Talvez pudesse pensar-se que quem vai, pelo sexto ano consecutivo ao Melides-Tróia, apenas encare essa participação com naturalidade, em que nada de novo possa descobrir. Mas não é assim. Pelo menos comigo. É certo que não senti o “ nervoso miudinho” de estreante, mas o respeitinho pela jornada estava presente e tinha a certeza de que cada edição nos proporciona uma Prova diferente em que o factor surpresa, é uma constante. Seja boa ou seja má.
Cumprida a rotina habitual do transporte, chegámos a Melides cerca de uma hora antes da partida.
O tempo estava encoberto, conforme se desejava, mas a Praia de Melides, após as obras de requalificação, apresentava-se cheia de “glamour”, com modernas passadeiras em madeira entre a área de estacionamento e o pórtico da partida, no areal .
Para que tudo se processasse com calma, levantámos o dorsal e havia que começar a equipar : colocar protector solar principalmente nas zonas mais expostas (pois embora o céu estivesse encoberto, a qualquer altura o sol poderia “aparecer” e apanhar-nos desprevenidos), preparar o conteúdo da mochila (agora é que é certo : NUNCA MAIS LEVO MOCHILA!),ir à casa de banho (agora já não há necessidade de ir atrás das dunas); tomar um cafezinho, tirar umas fotos com a malta da minha equipa, a ACB, que se apresentava com seis (!) atletas à partida, e outras com malta dos blogues , ouvir as recomendações da Organização (infelizmente ainda há quem não cumpra e continue a deitar fora, as garrafas de água e as embalagens de gel ) e pronto…só faltava encaminharmo-nos para o local da partida, desta vez decorada condignamente com um pórtico insuflável e baias laterais.
Carlos Lopes, mais uma vez, o padrinho da Prova (ladeado pelo Sr. Presidente da Câmara, Vice-Presidente e Vereador do Desporto da Câmara de Grândola) deu o tiro da partida.
Os 214 atletas inscritos (novo record de participantes) iniciam a prova, em diferentes direcções, como sempre acontece: uns preferem a areia seca por ser plana, outros preferem a molhada por ser mais compacta, outros ainda (eu, por exemplo), vão correndo sem se decidirem por qual hão-de optar.
Dizia-me o João Hébil : - “Afinal não estou a perceber a tua estratégia! Vamos por cima ou vamos por baixo?”
Ainda eu estava a “apalpar” o terreno, mas decidi-me a ir por baixo. “- Por aí é muito arriscado!” –dizia-me ele.
Claro que o risco era apenas o de ficar com os pés molhados logo no início da prova. Não convenci o João a vir comigo e, claro, rapidamente fui “atingido” por uma onda que se espalhava pela areia sem se “incomodar” com quem se atravessava no seu caminho.
Havia quem fizesse uma trajectória em zigue-zague , mas eu optei por fazê-lo o mais rectilíneo possível. Mesmo junto à água a areia afundava-se, pois o mar não tinha vazado o suficiente, mas achei que, apesar disso, seria menos desgastante correr ali que na areia seca.
Bandeirinha dos 5,5Km : 39,30 ! Bem bom, pois a parte teoricamente mais difícil, estava quase feita.
O João começou a afastar-se e eu a ver-me obrigado a refrear o ritmo.
Depois vem o desconforto intestinal a obrigar-me a subir e sair da trajectória dos atletas, para aliviar. O “esconderijo” era bastante amplo e permitia-me ver as cabeças dos atletas que iam passando junto à água. Retomo o andamento. Lá vinha o meu amigo e colega da ACB, Francisco Pereira. –“ Vamos embora, Francisco!” – procuro incentivá-lo, mas eu também começava a não estar muito bem. O peso da mochila começava a incomodar-me. Pensei que, se não me libertasse da carga, dali a pouco poderia vir a ter problemas de dores nas sacro-ilíacas (nas “cruzes”! para não estarmos cá com “paneleirices”) . “-O melhor é mesmo começar a beber água , nem que seja só para bochechar e sempre seria menos um kilo e meio. Vai um cubinho de marmelada para acompanhar. Gostei e ganhei algum ânimo. Mas a areia… essa continuava a não querer colaborar e já estavam decorridos mais de 15km.
Entretanto, também já tinha os sapatos cheios de areia e pensei em fazer uma paragem para dar algum conforto aos pés. Tiro os ténis e passo-os por água. Fiquei só com as peúgas. Lembrei-me que no ano passado, vinha equipado com um plástico que estenderia na areia, para fazer essa operação, mas este ano, facilitei e não o trouxe. Com os ténis um em cada mão, pus-me a correr e achei que os pés estavam melhor sem eles. Mas não dava jeito correr com as mãos assim ocupadas. Vejo o Nuno Espírito Santo, também ACB, junto a uma moto-quatro, “em conversações” com a Organização. Mau- pensei! Ainda lhe disse qualquer coisa, mas ele – vim a saber- estava decidido a parar mas não podia abandonar ali e teve de ir até ao próximo posto de controlo. Uma baixa importante nas “aspirações” da equipa.
O que eu queria mesmo era chegar aos 28,5km e alijar a mochila e os ténis, que a organização me devolveria no final. Por volta dos 27, com o Carvalhal à vista, mas “lá looonge!!!” tenho uma enorme quebra e tive de me pôr a passo. Registo, com agrado os incentivos que recebi no percurso( não me lembro é onde), dos meus colegas de equipa, André Quarenta e Lúcia Oliveira) .
Passo o controlo dos 28,5! Finalmente. Tiro um gel da mochila, recebo as duas garrafinhas de água e peço para deixar a “carga” que tinha a mais. Ali mesmo, não resisti ao apelo das águas límpidas e calmas da Praia do Carvalhal e…vai um mergulhinho. Vestido e tudo! Tão bem que soube!
Uma garrafa de água em cada mão e um gel. Agora era só o que tinha. Sentia-me leve e, a pouco e pouco, vou ganhando um andamento que até a mim me surpreendia. Ganhei umas uvas fresquinhas que o Eduardo me deu (isto não se pode dizer porque é proibido!) mas que vieram mesmo a calhar.
Finalmente (por volta dos 34 km) a areia começou a ficar melhor, facilitando a corrida, e continuo a ganhar andamento. Alguém vinha em sentido contrário, correndo. Era o meu amigo Virgílio Madeira, da ACB, que vinha ao encontro da malta para incentivar nos últimos km. Fez-me companhia quase até Soltróia. Disse-me que ia num andamento forte (!) e isso estimulou-me, pois o piso agora estava bom e só faltavam 6km. Eis que aparece mais um ACB, o grande ultra Carlos Fonseca. Como eu ia bem, o Virgílio e o Carlos foram ao encontro do Francisco.
Vou ganhando posições e resolvo tomar o gel que trazia, para ver se não perdia ritmo. Aguentei-me bem. Passo pelo meu colega ACB, Carlos Souto e nem dei por isso (só no final é que ele me disse) alcanço o Pedro Amorim , o grande Ultra da Comrades e da Freita que, “influenciado” pelas Melíadas veio do Porto participar na UMA e terminámos juntos, esta Edição de 2010.
5.51.09.
Como não quero chatear muito, volto depois para contar mais coisas.