Um ano após esta história, houve festança e foguetes nos arrabaldes do castelo. Os propósitos
tinham sido conseguidos.
Outro ano se passou e
verificaram-se grandes mudanças : mudou o alcaide, que trazia muitas
propostas novas para a plebe; mudaram os guardiões da bela moira. Desta não havia
notícias e começava a pairar idêntico quadro ao que ocorrera dois anos antes. Iam-se verificando movimentações populares em redor do castelo. Queriam saber dela,
e aqueles que lhe juraram fidelidade e protecção eterna, já se preparavam para entrar em acção.
A multidão foi crescendo e surge então o desejado anúncio de
que tudo estava bem e a bela moira, saudável e encantadora como sempre.
Porém, Ludovico, que nunca se tivera juntado ao grupo dos fiéis (para não
prejudicar, dizia ele, pois tratava-se de uma figura nem sempre bem aceite)mas
que à distância sempre dera algum apoio, desta vez, sozinho e pela calada,
conseguiu seduzir os guardiões da desejada moira, pega-a ao colo e, sem que a
multidão se apercebesse, levou-a consigo.
Faz-se depois anunciar que finalmente, ela poderia receber
visitas. Todos esfregam as mãos de contentamento e acorrem ao local. Era uma enorme tenda de circo e Ludovico
pôs-se à porta:
- São 12 dinheiros para os primeiros a chegar e, quando eu
entender passará a ser 15 e quando eu voltar a entender, serão 18… e 20!
Não adiantava
reclamar.
O pote, onde se iam deitando as moedas, encheu rapidamente e
a tenda já abarrotava de gente. Mas Ludovico tinha mais potes para encher e o espaço na
tenda havia de se arranjar logo que saísse de lá um primeiro grupo.
Fora da tenda era grande a celeuma: uns vociferavam, outros
exibiam cartazes de indignação. Dentro da tenda, a multidão ia beijando a mão
da donzela de olhar doce, mas aqueles que estavam verdadeiramente apaixonados
por ela, estavam incrédulos por vê-la convertida
num produto de venda. Ela, que era de todos! E choraram. Outros nem tiveram
coragem para entrar.
6 comentários:
Divino :-)
Abraço
Muitos não tiveram dinheiro para pagar e choraram de saudades porque já a tinham visto, há muito tempo, antes de ela ser prisioneira...
Maravilhosa história, beijinho
Os que não foram na cantiga do malandro do Ludovico, não vão deixar de prestar homenagem á Bela Moira.
Bela história :D
Excelente texto, caro Fernando Andrade!
É uma vergonha e mais não digo...
Eu vou para outras paragens, ver outras moiras e igualmente encantadoras!
Pois é Caro Amigo Fernando, enquanto a plebe andar a dormir e houver ludovicos oportunistas e alcaides que renunciam às suas obrigações, ainda por cima a troco de dinheiro, vai haver belas moiras exploradas, espoliadas e defraudadas…
Quem viu como o Ludovico chegou em 1984 (ano em que fomos colegas de equipa numa equipa pobre da Madragoa, mas com um ambiente familiar e muito popular, e que se chamava “Os Tartarugas”) e como o vê agora, vai dizer que o Ludovico foi um excelente empreendedor, mas, salvo melhor opinião, eu acho que não foi só empreendedor, foi mais qualquer coisa…
Orlando Duarte
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