Com amigos, antes da partida (foto André Noronha) |
Na partida (foto Duarte Andrade) |
Aos 32Km (foto Nelson Mota) |
A chegada (fotos Correr Lisboa) |
O que é que esta UMA tem?
Tem …muita areia para percorrer, muito sol a dar nas costas,
muita areia para correr, muito sol a dar nas costas…
Mas tem o fascínio que não há
noutras provas!
Fui de carro para Melides, de boleia com o meu amigo João
Casquilho e com o meu filho Duarte. Chegámos pouco depois das 8. Rapidamente e
ainda no parque de estacionamento, equipei-me, pus o protector em abundância, o
cinto com dois boiões de água e uma bolsa para colocar umas coisitas para a
viagem. Chapéu na cabeça e lá vou, passadiço abaixo, para levantar o dorsal. Ao
lado da lista dos inscritos, e para assinalar que estávamos presentes,
colocámos um tripé com o cartaz da 39ª Meia Maratona de S. João das Lampas.
A primeira surpresa que tive foi saber da redução, para mais
de metade, do número de inscritos na edição de 2014 em que, dadas as condições
do piso, desistiram muitos atletas ( e , talvez, tenham ficado
desmotivados). Outra das razões
prende-se, certamente, com a sobreposição de outras provas ultra, como é o caso
das Caldas e de Sintra. Outra ainda é a realização de uma prova curta nos 15Km
finais do percurso da UMA. Penso que o desejo da quantidade de atletas não deve
ser conseguido à conta da redução de atletas na prova principal. Se a própria
organização diz ao atleta : -“veja lá, se não está disposto a fazer a prova
grande, propomos-lhe outra mais suave, menos esforçada…” , está a retirar o
próprio sustento à UMA e a toda a mística que lhe está associada. Mas adiante.
Umas fotos com amigos, cumprimentos aos muitos que encontrei
, ouvimos, atentos, uma breve apresentação da prova e estava a ficar na hora de
nos encaminharmos para a partida, que foi dada às 9 em ponto.
O Sol já escaldava,
em Melides e a coisa prometia a quem se tivesse esquecido de dar uso ao
protector solar, principalmente nas zonas do corpo expostas à retaguarda e à direita, por onde o “impiedoso” iria
atacar-nos.
Toca a sirene e lá vamos, “amassando” aquela areia que se
afundava a cada passada. Aqui, tenho de reconhecer que a experiência tida das
edições anteriores contou bastante. Seriam, talvez uns 10Km naquelas condições
e seria suicida tentar lutar contra a areia mole. E, embora visse alguns a
escolherem o piso plano, de areia seca , fui decidido para junto da água, onde,
apesar de tudo, era onde a areia estava menos má. Procurava pisar as pegadas
dos atletas precedentes, onde a areia já estava calcada e afundaria menos. Mas
isto era incerto e, ainda antes dos 5 Km, começava a sentir dores nos quadris e
pensei que o melhor seria pôr-me a passo um bocadinho, antes que aquilo me
causasse mal estar e impaciência. Se fizesse isto há uns anos, nunca
interpretaria essa opção como estratégica, mas como um sinal claro de
incapacidade de atingir o objectivo. Volto a corricar: passos curtos, o menos esforçados possível, convicto de que
tudo seria uma questão de paciência e saber esperar pela melhoria do piso, onde
poderia aplicar as energias poupadas naquele calvário inicial.
Como não levava mp3, mp4 ou qualquer coisa com música, ia eu
mesmo a cantarolar cá para dentro, muito ao género daqueles dias em que nos levantamos
com uma cantiga na cabeça e ela nunca mais nos larga, mesmo que procuremos “mudar
a agulha”. Pois bem, a música que me calhou na rifa foi aquela do Miguel Araújo
“Toda a gente sabe que os homens são feios…”. Até mais de meio da Prova, o meu
universo musical, ficou-se por aqui. Não vou prometer que não voltarei a ouvir
a cantiga, mas por uns tempos fiquei tratado.
Passam por mim a Marta Andrade e o Daniel, cada um com o seu
pequeno moinho a girar, numa alegoria perfeita de que, afinal todos nos sentíamos a lutar contra
moinhos de vento.
Conforme previa, o piso começa a melhorar, mas seria ainda muito
cedo para me sentir seguro a correr. Vamos com calma e caminhar mais um
bocadinho. A água que levava, parecia caldo, para além de ganhar o desagradável
sabor do plástico, mas era a que tinha. Tomo um gel e bebo uns goles, pois
devia estar na hora do almoço. (Claro que não sabia quanto tempo de prova
levava-pois não levo relógio- nem quis perguntar). Dou duas ou três trincas
numa sandes de presunto, mas achei melhor ficar por aí, antes que o estômago
começasse às voltas. Estendo os olhos para o longe e avista-se o desenho do
areal que contorna o mar, descrevendo uma curva para a esquerda, na direcção da
Serra da Arrábida. Notava o areal sim, mas nele apenas via os atletas que iam à
minha frente. Nada mais quebrava a continuidade daquela linha branco amarelado.
E pensei : “mas ali deveria ser a Praia do Carvalhal, aos 28!?” Vou-me
aproximando e vejo então umas “formigas” lá, nessa tal curva! E o que foi
preciso correr para que essas “formigas” pudessem ser identificadas como pessoas!
“-Daqui a 20 minutos devo lá estar”! Não
sei quanto tempo terei demorado, mas terá sido 3 ou 4 vezes o palpite que dei!
Controlo dos 28Km (Carvalhal) : somos obrigados a sair da linha da água e subir ao tapete do
controlo electrónico e receber, então, as duas únicas garrafas de 0,5 litros
que a Organização fornecia. Sentado, como que na esplanada, lá estava o Tigre, descontraidamente,
a recuperar as energias. O Heitor Gomes chegou também logo atrás de mim e
prosseguiu. Com a água fresquinha, enchi os boiões e deixei as embalagens no
saco do lixo ( desagrada muito continuarmos a ver embalagens de gel jogadas
pelo areal!) . Tinha os pés cheios de areia e achei melhor ir à água para a
tirar. A água até estava límpida, mas desta vez, não me puxou para o mergulho.
Andei ali a fazer equilíbrio, ao pé-cochinho, tentando calçar as peúgas de novo,
mas sem sucesso, até que o Tigre sugere que me sentasse na água e me calçasse à
vontade e sempre refrescava. Assim fiz ( é bom haver alguém que pense, eheh) e
fomos, depois, os dois, na palheta, a passo. Um pouco à frente, e vendo que
vínhamos a andar, o João Casquilho e o Duarte, que estavam à espera que
passasse, resolveram brincar, desenhando na areia, um corredor especial para a “caminhada”
eheh. Meio “envergonhados” pusemo-nos a correr. Lá vem a Marta, novamente, com
o seu moinho em punho, triste por ter deixado o Daniel mais para trás, e que não se sentia bem. O
Tigre, que estava com mais pujança que eu, foi com ela e cedo desapareceram de
vista. Pouco depois, passa também o
Daniel que, afinal, me parecia ir bem.
“-Bom…vou andar mais um bocadinho, que o que eu disse é que
vinha FAZER a UMA e não que a ia CORRER! “– disse cá para comigo. Mas procurei
usar uma marcha ritmada, para não me deixar cair num relaxe exagerado. Olha a Carla Lemos da Silva! Corremos juntos
um bocadinho e voltámos a caminhar. Passa a dupla Paulo Mota e Jorge Pereira,
que nos lança o desafio: “-toca a
correr, agora a andar!! Todo roto ando eu e vou a correr” -dizia o Jorge. Bem, lá teria que
ser. Acompanhámo-los 100 ou 200 metros e…foi a vez deles porem-se a passo,
enquanto que nós fomos correndo até onde desse. Parecia-me que a Carla ia
melhor que eu, pois impunha uma passada mais forte e lá nos fomos aproximando
da última curva, após a qual deveríamos avistar o pórtico. Lá estava ele, o
gajo: era amarelo, mas pequeniiiiino. Sem que eu me tivesse apercebido, a Carla
baixou o andamento e eu já só me preocupava em ver o tamanho do pórtico “aumentar”:
olhava para o chão, procurava distrair-me um bocadinho, levantava a cabeça e o
raio do pórtico estava na mesma. E foi assim até lá chegar. Os últimos 50
metros de areia seca e ...lá está o arco da glória, com um cronómetro na base a
indicar 6h10m. Uns aplausos sempre saborosos, de quem nos aguardava e feliz por
me sentir em boas condições (nem náuseas tive, como tantas vezes me acontece).
Medalha ao pescoço, um saco da Câmara de Grândola, uma cola fresquinha e a
gostosa melancia.
O caricato vem a seguir: Então não é que vejo o José Gaspar,
que conheço das suas vitórias no Trilho e na Meia das Lampas, vou cumprimentá-lo
e ele, amavelmente perguntou-me como é que tinha corrido a prova. Contei-lhe e
ele diz-me que o importante, de facto, é chegar em boas condições. Deu-me os
parabéns por isso e que eu, obviamente, agradeci.
Caíu-me tudo ao chão, foi quando vim a saber que ele tinha
ganhado a Prova, com 2,58 (ainda eu vinha lá para o Pinheiro da Cruz, talvez)! Quer-se
dizer: ele deu-me os parabéns por eu ter feito 6,10 e eu…fiquei caladinho pelas
brilhantes 2h58 que ele fez. Desculpa lá Zé Gaspar, mas os merecidíssimos
parabéns, só tos posso dar agora. Mas
acho que me fica mal a cara-de-pau de fanfarrão, a receber parabéns do grande
vencedor e não ter, ao menos retribuído.
Figuras tristes de quem se sente ” insuflado” e se esquece que há quem seja
grande, MESMO.
E vão ONZE.