaliar a minha capacidade para correr a 2ª parte.
Fizemos juntos o 1º km. Oh p'ra eles aqui:
Carlos Neto e João Hébil no 1º Km (tão contentes que eles ainda iam...)
Captados pela maquineta que levei na minha bolsa, para ver se conseguia recolher algumas imagens da prova. A chuva e o frio, acabaram por me enregelar os dedos, tirando-lhe a destreza necessária para usar a máquina.
Fui avançando a partir daqui. Passo pela Célia Azenha e, ao 5º km, pelo Mayer Raposo. Em sentido contrário, já com 8 km vejo o Fernando Alves, lançado para as suas 2,46 (parabéns, Fernando).
O percurso é plano, constituído por duas voltas e, entre o 2º e o 9º Km, há atletas nos dois sentidos. Subidas dignas desse nome não existem, ou melhor, não nos apercebemos delas na 1ªvolta, mas na 2ª até custa a crer como é que já ali tínhamos passado (!), principalmente a dos 35 para os 36km.
Voltando à minha prestação: -depois do 1º km feito em 5,40 tentei ir aumentando um bocadinho a velocidade para me aproximar dos 5'/km. Aos 5 km já só tinha 10'' de atraso, mas, pela forma como ia reagindo ao esforço, vi logo que era demasiado imprudente continuar a forçar. Há que ter calma, pois o objectivo era não passar à meia antes da 1,45 ! De facto, acabei por passar com 1,47,50, mas sentia-me com aquela "margem" que nos faz sentir seguros.
Por esta altura, estava instalado um pórtico insuflável, com cronómetro e tudo, mas que não estava a assinalar a Meia Maratona, nem os 20 Km, nem tão pouco correspondia ao local do fim da prova. Fiquei sem perceber o sentido daquele pórtico. Aliás, eu não sabia que muitos dos quinhentos e tal corredores, poderiam fazer apenas a Meia Maratona. Quando me aproximava, via corredores a caminhar em sentido contrário, com medalha ao peito (vim a saber que era uma medalha igualzinha à da Maratona). Havia, então uma faixa transversal, que dizia "Media Maraton", debaixo da qual estavam duas raparigas a dar medalhas !
Continuando... lá vou eu para a 2ª volta. Chovia mesmo bem. Passa um sujeito de motoreta, que afrouxa junto a mim, com um saco de plástico na mão e me grita :-"chuvaquero?" – Non, grácias – pois naquela altura já estava repassado até ao osso …para que é que eu queria o “chuvaquero”?! Vai um gel para ver se “a coisa arrebita”.
No 2º retorno , ia eu com 28 km feitos, lá vinham o Carlos e o João, talvez uns 3km atrás de mim. Havia que começar o “combate” psicológico e ir confrontando o ritmo da respiração com o da passada : “-man-tém…man-tém, q’assim é que vais bem!” e com esta ladainha lá fui progredindo. Mas já estava a lembrar-me de outra, caso esta começasse a “falhar” : “-a-frouxa…a-frouxa, q’assim ninguém amocha”. O importante era manter o positivismo fosse qual fosse o andamento.
Aos 35,estava eu a tomar o meu 2º gel energético, quando vejo o único sinal de animação, numa altura em que bem precisávamos dela: um grupo de bombos dava-nos algum ânimo, para enfrentar aquela subida de 1 km, que acabou por se fazer bem, pois o piso era bastante bom.
Passo alguns atletas e sou passado por outros, mas acho que o saldo foi a meu favor. Um espanhol que ia a passo, resolveu retomar a corrida, pondo-se na minha passada. Ajudou-me um bocadinho, mas aos 40, voltou a parar.
Recta final. Os tons eram os vermelhos da Coca Cola. Dadas as condições climatéricas, não havia por ali muita gente, mas sempre se ouvia alguns aplausos. Corto, finalmente, a meta: 3,46,09. É-me oferecida uma medalha e dão-me um pedacinho de papel com o resultado. Dão-me depois uma manta para que não arrefeça e logo a seguir foi o “Tomar de um Abraço” do nosso Luís Mota e da sua família. Uma surpresa muito agradável. Estava por ali também o amigo José Carlos Sousa, que registou o momento:
Com o Luis Mota (que já tinha acabado quase há uma hora)
A conselho do Luís e também para aproveitar o abrigo, pois começava a chover novamente, entrei na tenda da massagem. Não havia muita gente pelo que fui rapidamente atendido. Devo dizer que não sou muito disto, mas aceitei. Deito-me na marquesa e uma jovem simpática perguntou-me onde é que me doía mais as pernas. Resposta difícil, mas lá disse que eram os gémeos (e se calhar não eram). Com uns sacos de gelo, massajou-me energicamente as pernas e, de seguida, faz o mesmo com um creme de massagem (acho eu). Fez-me uns leves alongamentos, manipulando os pés e finaliza com uns movimentos de descontracção muscular. Brilhante! Agradeci, levantei-me, calcei-me e pus-me a andar. Para meu espanto, o “andar novo”, meu inseparável companheiro sempre que termino uma maratona, desapareceu! Movia-me com a maior das naturalidades e… ria-me por dentro, eheheh. Volto a pôr a manta pelos ombros e encaminho-me para a carrinha, quando se aproxima de mim um segurança, que me diz : “- La manta é para ficar!” Dei-lhe a manta, com vontade de lhe dizer para limpar o c… com ela, e fui à chuva.
Foi a primeira vez que recebi um prémio …emprestado!
Bom, na carrinha, seco-me com uma toalha que trazia e troco de roupa, pois o banho “estava tomado” e espero pelo João e pelo Carlos, que chegaram na casa das 4,25, depois de terem caminhado durante uma boa parte da distância. Mas chegaram contentes, pois bateram os seus records (da maratona mais "duradoura") e chegaram em boas condições, que era o principal.
Fomos almoçar uma pizza, ali perto, enquanto conversámos um pouco e regressámos.
Estava concluída mais uma maratona.
Gostei da pasta party (não seria preciso tanto), do secretariado, do percurso, do controlo da partida, da imediata disponibilização dos resultados, da medalha;
Não gostei da Meia Maratona com dorsal igual ao da Maratona e quem quisesse acabava a meio; da falta de animação; de correr vários km sozinho; de ter de devolver a manta “quentinha”!
Ah… e não gostei do tempo que fez, pois o tempo que fiz não era de esperar muito melhor.
Badajoz já foi.
Hasta Sevilla!!!
13 comentários:
Olá Fernando!
Um complemento delicioso.
Agradeço as palavras simpáticas.
Terminar bem é o mais importante nesta distância e o Fernando leva isto com a maior das naturalidades (são muitos anos nisto!).
Agora segue-se Sevilha, prova que não participarei.
Uma boa recuperação/preparação para mais uma Maratona.
Grande abraço,
Luís Mota
Parabéns pela boa prestação debaixo de condições adversas!!!
Tenho o desejo de ainda este ano fazer a minha 1ª maratona mas devo confessar algum receio em enfrentar tantos kms!!! Que conselhos daria a um "novato" nesta distância?
Cumps
RM
Fernando,
Parabéns por mais uma Maratona. Lendo aquilo que está escrito e olhando para o curriculum até parece fácil andar a fazer maratona a cada 2 meses! Na verdade até é fácil, mas não para todos!
abraço
MPaiva
Olá Fernando
que maravilha de relato, como sempre...
Vejo que o amigo Joaquim eatá a fazer "escola" no que respeita a levar máquinas fotográficas para registar os momentos.
Boa recuperação e bom caminho até Sevilha, isto de correr maratonas como quem corre provas de 10 km decididamente não é para todos.
Grande abraço e a minha admiração,
antónio
Belo relato.
Amigo Fernando
Valeu a pena dedicar este fim de Semana à Maratona de Badajóz.
Correu e divertiu-se, acrescentou mais uma Maratona à sua lista já extensa de grandes corridas e o que é espantoso é que acaba uma e já pensa na seguinte, agora é Sevilha?
Eu fiz 4 e quando completei a última, de rastos, com 3,49h disse para mim: acabou, e até hoje ainda não senti motivação para continuar, talvez o vosso exemplo me volte a motivar num futuro próximo.
Para já desejo-lhe uma boa recuperação e olhe até à proxima.
Um abraço.
olá Fernando
Mais uma Maratona, mais uma conquista, cheia de alegrias pessoais. Os meus parabéns
Grande relato Fernando, fartei-me de rir, se calhar na minha próxima Maratona, vou usar o : " “-man-tém…man-tém, q’assim é que vais bem!”
Quando começar a correr mal uso: “a-frouxa…a-frouxa, q’assim ninguém amocha”. hehe
Abraço
Olá Fernando
Magnífico post, foi um excelente relato e a marca também foi bastante agradável.
Boa recuperação
JCBrito
Já que o meu primeiro comentário foi para os porcos, aqui vai outro tentando dizer o mesmo:
Como se comprovou não devia ter alinhado nesta maratona... na verdade quando uma pessoa perde o respeito à mesma, ela encarrega-se de nos por no nosso sítio. Na verdade a única coisa boa que me passou foi a tua companhia (na realidade mais a do Carlos) e o almoço que partilhamos juntos, e que também esse, esteve quase para não acontecer. Coisas misteriosas que acontecem... Enfim como eu decidi não escrever sobre esta prova (teria que falar mais de outras coisas que da prova...), fico contente que o tenhas feito, porque o fazer melhor que ninguém.
Parabéns e até à próxima (hoje já ponho a hipótese, se treimar de voltar a fazer outra, no quentinho do escritório...).
Um abraço,
João
Boas, Fernando...
Isso é que foi uma bela 'serenata' à chuva!!!
Muito bem com esse temporal..o tempo foi bom... e claro mais uma para o seu extenso curriculum!
Essa já está no papo...mas pelos vistos a dança continua em Sevilha!
Abraço
José Capela
O meu amigo relata a coisa com quem fez o GP de Grândola, uns 10 míseros kms... Assim , treinando 4 horas em duas semanas, foi lá e fez "mais"uma...
Estou com inveja, muita inveja...
Parabéns
olá Fernando
espectáculo, só agora li o registo.
Parabéns por mais uma no papo.
Quanto ao relato, o melhor que posso dizer é que apetecia estar na prova, assim que o começamos a ler. A realidade invade-nos e estamos dentro da prova. Afinal ... o grande segredo de quem escreve bem. Como dizia Hemingway, o vedadeiro escritor é o que cria a relidade para além da realidae, com as suas letras. É o caso.
Abraço e boa preparação para a próxima.
p.s. - amanhã se o vir na Caparica segue o tal bacalhau :)
AB
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