Com o meu amigo estreante Paulo Neves, que se portou à altura. (Foto de Lúcia Oliveira) |
A gloriosa equipa da ACB (Foto de Lúcia Oliveira) |
E pronto. Já está (Foto de Zé Carlos Melo) |
Chegado a Melides no autocarro da organização que apanhei em Tróia, fui levantar o dorsal e fazer a selecção do material que me acompanharia até Tróia. Num recanto da enorme passadeira de madeira que nos leva à praia, estava ali o meu amigo Carlos Pinto Coelho a preparar-se. Foi ali mesmo que arreei a mochila e fiz o mesmo. Ver se não me esqueço de nada: Dorsal na camisola, protector solar na pele exposta (pois o dia anunciava calor), ir bebendo água para ficar hidratado para uma hora, pelo menos; Colocar um cinto com 3 “frasquinhos” de 1 dl com bebida energética, uma bolsa com uns géis; calçado como se fosse para uma prova de estrada; chapéu na cabeça, óculos de sol. Na mão, uma garrafa de água. O resto da “trouxa” era para enfiar num saco e entregar na carrinha da organização.
Ainda deu para ir tomar um cafezinho no bar da praia.
Depois, vem o compasso de espera, as fotos da praxe com o pessoal da ACB e com outros amigos, o habitual briefing com as principais recomendações e pronto, era só aguardar pelo tiro da partida .
Ei-lo. Calmamente, lá fomos avançando na areia solta. Rapidamente, fomos descendo na direcção da água, tentando maior firmeza no piso: Passos curtos, joelhos semi-flectidos, respiração controlada, sem pressa, lá fui avançando. Escolhi uma faixa intermédia, pouco pisada e onde o pé pouco afundava. Quanto mais económica fosse a corrida, maior era a probabilidade de sucesso. Ah… e não levava relógio.
A “cólica” começou a incomodar, logo por volta dos 3Km. Ai o caraças!!! Não valia a pena adiar por muito mais tempo aquilo que mais tarde ou mais cedo, acabaria por acontecer e faço então um DRAT (Desvio de Rota para Alívio da Tripa), subindo e ultrapassando a “aresta” que separa o plano horizontal do plano inclinado, o que me permitia deixar de ser visto na minha “privacidade”. Neste primeiro contra-tempo, a primeira falha :- remexi a bolsa e nada de ver os lenços de papel, que são obrigatórios. Valeu-me um velho panfleto de uma corrida, que ali tinha ficado esquecido. 3 ou 4 minutos depois, retomo a trajectória e o ritmo de passada que levava e que me permitia ultrapassar vários corredores que, entretanto tinham passado. Mas…nada de entusiasmar! Havia tempo de progredir, mas o importante seria manter a frescura o mais possível.
Chego-me junto ao António Almeida e ainda fomos juntos algum tempo. Foi aqui que tive a única informação quanto ao tempo feito, quando ele me diz : “Eh, pá 18,5Km em duas horas!? Não vai mau!”, ao que eu respondi que, lá mais para a frente, de certeza que viria a pagar a factura.
O sol ia aquecendo, o António deixou-se ficar num ritmo mais suave e eu, sabendo que ele corre bem mais que eu, comecei a achar demasiada ousadia da minha parte. Mas sentia-me bem, apesar de ver ao longe aquele pórtico intermédio tão pequeniiiiiino! E corria, corria…e não o via “crescer”. Não podia fixar-me nele, mas sim distrair a mente e apreciar a paisagem ou, simplesmente, pôr os olhos na areia, cabisbaixo, à espera que o tempo – e a distância - passassem. Vai um gel, dos três que tomei (de maçã, que me caiu que nem ginjas). Finalmente, alcancei-o. Ufa! Pouco depois, começo a sentir pela frente uma brisa “abençoada” que muito ajudou a retemperar o corpo, mesmo soprando de frente. Mas era uma brisa, nada comparado àquilo que aconteceu em 2011 em que tínhamos de inclinar o corpo para vencer a forte ventania que nos travava a progressão. Agora não. Era fresquinha e sabia bem.
Dão-me duas garrafas de água (a que eu levava na mão, desde início, tinha-a feito durar até ali). Uma em cada mão, lá vou eu, sem fazer qualquer paragem.
Às tantas, comecei notar uma quebra no ritmo e a sentir um certo “chamamento” daquelas águas. Surge o dilema: Ou continuo a correr, mesmo agastado a ver até onde é que consigo ir; ou faço uma paragem por vontade própria, refresco-me com um mergulhinho e retomo a corrida com outra disposição. E acabaria de vez com aquela ideia do “apetecia-me era um mergulhinho, apetecia-me era um mergulhinho…”. Ganhou o mergulho. Aos 37,5, logo após o controlo…espera aí que eu já te digo : tiro o cinto, os óculos, o chapéu e “lá vai ele ao banho”. Li em qualquer sítio que era contraproducente, ir ao banho durante a prova, mas a verdade é que, naquelas condições de temperatura, achei uma excelente solução. E resultou. Para além de reduzir a temperatura corporal (e a consequente necessidade de hidratação) , permitiu-me bochechar com água do mar, combatendo de forma tão simples, a instalação de uma hipotética hiponatrémia, seguindo um conselho de “tradição” do amigo António Miranda. Depois disto, não senti quebra no andamento. Antes pelo contrário, aumentei o ritmo e ganhei vários lugares e, quando chego à última curva, vejo o pórtico. Talvez mais um Km. Subo, na areia solta os últimos 50m. O relógio da meta indicava 4,48,01! Agora sim, tinha curiosidade em saber o tempo, mas pela forma como me tinha corrido a prova, comparada com as anteriores, tinha um palpite que andaria abaixo das 5h. Estava feita a minha 8ª. Lá vêm as felicitações de amigos e, como não podia deixar de ser… as náuseas (que também vêm sempre “felicitar-me”). O repouso, as bebidas, a fruta, a conversa e ir vendo a chegada vitoriosa e feliz dos outros companheiros de jornada.
Terminada a prova ouvem-se os comentários e compara-se com a nossa própria apreciação. Mas isso será matéria para um novo apontamento.