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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Baldes de água fria? Agora não, obrigado




Ela tinha experimentado a Corrida. Uma Corrida curta, para mostrar a si própria que, após convalescença de um grave acidente de viação que lhe afectou perigosamente a coluna vertebral, mantinha toda a sua mobilidade intacta. Gostou e foi evoluindo, transformando a sua corrida num hábito de rotina diária. Mas a vontade de aceitar novos desafios começou a instalar-se na sua mente: 10km; 15Km;Meia Maratona; Maratona, Ultra Maratona…Todas as etapas iam sendo ultrapassadas com sucesso, sendo que, para si, o sucesso era conseguir cumprir a distância, correndo com o prazer que a Corrida lhe transmitia.
Tinha ouvido falar numa Prova em Ronda, na Andaluzia, na distância de 101 Km (!) e logo equacionou a sua participação pois com ela alcançaria um invejável patamar de superação. Mais perto da plenitude inalcançável. E foi intensificando a sua preparação, orgulhosamente determinada, acumulando quilómetros, atrás de quilómetros, tendo em mira esse grande objectivo.
A um mês do evento, surge a voz experiente de um corredor com décadas de prática, com a sua “pressaga mente a vaticinar” mau desfecho para preparação seguida pela nossa heroína, apontando o dedo a “disparates” cometidos mais pela experiência das lesões que teve, que pelo trabalho feito para as evitar. Bons conselhos, dizia ele. E ninguém irá pô-los em causa.
A questão que se põe aqui, é a da oportunidade em que surge a crítica. Será legítimo a alguém, advogando-se defensor das boas práticas, vir, nesta fase, com este tipo de abordagem a quem cumpriu o seu programa de preparação, ainda que tenha dúvidas sobre a qualidade desse programa? Não trarão esses “bons conselhos” mais de mau que de bom a quem tinha seguido um plano que ajustou à sua capacidade de assimilação? E que dizer da necessária força psicológica para ultrapassar o desafio? Não ficará afectada com reprimendas deste género? Não será verdade que seguir um plano de treino, ainda que duvidoso, mas interpretado como certo, tem o mesmo efeito psicológico na criação de autoconfiança fundamental para quem se propõe cumprir uma aposta destas?
Esta é a questão que gostaria muito de trazer à vossa reflexão e fico muito grato pelos vossos contributos. 

4 comentários:

Anónimo disse...

Todos nós preparamo-nos de maneira diferente para enfrentar um desafio e não existe uma preparação que seja ideal para todos.
O melhor é enfrentar o novo desafio com cautelas redobradas e com a moral elevada, afinal o mais dificil está feito: treinar para tão arduo empreendimento.

JoaoLima disse...

Cada um de nós é diferente e a preparação ideal que resulta num, não será necessariamente boa para outro atleta.
Vir criticar um atleta pela sua experiência pessoal e não atendendo as características do outro, julgo que não será a melhor abordagem, muito em especial nesta fase de preparação.
O fundamental para um desafio dessas proporções é a parte mental. O resto é necessário mas vem por acréscimo, e criticar assim parece-me demasiado, hesito em utilizar a palavra mas cá vai, maldoso.

Posso dar o meu exemplo pessoal. Reconheço que não tenho preparação para uma Maratona, mas fiz a preparação que julguei perfeita para o meu caso, acreditando cegamente que era a melhor.
Fosse verdade ou não, essa confiança é que me levou ao colo até à meta.
Penso que este exemplo vai de encontro ao que o texto pretende transmitir.

Um abraço, Fernando

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Havia um grupo de rãs a tentar escalar um poste altíssimo! Era um desafio: queriam alcançar o topo. Começaram a subir e logo ali se juntou uma multidão a ver a cena e depressa começaram a surgir "bocas", tipo. "são loucas, não vão conseguir", "é perigoso...vão cair", "não tarda desitem, é muiiiiito difícil"; "não vão conseguir".

Fosse consequência das "bocas" ou não, aos poucos e à medida que iam subindo, foi um facto que as pequenas rãs iam caindo. O poste era de facto altíssimo e fosse por medo, insegurança ou porque o poste estava escorregadio, o certo é que as rãzinhas iam desistindo e caindo, para regozijo da multidão que não, não queriam o mal das rãzinhas, só queriam que elas não se magoassem.

Mas houve uma rã que foi sempre subindo, ignorando as bocas motivadoras do fracasso. A multidão continuava a opinar: "vais cair"; "vais-te magoar", "é melhor desistires" e um leque de "incentivos".

Mas a pequena rã continuou, continuou sempre e já sozinha (todas as outras tinham desistido), subia o poste perante o espanto de todos! Até que alcançou o topo vitoriosa e feliz por alcançar o seu objectivo, o seu sonho!

Espantada a multidão, boquiaberta, bateu palmas e acabou por lhe dar os parabéns pela sua persistẽncia. Elogiaram-na por ser tão corajosa, tão forte e resistente.

Não que a rãzinha não fosse isso tudo, (mas as outras também o eram), mas o que de facto fez a diferença é que a rã que chegou ao topo era...surda!

Por isso, meu caro Fernando, na Corrida e em tudo na Vida, há sempre os bem-intencionados (alguns serão outros nem tanto) a mandarem-nos abaixo. Mas só temos é de simplesmente não os ouvir ;)

Antes de eu fazer a MMSJ Lampas, metiam-me muito medo: "não te metas nisso!"; "aquilo é duuuuro!"; e outros mimos afins. Corri e Fernando, não é uma prova "fácil" mas é lá alguma coisa do outro mundo??? Claro que os bem-intencionados já a tinham corrido, eram portanto "heróis" e talvez o facto de eu, atleta de meia tigela a correr, talvez lhe tirasse o brilho, não sei se me entende.

Por isso, para resumir, a motivação é importantíssima, assim como acreditarmos em nós mesmos, fruto de um trabalho para realizar determinada prova. Acreditar em nós. Ouvir os outros sim, mas temos de relativizar as opiniões, tirarmos as nossas conclusões e fazermos valer a nossa opinião, e sermos fortes claro! E opiniões, mesmo a nível profissional, cada cabeça sua sentença, por mais conhecimentos e experiência que se tenha. Só temos de pensar que o que importa mesmo, é a nossa cabeça, o nosso corpo e força que está dentro de nós. E essa, quando sentida verdadeiramente, move montanhas!

Jorge Branco disse...

Eu apesar de ter alguns anitos desta vida de ligação com a corrida não considero ter competência técnica para dar grandes conselhos.
Apenas dou conselhos quando tenho alguma, para não dizer muita, amizade com que mos pede.
No resto nunca interfiro nem me meto na preparação de seja quem for a não ser dando algumas dicas de âmbito mais geral.
E uma coisa que nunca, mas mesmo nuca, faço dar concelhos na base do bota abaixo!
Se julgar que um amigo esta a fazer uma grande asneira tendo que ele corrija isso com calma e nunca desmoralizando o trabalho que ele está a fazer.
Outra solução é dar concelhos em função da preparação que se estar a fazer e não tentar mudar essa preparação ou desmoralizar o amigo.
Numa maratona, por exemplo, há muitas maneiras de encarar e fazer a prova se um amigo me pedir um concelho tento ver os objectivos, o treino que fez e dar-lhe umas ideias da melhor maneira de terminar a prova dentro da preparação que fez mas, sobretudo, moraliza-lo para conseguir o seu objectivo.
No meu caso pessoal tenho a felicidade de ter amigos que não dão concelhos porque são profissionais no assunto e o que dizem é cientificamente correcto. É a esses amigos que recorro quando tenho necessidade de saber algo.
E depois de pedir uma opinião abalizada a um desses amigos fico surdo como na história da rã da Ana pereira que tanto me encantou!