O Pórtico
É pequena a “portinhola”, mas pesa que se farta. Como é instalada no local onde passam os atletas em pelotão compacto, cerca de 100 metros após a partida, só pode ser montada depois de todos os atletas deixarem S. João das Lampas, rumo à sequência de descidas, subidas e curvas ao longo de mais 20 Km que estão ainda por fazer.
A “portinhola” lá estava recuada para não impedir a passagem dos atletas, mas preparada e já apoiada numa máquina que a deveria colocar no sítio indicado. Quando pudesse ser.
A minha função era andar por ali, sem fazer nada, a ver o que poderia estar em falta.
-Eh pá! Quem é que vai buscar as melancias!? – ouvi eu.
-Vou já tratar disso – respondi .
Agarro numa carrinha e lá vou eu à Sociedade, buscar os alguidares e tabuleiros, já preparados para a trazer para a grande tenda amarela da Câmara Municipal de Sintra.
Ao passar pela meta, fazem-me sinal, apontando para o pulso, que estava na hora de se montar o pórtico, pois havia ainda que lhe aplicar o cronómetro e era preciso testá-lo. E isso demoraria algum tempo.
-OK. Já trato disso - respondi também.
Descarregada a melancia (e os primeiros atletas da mini, não lhe chegaram a ver a cor, mas ela estava ali à descrição) procuro o Luís ou o Rogério, que eram os únicos que sabiam operar com a máquina. Que é deles? Tinham ido para os abastecimentos como é costume, esquecendo-se por completo que as pessoas que em anos anteriores cumpriam essa função, este ano não estavam. E agora? Perguntava a toda a gente se sabia trabalhar com a máquina e todos diziam que não. Já só faltava usar a aparelhagem sonora, mas isso daria muita bandeira. E o tempo a passar…
Ali perto, o Tomé viu passar o Almêda, um amigo nosso que trabalhou numa oficina de reparações daquelas máquinas e ele, ao ser abordado, respondeu prontamente que sim, pelo que o caso ficaria resolvido.
O problema é que o Almêda, àquela hora já devia de ter emborcado meia dúzia de wiskis , o que se notou logo que a máquina se começou a movimentar. Cigarrinho ao canto da boca e com os olhos semi-cerrados para se protegerem da fumaça, lá vai conduzindo a máquina carregando o pórtico para a meta.
-Oh “Almêda”, mais para a esquerda! É muuuuito!, mais um bocadinho para a direita! Nããão!~Páaaaaara.Vá, recua mais um bocadinho! Tá bom! Levanta agora só um bocadinho. Chega,cheega,cheeeega! Deixa-te estar quieto – dizia-lhe o Tó Zé.
Enquanto o Tomé e o Samuel tratavam de fixar o relógio à estrutura, o “Almêda” já estava quase a dormir, com as mãos nos manípulos da máquina, à espera de novas ordens mas eles preferiam fazer mais um esforço de alongamento do corpo para executar a tarefa, do que pedir ao Almêda para ajustar melhor a máquina.
Estava a chegar a hora e fui buscar um escadote porque a máquina tinha que sair dali.
Só mais uns segundos, dizia o Samuel que estava a acertar o cronómetro.
Vou então arrumar o escadote e o Almêda lá foi pôr a máquina onde a tinha ido buscar.
Logo a seguir estendeu-se a passadeira e colocaram-se os vasos lateralmente, para permitir aos atletas terminarem a prova com alguma dignidade. Alívio.
Cinco minutos depois, aproximava-se o carro da polícia. Vinha aí o primeiro.
2 comentários:
Pois é... nós chegamos ao pórtico, tudo montado, tudo normal, ninguém lhe passa pela cabeça o stress que por vezes as organizações passam para terem tudo pronto e ninguém notar nada!
Agora dá para rir mas que susto!
São estás pequenas, grandes, desgraças que só entende quem já ajudou a organizar provas.
Amigo Fernando se não tivessem conseguido colocar o pórtico da meta, com a prova desgraçada que fiz e o atraso com que cheguei ia pensar: CARAMBA ATÉ JÁ TIRARAM O PÓRTICO! QUE ATRASO O MEU!
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