A par dos deveres de cidadania, o intenso gosto pelo desporto pedestre. Sou um gajo que tem a mania do desporto e que desde os tempos do PREC pratica a Corrida, tendo feito uma incursão pelo Triatlo e que tem preferência pelas longas distâncias. Não corro nada de jeito, mas gosto disto, pronto... ...Ah, e escrevo de acordo com a grafia correCta.
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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Poema em Linha Recta
Hoje trago-vos um poema a sério
Nascido do grande génio pessoano.
Para reflectirmos um bocadinho :
POEMA EM LINHA RECTA (Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e erróneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
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5 comentários:
Nunca é demais... ler, reler...
Um beijinho
Ana Pereira
Amigo Fernando
"Pessoa" no seu melhor se é que tal é possível...
"Pessoa" que como já sabe também hoje está lá no blog do "corredor", o que não deixa de ser uma curiosa coincidência...
Obrigado também "cidadão" pelo post anterior.
Abraço,
António Almeida
No meio de tantas sensações a poesia chama-nos à realidade, é um pouco de todos nós.
Um abraço
Fernando,
se seu blog foi incluído na lista é porque você mereceu, assim como os outros tantos listados. Não é todo mundo que tem como hábito a corrida, e muito menos a capacidade de transmitir suas idéias através de um blog.
Irei adicionar o Cidadão de Corrida entre os meus blogs amigos no Correndo na Chuva.
Um abraço!
Meus amigos
O Natal não é a minha Festa. Uma questão semântica, ideológica, religiosa ou pura teimosia. Mas seja qual for a razão não invalida que eu não o use para dizer que ao menos nesta quadra eu me lembrei de ti, de si, do senhor ou da senhora. Não é uma mensagem que vai ao desbarato para todos os meus contactos. Vai mesmo um a um, porque é um a um que eu quero desejar todas as coisas boas que se deseja aos amigos. É um a um que eu abraço os meus amigos e lhes digo:
Bom Natal e Prospero Ano Novo
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