Com os meus amigos Jorge Serra e Paulo Torrão (estreante)
O meu "tempo-canhão"
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Depois de uma noite bem dormida, o dia amanheceu sereno. Corria apenas uma ligeira brisa fresquinha mas que indiciava vir a transformar-se em calor lá mais para o meio-dia.
Combinam-se estratégias e, curiosamente, quase todos apontavam para as 3,30h como tempo desejado. Daria para se formar um bom pelotão a que só faltaria o balãozinho atado por um fio à cintura de um, como clássica identificação para o marcador de ritmo, que é importante principalmente para os estreantes – e eram muitos.
Cedo chegámos ao local da partida e, à nossa espera, lá estava a tenda do cafezinho. Naquela hora que antecedeu a partida houve oportunidade para reencontrar amigos e conhecer finalmente o Miguel Paiva, que se tinha preparado especialmente para fazer a sua estreia na maratona, tal como o António Almeida. Pudemos, então trocar algumas impressões sobre andamentos, margem de “reserva”, equilíbrio, combate à saturação, procurando ter presente que a prova só “começaria” aos 21km. Algumas fotos e, quando ia entregar o saco da roupa, encontro o Jorge Serra e o Paulo Torrão da minha equipa: Açoreana Clube Banif e com a máquina de amigos de Madrid (Javier Almenderia e João Hébil), ainda conseguimos um “boneco” da equipa, que espero, me seja enviado.
Era, agora, tempo de ir para a zona reservada aos maratonistas. Ainda ouvimos a Vanessa Fernandes, o Carlos Lopes e a Aurora Cunha darem o seu incentivo e a verdade é que, junto a mim, já só tinha os meus amigos Cláudio e o Faísca. Olhei em redor e não vi o Paiva nem o Almeida, pois tinha alguma curiosidade em acompanhar estas duas estreias, que tinham fortíssimas possibilidades de fazerem, connosco, um tempo a rondar as 3,30. Com pena minha, não os vi.
Estavam a ser 9 horas! Num gesto que se regista com satisfação, os atletas, com uma prolongada salva de palmas, agradeciam à Organização, de uma forma simples, mas franca, o gigantesco trabalho e competência que é necessário para pôr de pé, esta Maratona que, com grande entrega, lhes era destinada.
Um helicóptero pairava sobre nós, preparado para captar imagens da partida. À frente saíam os da Maratona, a seguir os da Prova de 14 Km e por fim, os da caminhada, de 6 km.
Ouviu-se um tiro ! Um cumprimento ao Cláudio e ao Faísca e o desejo de uma boa prova a todos e... lá vamos nós enfrentar o “mostrengo” para muitos, mas que vem a revelar-se uma “atracção” cada vez para mais gente.
As contas estavam feitas (embora o Cláudio estivesse um bocadinho renitente em aceitá-las) : a 5 minutos por Km, faríamos a prova em 3,30h ! Como ele levava um cronómetro daqueles que apita em cada km, avisou logo que, o primeiro km ia demasiado lento. Não admira : pelotão ainda compacto e uma subida de cerca de 500m...Havia tempo para recuperar, mas abriu-se um bocadinho o passo e ao 2º km já estava tudo certinho. (Isto é coisa que não se deve fazer, mas pronto...). Estávamos a passar à Casa da Música quando passamos pelo João Hébil que ia calmamente com o seu amigo Javier e não se deixou impressionar pelo nosso andamento (e bem, pois no próximo Domingo vai fazer a Maratona de Nova Yorque e tinha de se controlar). Pela Avenida da Boa Vista abaixo, mesmo a travar íamos com um ritmo muito mais rápido que o previsto, mas como nenhum de nós ia em esforço –por ser a descer, certamente- lá nos deixámos ir a “amealhar”, dizíamos na brincadeira, porque sabíamos que poderíamos vir a ter de gastar todas as “economias” feitas. Aos 7 km, diz o Cláudio: - já “amealhámos” um minuto em 7 km! Daqui a bocado, vai ser 1 km em 7 minutos!”. Rimos, mas sabendo que era muito provável que assim acontecesse.
Na passagem pelo Edifício Transparente, quando nos cruzámos com os atletas que vinham em sentido contrário, “marcámos” alguns conhecidos que, até aos 15 km, conseguimos apanhar, pois ainda íamos na fase de “amealhar”. Passámos pelo Tigre, pelo Vitor Silva e Zé Magro e juntámo-nos a um pelotão com malta do Real Academia e onde iam os meus colegas de equipa, Jorge Serra e o Paulo Torrão que continuaram connosco mantendo o ritmo e o tal pelotão que tinha, talvez, uns dez atletas, desfez-se, ficando apenas nós cinco.
Meia Maratona : 1,40,30! O “mealheiro” ainda ia receber umas “moedinhas”. Entre os 21km (Afurada) e os 25km (Ponte D. Luis) assiste-se a cenas pouco recomendáveis, com ciclistas pouco atentos, a esquecerem-se que havia atletas nos dois sentidos.
-Estamos a “andar” para 3,20! dizia o Jorge Serra !
-Eh lá- disse eu
- Daqui a bocado ouve-se um estoiro, dizia o Cláudio.
–Estoiro vai haver de certeza - disse eu – ou rebentamos nós, ou rebentam foguetes por termos feito uma grande prova !
-Acredito mais na 1ª hipótese – disse o Cláudio.
Na Ponte, vejo o Paulo Quaresma, a passo e lembrei-me que, em 2007, tinha sido precisamente ali que me pus também a caminhar ...e ia com mais 4 minutos que este ano!
Mas agora sentia-me bem. Ainda ! Vejo o Luis Mota, que vinha do retorno dos 28 e pareceu-me que vinha em quebra, pois na Afurada ele tinha passado com outro andamento. Ainda lhe dei um grito, mas não sei se ele ouviu, pois já devia de vir a apelar a toda a concentração possível. Apanhámos o Zé Valentim (que se meteu em "aventuras de copos"na véspera) que vinha também em dificuldade.
Jorge Serra diz ao Paulo Torrão para seguir no meu ritmo, que ele já recuperava e eu achei logo estranho: -mau! Estou mesmo a ir depressa demais-! Resolvi abrandar por vontade própria, antes que fosse obrigado a fazê-lo e perguntei ao Cláudio, que estava a revelar alguma dificuldade, como é que iam “as contas” :
-Já estamos a gastar do “mealheiro”! disse ele - vamos ver até onde é que chega!
O Torrão “desapareceu-me” da vista e o Jorge Serra arrancou atrás dele. Estávamos pelos 29km. Ainda havia muito km pela frente. O Faísca que parecia ter energia para ir para a frente, foi-se abaixo e o Cláudio abrandou. Pensei : -bom, se eu reduzo agora, estou feito. Vou ter de continuar com o passo que trago!
Agora, a preocupação era procurar ter sempre um”bocadinho de reserva”; não correr no limite;.a luta era contra o desgaste psicológico de quase 3 horas de corrida. Entrávamos na zona em que aqueles que tinham calculado mal o esforço, estavam “a pagar a factura”caminhando ou correndo num andamento muito lento. Ir passando por estes atletas, ia-me dando algum alento, embora pensasse cá para comigo que, dali a pouco podia ser eu,; por isso, nada de pensar que “estava no papo”.
Só próximo dos 40km acreditei que já não iria ter quebras e ainda me cruzo com o Torrão (que já vinha em sentido contrário), e que entretanto se tinha visto a braços com caimbras.
Continuava a sentir-me com força para subir aquele “restinho” da Avenida da Boa Vista onde várias pessoas nos incentivavam pronunciando o nome inscrito no dorsal. E que ânimo isso nos dava !
O pórtico, a última curva e… lá estava a Meta: 3.27.15 !!!
Medalha ao peito e eis-me na zona de descompressão, feliz da vida, sem as náuseas que às vezes me atormentam quando exagero no esforço.
Dois dedos de conversa com amigos enquanto se espera por outros, as merecidas felicitações ao Jorge Teixeira, saquinho ao ombro e lá vamos até ao camião-guarda –roupa antes de entrarmos no autocarro para o regresso ao hotel.
Caía o pano sobre esta extraordinária Maratona que conquistou um lugar de destaque entre as grandes provas internacionais e à qual, enquanto puder, não deixarei de marcar presença.
7 comentários:
Olá Fernando;
Desejamos sucesso e que tudo corra bem no próximo fim de semana na Maratona do Porto.
Isto já de 38 maratonas é obra!!
Pois eu dentro de poucas semanas vou eu começar a minha preparação, para Roterdão a 10 de Abril, que será a minha 1a vez. Por isso vai ser uma preparação mais longa e cuidada.
http://www.abnamromarathonrotterdam.com/
Um abraço e cá espero pela "história" da participação.
Xavier's
Belíssima prova Fernando.
Tempo excelente.
Parabéns.
Abraço e desejos de continuação de bons treinos e provas melhores ainda pra você aí em Portugal.
tutta/ubiratã-paraná/brasil
www.correndocorridas.blogspot.com
Para quem nunca fez 1 Maratona sequer, saborear as suas descrições é uma forma deliciosa de compensar.
Uma excelente 38ª na vida e 7ª no/do Porto.
Um abraço:-)
Eu "aposto" nas 3. 26´47´´:-))
Vai uma aposta?
Olá Fernando
A Bela recordação que acredito poderá vir a repetir.
Até depois de amanhã,
Luís Mota
Amigo Fernando, grande epopeia a de 2005, agora, penso eu, é só seguir e pôr em prática aquela descrição. Gostaria que a Ana Paula ganhasse a aposta, era sinal que ambos ficariam muito satisfeitos.
Desejo que tudo te corra bem.
Abraço.
Amigo Fernando,
Um abraço e até Sabado!!!
Mestre
2 anos depois as minhas desculpas por não seguir as suas indicações, não foi por não confiar em si, foi mais por não confiar em mim.
O que interessa é que na 5ª já viajei e que bela viagem.
Até sábado,
António Almeida (estreante na distância na 5ª maratona do Porto).
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