Rio de Frades (no final do Trilho do Carteiro)
Quanto à minha opinião sobre o UTSF (e foi a primeira vez que lá estive) acho o seguinte: - Se o Moutinho, pela sua louvável dedicação a este tipo de provas, pretende captar mais gente para elas, escolheu mal, ao enveredar por esta versão "extreme", só ao alcance de muito poucos. Há que chamar as pessoas à montanha sim, mas de forma suave. Pelos comentários que ouvi (ainda a quente, é certo) muitos não querem lá voltar. Se o Moutinho pretende fazer do UTSF a "Prova mais difícil do Mundo", como ele diz orgulhosamente, aí fica reservada a meia dúzia de semi-deuses.
Os aspectos relacionados com a segurança, também merecem uma atenção especial, pois em pisos bastante perigosos (gostam de lhes chamar "técnicos"), se houver azar e o atleta não conseguir sair dali pelos seus próprios meios, estamos perante uma situação complicada para resolver. Mas aí, penso que pouco haverá a fazer, pois não é possível colocar nos sítios mais perigosos, equipas de socorristas de prevenção. Quanto à dureza do traçado, bom, ela foi anunciada e mostrada a sua altimetria com algumas indicações sobre as características do piso. O problema é que se devíamos saber o que tínhamos de trepar, não nos pareceu que o que tivéssemos de descer fosse tão complicado. Se a subida era lenta, para nos pouparmos, a descida era ainda mais lenta, para nos protegermos, pelo que não podíamos nunca compensar o tempo perdido. E o relógio não parava. E os postos de controlo eram implacáveis.
Também esteve mal, o Moutinho, quando, peremptoriamente, dizia que não seriam classificados os que chegassem depois das 15h de prova, quando já estava mais que provado que foi ele que falhou os cálculos. Esse limite foi determinante para o abandono de muitos. Já no dia seguinte, resolveu classificar todos os que chegassem à meta. Só que essa informação seria muito importante para os que, já tendo feito 60km viram que não conseguiriam chegar nas 15 h e optaram por abandonar. É caso para dizer que se fez justiça para quem foi persistente e injusto para quem acatou o Regulamento. O correcto seria dar instruções aos pontos de controlo para informar os atletas de que os limites tinham sido alargados.
Outra coisa que me doeu o coração foi o facto de ver atletas a chegar, darem-lhe um pólo e uma garrafa de água e, não fosse o locutor de serviço, Fernando Costa, fazer uma pequena entrevista a quem ia chegando, aquele momento que há tantas horas era esperado, não tinha a dignidade que merecia e se impunha. Um esforço épico merece uma lembrança especial, que não seja a pensar em aproveitamentos para futuras edições (parece que não puseram a edição no pólo) e é de nos deixarem estupefactos, quando juntamente com o dorsal nos dão uma t-shirt da… 2ª edição !!!
Estou convencido que dá muito trabalho, organizar um evento destes, de 70 km no meio da serra, em que aqueles que têm o privilégio de o completar, devem ter a grata sensação de missão cumprida e esse é o grande prémio. Mas a Organização também ficaria melhor, se tivesse uma lembrança para eles, na proporção do esforço efectuado. Não falo de coisas caras. Falo de coisas que até poderiam ser pedaços de xisto com uma inscrição tipo “ Eu completei o UTSF-27.Jun.2010”. Seria uma honrosa medalha, que todos teriam orgulho em mostrar, sem onerar o orçamento da Organização e esta livrar-se-ia de uma crítica em que há unanimidade.
Voltarei ao tema.