Durante a minha
aprendizagem da Língua Portuguesa, a nossa Língua Pátria, deparei-me com várias
dificuldades. Muitas delas perduram ainda, pois quantas vezes, ao escrever,
cometo as minhas infracções, quer porque não revejo, quer porque … não sei
mesmo. Mas uma coisa era certa: seria eu que tinha que tentar ultrapassar as
dificuldades encontradas sem nunca passar pela cabeça de ninguém, que se tinham
que simplificar as regras só porque eu ( e mais gente, obviamente) não as
entendia.
Desde cedo, na
antiga instrução primária (no tempo do respeito pela senhora professora, dos
TPC com páginas e páginas de “palavras difíceis” repetidas 5 vezes,
correspondentes aos erros dados no “ditado”), me foram incutidas as regras de
bem escrever que tinham uma razão de ser baseada na compreensão da etimologia
ou na diferenciação dos fonemas. Aprendi o que pude.
O chamado Acordo
Ortográfico, fez tábua rasa desses princípios e, sem que tivesse havido a
discussão pública que a importância do assunto justificaria, fez-se Lei. Poucos
foram os que decidiram, muitos são os que contestam e todos os falantes (ou
escriventes da Língua Portuguesa) são condicionados pelo AO90. Um “acordo” de
legitimidade duvidosa, que pretende obrigar-nos a considerar errado o que
sempre esteve certo. E fazem-no em nome de uma suposta “simplificação” da
escrita que, em vez de simplificar, confunde.
A evolução da língua
é coisa que acontece naturalmente e a regra só deve ser imposta para consignar
essa própria evolução.
Que confiança nos
merecerá este “acordo” quando vemos entidades com créditos firmados na matéria
– e que não foram consultadas -, manifestarem-se totalmente contra e
demonstrando as razões da sua oposição? Que confiança nos merecerá este
“acordo” quando ele se destina a vários países e apenas Portugal – precisamente
aquele que tem mais responsabilidades na Língua -está a aplicá-lo?
Dirão que é Lei, que
tem que ser cumprida! Mas as dúvidas persistem: - para chegar a ser Lei, terão
sido cumpridos todos os procedimentos? Se não foram (como tudo indica)
continuará a haver legitimidade para obrigar ao seu cumprimento? Não será
“desaprender” colocar de lado o que está correcto, para se dar cumprimento a um
“acordo” de bastidores que não consultou as entidades com competência na
matéria? “
Seguir o AO90, nesta
fase, é revelar que se está de acordo com ele e dar um passo em frente na sua
irreversibilidade. Mas no dia em que se chegar à conclusão que ele é falho de
fundamentos lógicos, é obrigação de quem decide, defender a Língua Portuguesa e
repensar um “acordo” que ninguém quer
(ou poucos querem). Ou então ficaremos com uma Língua empobrecida, como
se não fosse suficiente a pobreza económica em que este país mergulhou.
9 comentários:
100% de acordo.
Abraço
Completamente de acordo.
Eu escrevo sem acordo pois não acordámos nada e acho ridículas algumas situações
Resistência!
Um abraço Fernando
Com o "Acordo" tornei-me "conservadora" e aos olhos do acordo (mas quem acordou? Eu não acordei nada com ninguém) escrevo com erros.
Pois... mas nesse aspecto, sou velho do restelo mesmo... perante quem me diz com ar reprovador "já não se escreve assim", eu podia encolher os ombros e responder com indiferença "Temos pena.", mas na verdade não tenho pena nenhuma. Tenho pena sim é que tenham mutilado o Português.
O que me espanta nesta alteração ortográfica, à qual não deveremos chamar "acordo" porque nem todos concordam, foi que na votação da Assembleia nenhum partido votou contra, apenas o PCP se absteve e todos os outros foram alegremente cantando e rindo atrás de interesses económicos que em nada beneficiam a população, mas que pelo contrário cobrem de ridículo o País. Prontamente contra a opinião do Povo, dois desGovernos decidem implantar aquilo que nem os outros países querem aceitar. Triste gente que desgoverna este País!
Caro Carlos Cardoso, obrigado por partilhar desta luta.
Grande João Lima, é isso. Vamos resistindo enquanto pudermos.
Olá, "conservadora ortográfica", e amiga Ana.Por enquanto vamos sendo indiferentes, mas depois, resta-nos a desobediência que, em documentos oficiais, pelo menos na função pública, geram grandes chatices. E eu já começo a ser questionado por não entrar na onda.
Viva, João Guerreiro
Obrigado pelo seu oportuno e esclarecido comentário. De facto há interesses obscuros em todo este "acordo" que nos querem impôr à força. Os que o denfendem não vêm a público, dizer das suas razões. Mantêm-se na penumbra. Por outro lado, são os activistas anti-AO90 que vão demonstrando o disparate que aquilo constitui. Mas o principal perigo, está no encolher dos ombros daqueles que o aceitam só... porque sim.
Abraço a todos.
FA
Olá Fernando,
Eu vou resistir! Porém, em Portugal, os rececionistas, por exemplo, não resistiram. O mesmo não se poderá dizer dos recepcionistas brasileiros!
Em Portugal facto passa a fato; porquê?
No brasil fato mantém fato;
Em Portugal recepcionista passa a rececionista; porquê?
No brasil recepcionista mantém recepcionista.
Um Abraço!
Orlando Duarte
É isso, Orlando. Esses são apenas alguns dos tristes exemplos com que nos vamos deparando. Lastimáveis exemplos. No "Egito" não vivem "egícios" mas "egípcios"! Porque carga de água?
Enfim...
Vamos resistindo, pois.
Abraço.
"Em Portugal facto passa a fato; porquê?"
Não passa, "facto" mantém-se. Haver quem escreva "de fato" ou que o Diário da República imprima expressões como "unidos de fato" é outra questão.
Talvez por escrever conforme aprendi na escola penso que hoje deveria pedir um aval de todo o meu processo escolar. As minhas notas subiam à custa de erros e letras esquecidas por escrever a correr.
Corro com aquele calçado antes do amortecimento. Escrevo à moda antiga como corro à moda antiga :D
Mas gosto muito de ler este blogue.
O Sr Fernando tem sempre palavras que são um encanto,
Ou não fosse o cidadão de corrida,
escrevendo sempre de seu espanto.
Ler e reler palavras do cidadão
É sempre um consolo
com muita satisfação!
Cumprimentos
João Pedro Pereira
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