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terça-feira, 1 de junho de 2010

Aí está Junho! um mês de memória.


Mais uma vez a Corrida das Fogueiras vai coincidir com outro grande desafio que tenho em mente. Desta vez é o Trail da Freita-Memorial Sálvio Nora. É que, mesmo antes de saber a data, já tinha prometido ao Moutinho não faltar.
Peniche é, para mim, uma das clássicas de referência e uma das provas que fiz mais vezes ao longo da minha “carreira”. Fico com muita pena de cometer mais uma falta .

Mas há apelos que se tornam irresistíveis.

Percebam porquê, deixando-se envolver pelo perfume do texto de Joaquim Margarido, retirado do site da Prova:



"Há-de vir um Natal e será o primeiro
Em que se veja à mesa o meu lugar vazio"-

(David Mourão-Ferreira, Ladainha dos Póstumos Natais )


Das janelas do meu quarto vejo a Freita. Ora nítida no seu recorte, aos primeiros alvores da manhã, como uma onda a cavalgar a terra; ora apenas adivinhada quando, em tardes de invernia, as nuvens açoitadas pelo vento se desfazem em água no seu seio. É sempre mágica, a Freita. Nos sulcos do seu dorso rasgam-se as dores dum tempo que apenas se adivinha e que os murmúrios do vento teimam em calar. Poiso nela o olhar e deixo-me invadir por uma estranha, suave calma. Tamanha vastidão enche-me de mim. Impossível resistir ao seu apelo. Abro as janelas de par em par e vou. Uma vez mais, vou. Vou porque és tu, Freita, e não outra. Vou para te ouvir o canto em mornas brisas ou no marulhar dos teus regatos. Vou para te ver vestida de flores e me vestir do teu pó. Vou, mas não vou só. Comigo vão todos aqueles que, mesmo não te vendo como eu te vejo, te sentem como eu te sinto. Com eles estarei, não subindo encostas abruptas, não trilhando pedregosos rios, não trespassando portais dos infernos, antes reunido no ideal fraterno da paixão pela corrida e do apego à natureza e à vida. Bem sei que os montes que troto são outros. Todavia, aspirando o mesmo pó que os pés levantam, sentindo no rosto o mesmo ar, bebendo a mesma água cristalina ou magoando as mãos nas mesmas negras e afiadas pedras, serei eu mesmo e cada um de nós. E todos seremos um. Unidos na certeza dum tempo de partilha a clamar liberdade. Quando regressar, voltarei ao meu quarto. Abrirei de novo as janelas de par em par e voltarei a ver-te, negra silhueta que me invade e me acalma. O meu lado telúrico despede-se. Sobre ti, uma estrela brilhará com redobrado fulgor. E então, de olhos cerrados, sussurrarei ao vento o nome de Sálvio Nora.


(Obrigado, José Moutinho, pelo convite)

Joaquim Margarido

4 comentários:

Carlos Pinto-Coelho disse...

Olá Fernando,

Sendo uma prova das mais carismáticas do nosso calendário, as Fogueiras levam-nos a hesitar "fugir" para outro lado. Mas, o desafio é o que nos atrai e acho que escolheste bem.
Um abraço

António Almeida disse...

Olá Andrade
a "falta" em Peniche está inteiramente justificada, divirta-se na Freita.
Abraço.

joaquim adelino disse...

Do mesmo mal me queixo eu, agora que estava a gostar daquilo, mas pronto vira-se a agulha e partimos para outra. Depois voltaremos.
Abraço

Anónimo disse...

Coincidência de datas…

É, de facto, uma perda muito grande esta coincidência… Já somos três (e serão muitos mais) que lamentamos profundamente ter que faltar à clássica de Peniche.

Contudo, há outro facto que lamento na organização da prova da Freita. Nesta últimas edições, e a pouco e pouco, o nome da prova tem sido desvirtuado…

Como sabem, a prova foi baptizada como Ultra Trail Serra da Freita - Memorial Sálvio Nora, em homenagem a um homem que estava muito ligado àquela serra e amigo de José Moutinho. Provavelmente, se o Sálvio não morresse, esta prova teria nascido na mesma, não nas mesmas circunstâncias, mas estou convicto que José Moutinho, mais cedo do que tarde, a faria nascer.

Porém, alguém que é baptizado com um nome hoje, não vê com bons olhos que lhe chamem outro nome passados alguns meses ou anos. Passou-se do oito para o oitenta. Hoje, não há uma única referência a Sálvio Nora no regulamento da prova… Porquê?

Por ser admirador daquele homem que, para além de ter sido um praticante de vários desportos, foi um excelente cronista nos fóruns da modalidade, o que me fez conviver com ele (virtualmente) ao longo de muito tempo, fico muito triste com esta posição da organização. E a continuar assim, não sei se haverá mais Serra da Freita para mim...

Pelo contrário, é com bastante satisfação que vejo que no belo texto de Joaquim Margarido, primeiro, e depois na tua mensagem , há um imenso destaque ao nome de Sálvio Nora!

Por ser de todo justo, a ambos, o meu muito obrigado!

Lá nos encontraremos…
E então, de olhos cerrados, sussurraremos ao vento o nome de Sálvio Nora…

Orlando Duarte