Foto roubado ao Vitor Pinto |
Com o Nuno Sabino, meu "salvador" |
Com a Paula Simões e o Sérgio Andrade |
A levantar o dorsal ( e o Miranda atento à papelada) |
Esta é daquelas que não merece um texto, mas um livro.
Estive presente em todas e, só numa – a 8ª – não corri,
limitando-me, com alguma tristeza, a assistir.
Não sabia, mas, com surpresa, fiquei a saber que esta 10ª
edição seria a última da prova dos meus encantos. É que foi aqui que tive a minha
1ª experiência em provas de trail e que adorei. Lembro-me bem que ia com medo,
tendo colocado como 1º objectivo nunca ficar sozinho, pelo risco de me perder,
ou cair lá pela zona das arribas e não ter quem me ajudasse. Mas, ano após ano,
as capacidades foram diminuindo, numa proporção idêntica ao aumento da
experiência (ou mania) e…lá fui repetindo a graça. Sempre armado em campeão e
optando pela maior distância, como se isso fosse sinal de robustez mesmo que os
tempos miseráveis obtidos viessem dizer o contrário. Mas dava-me gozo concluir
o desafio.
Esta 10ª Edição, seria mais uma. Mas quando soube que seria
a última, fiquei com alguma tristeza, mas compreendi que os seus organizadores
estavam com dificuldades em manter este figurino e já têm na calha um novo
projecto que ajuda a aceitar melhor este “eclipse” do TNLO. Venha de lá esse
novo projecto!
Não posso deixar de me sentir muito grato e reconhecido à
Organização, por me terem atribuído o dorsal 1. Uma honra enorme, que me deixou
sem palavras, pois a única coisa que fiz para o merecer, foi gostar desta Prova
e dizer que gostava. Muito obrigado amigos do TNLO. Fico com uma dívida enorme
para convosco.
Quanto à minha Prova, destaco dois pormenores que, por
acaso, até se interligaram : o 1º foi notar que me tinha esquecido do telemóvel
no carro, quando já estávamos a caminho do ponto da partida real. Pensei se
deveria dispensá-lo, ou se seria melhor fazer um desvio, mesmo que isso me
atrasasse a partida. À cautela, optei por ir buscá-lo, por uma questão de
segurança. O 2º já vão ver qual foi. É
claro que já todos tinham partido, quando cheguei ao pórtico, mas ainda via os
últimos e não precisava de pressa porque, houvessem pernas, tinha muitos
quilómetros para integrar o grupo. O “vassoura” pôs-me à vontade, lembrando-me
que o importante não é como se começa, mas como se acaba”. Grande verdade. Calmamente
lá fui progredindo e, se calhar, entusiasmando-me mais do que o recomendado.
Anoiteceu. Liguei o frontal e a paisagem passou a ficar
reduzida a um círculo. O resto era breu, interrompido por outros frontais que,
uns mais perto, outros mais longe, davam o sinal de presença humana no meio do
descampado.
Tinha eu corrido cerca de 22 km (pouco depois do ponto de
separação dos percursos 23km e dos 43km), numa altura em que fiquei só, vejo-me
completamente às escuras! O frontal tinha descarregado completamente, de forma
súbita. E agora? Atrás de mim ainda esperei, mas não vi sinais de alguém que eu
pudesse acompanhar e quem ia à minha frente, ainda que pudesse ter pernas para
alcançar, não tinha luz e seria arriscado tropeçar (como aliás me aconteceu
ainda de dia e fui ao chão). Não queria desistir, mas só quando aparecesse alguém,
é que eu poderia prosseguir. Foi quando me lembrei do telemóvel, mas como nunca
tinha usado a lanterna que tem incorporada, andei ali às aranhas, para a ligar.
Mas lá consegui. Ah…este, como terão reparado, foi o 2º pormenor de que falei,
que estava interligado com o 1º.
Telemóvel na mão, procurando as marcas reflectoras e o sítio onde punha
os pés, fui andando ou correndo conforme podia. A terrível subida dos 25 km,
foi feita à luz do telelé. Chegado ao abastecimento, onde pensei não encontrar
atletas, pois estava muito atrasado, fico surpreendido por ainda lá estarem uns
quantos. E a colaborar, estava lá o meu amigo e companheiro de equipa, Nuno Sabino,
que pediu emprestado a um amigo que desistira naquele local, o seu frontal! Grande
alívio.
Uma grande parte do percurso que restava, fi-lo na companhia
do Herculano e da esposa, Elisa, que foram muito importantes, para não quebrar
nos momentos menos bons que sempre aparecem.
Último abastecimento. Mais 8 km e já está. Mas estes km são “muita
compriiiidos”! E depois havia ainda que subir a encosta norte para entrar no
Castelo. A passo, claro está. E entro no anfiteatro que tinha como cenário a
réplica da Porta da Traição. 7h;10m. Fui 135º da geral, de 152. Resultados completos.
Fui logo chamado ao pódio, pois acabara de ser (tal como em
2017) o 3º M60. Compreensivelmente, pois as pessoas têm mais que fazer, do que
ficar à espera de quem “anda a passear”, o 1º (Manuel Victorino) e o 2º (Douglas
Fry) já lá tinham estado e por isso, subi ao pódio sozinho. Contentíssimo, na
mesma, recebi a medalha correspondente, acompanhada de uma garrafa de vinho “Gaeiras”
especial.
E pronto, faltava apenas que o estômago me autorizasse comer
aquela sopinha divinal, o que consegui e me soube pela vida. Já não deu foi
para comer uma fatia do bolo de anos do Orlando Duarte, pois eu já estava a
começar a tremer de frio e ainda tinha de vir até ao carro que estava no outro
extremo da Vila. Nesse trajecto, pela Rua Direita, deserta, lá venho eu, de
andar novo, que não passou despercebido a um grupo de 5 ou 6 pessoas, que saiam
de uma porta lateral. Passei, disse-lhes boa noite e depois ouvi um comentar para os restantes: “ – Ouve, meu! Esta malta paga para correr 43
km!!!! Já viste o que é pagar para levar uma tareia destas!??Ainda se fosse
para ir um concerto…para uma visita a qualquer coisa…um bom programa… entendia
bem, mas isto!?!?”. Olhei para trás e, meio manco, pés e pernas sujos de lodo, garrafa de vinho numa mão e tigela na outra, dei sinal de que tinha ouvido o comentário e sorri.