Apesar de termos de enfrentar uma manhã pouco prometedora, com céu cinzento e chuva chata, o pessoal aderiu em força ao XXI Grande Prémio Fim da Europa, tendo esgotado as inscrições para esta corrida mística que liga a mourisca Vila de Sintra ao Cabo da Roca, o ponto mais ocidental do continente europeu.
Poucos seriam aqueles que escolheram esta Prova, para testarem a sua condição. A maioria esmagadora tinha como objectivo, desfrutar de um passeio único que ligasse o verde da serra ao azul do mar (com o cinzento do céu, de permeio).
É bom chegar cedo: mais opções para estacionamento, mais tempo para reencontros, maior descontracção antes do tiro de partida.
Com o aproximar das 10 horas, a Volta do Duche ficou diferente. Compacta de almas e de cores em movimento, serviu de palco ao início de um grande desfile que, nos últimos anos ganhou uma dimensão que se espera possa vir a manter. Para bem de Sintra, para bem da Corrida.
Por momentos, as numerosas esculturas de pedra expostas ali na zona da partida, deixaram de ser o centro das atenções e o imponente paço real, com as suas “gémeas” chaminés cónicas dava o enquadramento perfeito à passagem dos corredores .
Partimos. Sabíamos (a maioria) o que íamos ter pela frente. Procurando manter uma respiração controlada, lá fomos serpenteando, serra acima. Um cheirinho a eucalipto e a pinho, em fragrância, dava-nos a graça que, paisagisticamente, o céu nos escondia. Fomos progredindo, cada um como podia, contando os quilómetros que apareciam marcados em placas de madeira. Uns lentos ou muito lentos, quando subíamos, outros rápidos ou muito rápidos, quando descíamos, até que chegámos ao troço final, após a Azóia, em que, como habitualmente, fomos “brindados” com aquela ventania que nos fazia andar de lado. Mas aí, já estávamos “confortados” com o aproximar da meta e o abrigo da majestosa tenda, onde havia “chá,café,laranjada “ sandes, bolos, etc.etc. servido por “garçons” fardados a rigor.
Em contraste, os “alarves” que, tendo chegado ao Fim da Europa, julgavam que teriam chegado ao “fim do mundo” e “abasteceram-se” descaradamente, enchendo sacos esquecendo-se que vinha gente atrás que teve de contentar-se com uma garrafinha de água.
Compreende-se que tenha havido a melhor das intenções em querer dar a todos os corredores, um tratamento “vip”. Só que… assim não dá. A culpa é dos atletas? Não! A culpa é de alguns “atletas”. O que fazer?
Para os disciplinados pode custar um bocadinho ter de pagar o justo pelo pecador. Mas se ainda não existe, no pelotão português, uma cultura de respeito pelo companheiro de jornada, mas sim do “chico-espertismo” (mais notório nas “minis”, que terminam no mesmo local da prova principal), a única solução será o regresso às “doses individuais” em sacos. Perde-se em requinte, mas ganha-se em justiça. Quando falta o bom senso, tem que se aplicar a “repressão”. Note-se que eu sou a favor das “minis”, mas desde que elas não sejam comprometedoras para o sucesso global da iniciativa. E neste caso, para além de complicar a logística, prejudica –em meu entender- a imagem final da Prova.
Outro aspecto negativo que gostaria de não ter de assinalar : A entrega dos sacos foi desastrosa! Não teve nada a ver com o ano anterior, em que tudo decorreu ordeiramente. Poderá ter havido falta de voluntários, mas deixar os sacos amontoados numa zona onde cada um entrava e remexia à vontade até encontrar o seu (ou o que lhe apetecesse levar) pareceu-me displicente.
“Desapareceu” (ou fui eu que não a vi) a área demarcada para troca de roupa, o que deixou desprotegidos os atletas, que acabaram por se trocar ali mesmo no meio da grande tenda.
Também o serviço de autocarros para regresso a Sintra, que no ano transacto me mereceu elogios, este ano, pareceu-me descoordenado, com paragens mal assinaladas, com filas que rapidamente invertiam o sentido e levavam a que alguns corredores, com frio, se tornassem impacientes, com cenas desnecessárias de provocações e quase violência. Com um serviço de autocarros descoordenado, obriga-se os atletas a recorrerem a alternativas que aumentam a afluência de viaturas individuais para o Cabo da Roca, o que é indesejável. Mas, assim, acaba por ser “inevitável”. E parece-me bem mais fácil controlar umas dezenas de autocarros, do que umas centenas de carros.
Em conclusão : A Prova continua a ser uma das mais bonitas que temos no País. Atingiu um patamar de qualidade invejável e pareceu-me que falhou onde seria mais fácil não falhar. Como sempre, estes reparos pretendem ser construtivos e todos teremos muito a ganhar, se lhes for dada uma atenção especial na próxima edição em que faço questão de estar presente e… de recomendar.