Com o perdão da “Mãe”, que já está à espreita, na semana que se segue à Maratona do Porto todo o tempo é curto para dar largas ao extasiado estado de espírito de quem cumpriu aqueles quarenta e dois e picos à volta da Foz do Douro.
Foram muitas as emoções vividas durante a Prova e talvez ainda maiores aquelas a que assisti quando, já refastelado no autocarro que nos transportaria ao Hotel, contemplava os momentos finais da Corrida de muitos atletas.
Separava-me deles a vidraça e dois ou três metros e deixei-me levar pelas expressões de sofrimento e de alegria, pelos gestos de contentamento, pelo entusiasmo do pequenino que se aproximava do pai para lhe dar a mão e partilhar com ele a curta viagem triunfante pela passadeira (abraço António e Vítor), pela esposa que beijava enternecida o marido-herói, pela alegria contagiante de quem tinha dúvidas de que conseguiria e… exultava.
Sei que é parvoíce, mas tive de pestanejar muito rápido, para conseguir dissipar aquele rasto aquoso que se desprende nos olhos, quando somos tocados na alma.
Meus amigos, isto é a Maratona.
E fui ao meu “baú”, procurar um escrito feito em 2006, meio a sério, meio a brincar, quando se discutia se correr a maratona era bom ou era mau, mas, no fundo, o que eu queria dizer é que estava “apanhado” :
“De ti já sou cativo! Sou teu escravo!
Vais-me levar até ao fim do mundo.
Tenho a pena perpétua e com agravo;
Por tanto desejar-te mais me afundo
Neste mar onde … não ganho nem um chavo,
Pois nunca fui primeiro nem segundo.”
É assim que minha mente funciona
Depois que conheci a Maratona,
A grande prova de capacidade
De autocontrole e de superação
Da resistência, da tenacidade
De treino intenso, de motivação,
Que nos traz calma e tranquilidade
Logo que feita uma primeira acção;
E o nosso ego solta confiança
Que o mundo é nosso; de quem não se cansa!
“Deixei tudo por ela, deixei, deixei…”
Dizia o Zé Cabra, do amor da vida,
Assim ando eu, sem regra, sem lei,
Neste fascinante Mundo da Corrida
Onde fiquei preso e onde, ao que sei
Há aí boa gente que ficou “detida”.
Venham, venham mais ver-nos à “prisão”
Quantos mais vierem, mais livres serão.
13 comentários:
Fernando, que palavras... que descrição...
Só quero sentir essa mesma sensação no dia 5 de Dezembro, faça o tempo que fizer, pois será a minha 1ª experiencia na maratona.
Parabéns!
Parabéns a todos os maratonistas e corredores...
Obrigado Henriqueta
Desejo muito que os seus níveis de confiança superem os maus momentos, que serão menos se estiver atenta à necessidade de disciplinar o andamento em função da preparação feita. Ter sempre presente que "podia ir mais depressa mas não quero".
Quanto à sensação no final, supera tudo o que passou para lá chegar.
Fico a torcer por si e talvez dê para a conhecer pessoalmente e expressar-lhe o desejo de boa prova.
Beijinho.
FA
O bicho da Maratona quando se entranha nunca mais se estranha...e pega de estaca!!!!!!
O meu "Afilhado" mandou 3H26'no Porto, 1ª vez. No fim, ainda no parque da cidade disse alto e bom som:
SOFRI E GOSTEI DE A FAZER MAS NÃO ME APANHAM NOUTRA!!!!!
Eu sorri para o lado...pois conforme previa, o "Afilhado" já recomeçou os treinos com vista á Maratona de Lisboa e diz...Não há uma sem duas....!!!!!
Verdade, Luis.
Passar as "passas do Algarve" para tirar o "dipoma e depois não exercer" torna vão todo o esforço feito. Mas o principal é que, depois de fazer uma maratona, transformamo-nos noutra pessoa. O pensamento deixa de ser o que era. Para melhor.
Grande abraço
...e dia 5 lá estamos prontos para outra.
FA
Olá Fernando,
Eu ainda estou a viver a intensamente da minha Maratona, quando leio os post´s, vejo fotografias, a camisola a medalha que esta bem visível, o apoio as palavras encorajadoras e de felicitação, foram e estão a ser momentos inesquecíveis, difíceis de esquecer.
Ando a sonhar acordado!!!
Obrigado pela reverencia.
Domingo lá estaremos juntos na Nazaré mais um convívio e correr!!
Grande abraço amigo
Vítor Veloso
Venham, venham mais ver-nos à “prisão”
Quantos mais vierem, mais livres serão.
Fernando
Muitas vezes tentei desistir desta "prisão". Mas não há palavras senão as tuas para descrever esta sensação de Liberdade
Corremos e as nossas pernas são livres para o fazer.
Vou terminar aqui pois estou como tu, o rasto aquoso está quase a desprender dos olhos.
Bendita escrita que nos faz ter esta emoção.
Abraços
Olá Fernando
Neste 2010 palavras que se mantêm actuais à excepção de:
"Pois nunca fui primeiro nem segundo.”
Mas para que não se habituasse ao 1º lugar resolveram logo acabar com a "douradinha".
Abraço,
António Almeida
Grande Vitor
saboreia bem e prolonga essa sensação de vitória sobre a distância.
Mário, muito Obrigado pelas tuas palavras. Tocam fundo.
António
Na douradinha fui 1º mas foi sem querer. Fiz a prova calmamente, no meu passo cómodo-preguiçoso e só no dia seguinte é que me disseram que tinha ganho no meu escalão. Assim não conta. Tanto que não conta, que ainda não vi a cor do prémio prometido.
Para todos um grande e forte abraço.
FA
Depois disto, só não entra nesta "loucura" (entenda-se: treinar e correr a maratona), quem não tiver uma alma grande, pronta a absorver o turbilhão de sentimentos que lhe estão adjacentes!
A Maratona é um poema!
Fernando,
Já sabes que neste aspecto discordamos pois no meu caso se não fosse pelo dinheiro não me apanhavam a fazer estas coisas...
Abraço.
João
MARATONA
A marca dos 40 quilómetros pintada a amarelo no negro alcatrão.
A mesa, o estenderem-lhe o copo, o abrandar da passada, o beber com sofreguidão.
Copo atirado ao chão, olhar o relógio, espreitar a tabela e uma louca, louca vontade de correr.
Há uma mulher de cabelos pretos – cor de azeitona – que corre para ele numa praia de mar azul.
Há um amigo que lhe martela no cérebro, força, força, força...
Alguém muito querido que o embrulha num cobertor no “funil” de chegada da Maratona de Nova Iorque.
Que louca vontade de correr.
Vai leve e pesado, vai cansado e fresco.
Cada passada tem o peso duma libelinha, o peso de um elefante.
A estrada desce e ele desce em vertigem ao fundo de si.
E aí esta esse risco maldito, essa palavra, amaldiçoada: META.
As palmas, incitamentos, rostos amigos.
E ele “sprinta”, e ele corre para a mulher de cabelos cor de azeitona numa longínqua praia e ela corre para ele.
Passar o risco, gesto automático, desligar o cronómetro, olhar o tempo.
Aí está: 3h10.27, nesse dia 21 de Abril de 1985, na VII edição da Maratona do INATEL, na Foz do Arelho.
Carlos Castro
é isso! Um "turbilhão de sentimentos " que variam entre o "o que é que estou aqui a fazer?!" e o " CONSEGUI". Depois… entramos numa espécie de “estado de graça”.
Grande abraço e força aí nessa recuperação.
Eeheheh,
OH João, a malta não corre por dinheiro, mas corre por outros valores e olha que, em minha opinião, temos ganho muito, pois tudo aquilo porque passamos para chegar à meta capitaliza em favor dos nossos feitos, enriquecendo-os e dando-nos uma satisfação acrescida.
Abração e espero que já estejas pronto para outra.
Jorge Branco
O efeito que a Maratona nos faz é isso mesmo, num texto que espelha bem a façanha. Presumo que o herói deste relato de 1985, seja o meu amigo. Fica para a história.
Grande abraço.
FA
Amigo Fernando Andrade o “herói” dessa façanha era o atleta Jorge Branco que ficou lá no século 20 mas deixou um herdeiro para o século 21 ou seja este seu amigo, “uma “raposa”, velha, manca e coxa” mas que adora correr na liga dos últimos!
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