A minha Lista de blogues

domingo, 18 de dezembro de 2011

Boas Festas


Dia de Natal

Hoje é dia de ser bom.

É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,

de falar e de ouvir com mavioso tom,

de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.



É dia de pensar nos outros— coitadinhos— nos que padecem,

de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,

de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,

de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.



Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,

como se de anjos fosse,

numa toada doce,

de violas e banjos,

Entoa gravemente um hino ao Criador.

E mal se extinguem os clamores plangentes,

a voz do locutor

anuncia o melhor dos detergentes.



De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu

e as vozes crescem num fervor patético.

(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?

Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)



Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.

Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.

Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas

e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.



Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,

com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,

cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,

as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica.



Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,

ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.

É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,

como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.



A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.

Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.

E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento

e compra— louvado seja o Senhor!— o que nunca tinha pensado comprado.



Mas a maior felicidade é a da gente pequena.

Naquela véspera santa

a sua comoção é tanta, tanta, tanta,

que nem dorme serena.



Cada menino

abre um olhinho

na noite incerta

para ver se a aurora

já está desperta.

De manhãzinha,

salta da cama,

corre à cozinha

mesmo em pijama.



Ah!!!!!!!!!!



Na branda macieza

da matutina luz

aguarda-o a surpresa

do Menino Jesus.



Jesus

o doce Jesus,

o mesmo que nasceu na manjedoura,

veio pôr no sapatinho

do Pedrinho

uma metralhadora.



Que alegria

reinou naquela casa em todo o santo dia!

O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,

fuzilava tudo com devastadoras rajadas

e obrigava as criadas

a caírem no chão como se fossem mortas:

Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.



Já está!

E fazia-as erguer para de novo matá-las.

E até mesmo a mamã e o sisudo papá

fingiam

que caíam

crivados de balas.



Dia de Confraternização Universal,

Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,

de Sonhos e Venturas.

É dia de Natal.

Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.

Glória a Deus nas Alturas.


António Gedeão

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Requiem" - Fim da Europa

Assim, vazia, a Estrada da Pena não é a mesma coisa...



Foram anos e anos a subir
Serra acima em cenário queirosiano
Para depois descer sempre a sorrir
Que a Corrida não deve causar dano.
Mas a surpresa estava para vir
Fruto de um “traumatismo troikiano”
Sofrido p’lo edil em tão má hora
Que pôs os corredores dali p’ra fora.


-Senhor! - disseram todos a uma voz
- Nós só q’remos correr, ficai tranquilo;
Nem um tostão queremos, nem arroz,
Porque teimais em acabar com “aquilo”?
Não temeis vir a ser o nosso algoz
Mas temeis pela troika algum vacilo.
Sem piedade, retirastes toda a “tropa”
Deixando-nos a sós no Fim da Europa.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

G.P. FIM !

De Sintra

Até onde a Terra acaba...

Meus amigos, lamentavelmente, parece que não há nada a fazer.

Uma decisão política que não nos agrada mas que devemos respeitar. Afinal, tem sido dito repetidas vezes que, para nós, os que corremos, a Corrida é a mais importante das coisas secundárias. Para quem não corre será apenas uma coisa secundária. E se tivermos de nos pôr na pele de quem tem fortes restrições orçamentais, teremos de compreender que outras opções poderão afigurar-se prioritárias.

É verdade que foi ignorada a proposta da retirada total ou quase total dos custos (porque haverá uma imagem a defender e a provável desordem -principalmente no Cabo da Roca - iria afectá-la negativamente). Também a reformulação da prova por forma a torná-la menos dependente de complicada logística, não foi atempadamente estudada. E, por muito que nos custe, o futuro da prova deverá passar por aí.

É com a tristeza de quem conhece as origens deste Grande Prémio Fim da Europa e participou em 20 das 22 edições realizadas; de quem sempre disse que esta era a Prova mais bonita que Sintra poderia apresentar; de quem viu o brilho nos olhos daqueles que se sentiram orgulhosos por tê-la colocado num merecido lugar de honra, que vos trago a má nova de que as diligências se revelaram infrutíferas e se confirma o seu cancelamento.

Bem sei que não falta por aí gente disposta a fazer o percurso com ou sem o beneplácito da CMS. Também haverá quem o faça por protesto. Mas gostar de correr e gostar do local onde se corre é razão bastante para que ali nos concentremos a desfrutar da Corrida e a desfrutar daquela deslumbrante paisagem. Façamos deste gesto um tributo ao desporto pedestre e ao romantismo de Sintra. Sem rancores nem ressentimentos que criem crispações. Compreendamos que, a um homem do Desporto como é o Prof. Seara, também não terá sido fácil tomar uma decisão que penaliza o Atletismo sintrense.

Já todos ouviram falar na “dor fantasma dos amputados” em que o braço já lá não está, mas o doente sente dores horríveis na mão. Isto porque o membro “deixou” a sua representação no cérebro e essa continua lá, processando as sensações da mesma maneira.

Mal comparando, o cancelamento do GP Fim da Europa, resulta em algo idêntico: a prova não está lá, mas todos a sentem como se estivesse e querem aparecer em massa.

Mas também o caso pode ser visto ao contrário: a Prova continua mas a Câmara é que deixou de senti-la. Temporariamente, por certo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

XXIII GP Fim da Europa

Ai que saudades, ai...ai! (fotos Tudo Nice 2009)



Aqueles que gostam desta Prova concerteza que já pensaram assim : - “ Como é que é possível que uma Prova que, demorou vinte anos a conquistar um estatuto dos mais prestigiados que se pode conseguir (apesar do seu enorme potencial) seja cancelada assim, sem mais nem menos? “


O pretexto já se sabe: falta de verbas. Mas será que alguém – com poder de decisão - pensou que, não havendo dinheiro para se fazer uma prova faustosa (como nas últimas edições) se poderia fazer uma prova à medida do pouco que se conseguisse? Quem é que de nós exigiu prémios? Quem é que de nós não estaria disposto a pagar apenas para que nos fosse assegurado o “serviço mínimo” (policiamento, seguro, classificações)? Não pode haver tenda? Não pode haver autocarros? Pois que não haja. Ficaremos mais dependentes de nós próprios e de nos organizarmos em grupo. Então e… não seremos capazes? Foi assim durante mais de 15 anos.

Bem sei que quem tem a responsabilidade de gerir um orçamento mais limitado, se vê na obrigação de fazer opções de acordo com a sua sensibilidade para o que considera de maior interesse público. Mas ter-se partido do pressuposto que o GP Fim da Europa era uma Prova dispendiosa não foi correcto.

O GP Fim da Europa foi uma criação da Câmara de Sintra e que a Câmara demorou a investir nela transformando-a naquilo que ele é hoje. Como é que a mesma Câmara que colocou a prova “lá em cima” a tenha derrubado de forma tão abrupta? A responsabilidade da criação vai mais longe que a responsabilidade do criador, pois a envolvência de tanta gente no sucesso alcançado, mereceria outra consideração por parte da edilidade.

Aquilo que se quer é muito simples : podermos correr entre Sintra e o Cabo da Roca ! E isso, seja como for, vai acontecer. Mas ficarei triste se a Câmara ficar de fora do processo, pois ninguém poderá evitar que se transforme a iniciativa (com centenas de corredores) numa jornada de protesto.

Mesmo sem ter sido mandatado, continuarei até à última, a diligenciar para que não se deite fora uma obra que demorou muitos anos a construir e que mostra aos participantes o que Sintra tem de melhor para mostrar. Promover Sintra não passará por aí?

domingo, 11 de dezembro de 2011

Europeu de Corta Mato -Eslovénia



“É LIXO”! É o que dizem as agências
Da desgraçada dívida que temos.
“É PRATA” ! Respondem as evidências
Quando ao pé das mais fortes nós corremos.


Sem Jéssica, sem Sara e sem Inês…
Era muito sonhar com uma medalha
Mas apela-se ao sangue português
Que sabe premiar quem bem trabalha.

Eis que a Dulce, a Leonor , a Anália Rosa,
A Ana Dias mais duas cerram dentes
E trouxeram a prata da Eslovénia.


Falharam profecias odiosas
Que o feito de meninas tão valentes
Merece bem de nós, curvada vénia.

sábado, 10 de dezembro de 2011

XXII Grande Prémio Fim da Europa

"O belo é eterno"  (onde é que eu já li isto?)

Não é fácil resignarmo-nos à notícia do cancelamento desta Prova. Depois das faustosas últimas edições do Grande Prémio Fim da Europa, que nos deixaram a todos de boca aberta, ao servirem-nos "caviar" à chegada, abrigados numa enorme tenda..., a factura deixou marcas no orçamento municipal, o que teve como consequência a anulação da prova em 2012. É claro que, todo aquele "brilho" precisava de garantias de sustentabilidade que, pelos vistos, não existiam e que a austeridade veio ofuscar ainda mais depressa. Inconformados com tão drástica decisão de Fernando Seara, já se assistia à movimentação de um grande número de corredores dispostos a comparecer no dia e hora aprazados, para fazerem a Prova em versão pirata. Mas estariam esgotadas as possibilidades de se fazer a prova em termos oficiais? Não sabemos. Por isso, tomei a liberdade de fazer algumas diligências junto da edilidade, no sentido de salvar a prova, tendo presente que o essencial seria a beleza do percurso e a segurança dos corredores e isso não implicaria grandes despesas. Solicitei ao Sr. Presidente da Câmara que reconsiderasse e na próxima semana entregar-lhe-emos um plano de baixo custo que permita a sua aceitação.
É evidente que será importantíssimo que os participantes se mentalizem apenas no desfrute do percurso em segurança. Tudo o que se conseguir para além disso, será ganho.
Está a ser elaborado um novo "caderno de encargos" que seja viável. Veremos o que das "negociações" irá resultar, com a esperança de que Seara não tenha nenhuma senhora merkel a segredar-lhe ao ouvido.
É preciso acreditar! É preciso acreditar!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

26ª Maratona de Lisboa

A gloriosa ACB
à chegada ao estádio (foto Paulo Pires)

A consagração (foto Zé Sousa)

O orgulho de mais uma
Está mais que na altura de dizer qualquer coisa sobre a 26ª Maratona de Lisboa, por pouco que seja, pois a minha paixão pela distância, assim o exige.
Notaram-se significativas melhoras em relação ao ano anterior, mesmo sem falar dos eventos que se realizaram na véspera e se integravam na “Festa da Maratona de Lisboa”, nomeadamente na Caminhada do Pequeno Almoço (a que não assisti) e no Simpósium “Corrida no Século XXI” (a que assisti e gostei, embora tenha tido uma assistência bem mais reduzida do que, de facto, os temas em debate mereciam). Mas, adiante: a Feira estava bem composta e havia diversidade de expositores ligados à modalidade. Achei, no entanto, pobre a sinalética para o local do Secretariado (Estádio 1º de Maio). Apenas umas faixas publicitárias da Seaside, junto às cancelas, faziam adivinhar que algo se passaria no interior. Era giro que houvesse ali, à entrada, um outdoor apelativo, informando que era ali o local onde se desenrolavam as operações. Mas no dia da Prova já lá estava e bem. Gostei também de ter sido melhor organizada a partida, pois em 2010, nem pórtico havia.

Foi usado também um novo sistema de chip descartável da brasileira Chip Timing que, ao que parece, funcionou bem, tendo sido apurados para cada atleta, o tempo oficial e o tempo de chip. Reparei, no entanto, ao contrário do que é habitual, que as classificações são ordenadas em função do tempo de chip. Concordo com esta solução, mas não deixo de concordar com a outra. Por mim, está tudo bem.

Depois da foto de família com o pessoal da gloriosa ACB (que, desta vez, apostou mais forte nas estafetas, tendo conquistado o 1ª lugar das equipas femininas –Parabéns para as nossas ilustres atletas), cada um foi à sua vida, fazer os preparativos que entendesse, para enfrentar, com confiança, o desafio que aí vinha. Sem stresses, ainda fui tomar um cafezinho e, quando dei por mim, faltavam 10 minutos para a partida. Já o pessoal estava posicionado atrás do pórtico e eu ainda a tirar o fato de treino, pôr o dorsal e o chip. Encaminho-me para o local e dois ou três minutos depois soa o tiro.

A ideia era seguir uma estratégia semelhante à que usei no Porto : sem relógio, sem pressão, correndo ao sabor da vontade e da resposta do corpo. Andei com o marcador das 3,30 na Gago Coutinho, mas sabia que devia manter a calma e, no Areeiro, já ele ia uns 30m à frente. Passam uns amigos do PortoRunners (Pedro Amorim, Luis Pires, João Oliveira) num grupo em que ia também o Álvaro Pinto, mas aquilo era muito para mim. Deixa-os ir…! Já lá para as Telheiras, aproximou-se o meu colega de equipa e amigo, Virgílio Madeira e mantivemo-nos com o marcador ainda à vista até aos 15Km. Também o “Tigre”, que se tinha deixado levar pelo ritmo das 3,30, começava a “acender a luz do óleo” e passámos por ele. Às tantas, tivemos uma “visão” : uma jovem nórdica (digo nórdica, porque era loura e usava umas trancinhas vikings) despudoradamente, agacha-se atrás do rail, rabiosque ao léu virado para quem vinha de trás e aliviou ali mesmo, as “águas” que a incomodavam, na maior das descontracções, sem reparar tão pouco que tinha escolhido um verdadeiro “palco” permitindo àquela “plateia” que se aproximava,” arregalar” a vista sem ter que forçar o pescoço. Ainda à nossa frente, compõe-se, retoma o ritmo e “desapareceu” da nossa vista.

Mantive-me com o Virgílio até à Fontes Pereira de Melo, quando reparei que ele tinha ficado para trás. Sigo depois em solitário. Na Praça do Comércio, passa o José Carlos Pereira. Ia bem e continuou a ganhar vantagem. Meia Maratona. Não sei quanto tempo levava, mas, pouco depois, começo a notar sinais de pessoal que tinha partido dali há pouco tempo. Olha o Zé Carlos Jorge! Depois começo a cruzar-me com os que vinham do Dafundo, onde era o retorno aos 28km. Lá vinha o Luís Mota, o Desidério e tantos outros. É verdade que dá algum ânimo cruzarmo-nos com gente conhecida, uns da Maratona, outros da Meia, outros da Estafeta, mas dá mais ânimo ainda quando nos cruzamos, mas já somos nós a vir de lá. Os abastecimentos para mim eram apenas água e isotónico. Os sólidos não me atraem. Andei sempre com uma garrafa na mão, trocando-a em cada abastecimento. Não pesa muito e assim, refresco-me quando me apetecer e não quando a Organização acha que me apetece. Há coisas em que posso mostrar alguma “autoridade”,eheheh.

Praça do Comércio.35Km, Chega-se a mim o Alex, que vinha em bom ritmo. Disse-lhe para seguir mas ele fez questão de me acompanhar, abrandando o passo. Aí, eu estava a entrar naquela fase de “relaxaria” com a desculpa de me estar a poupar para subir a Almirante Reis. A tentar iludir-me. Mas o Alex ficou comigo, sacrificando a seu tempo e tendo o bom senso de não me pressionar minimamente com aquela do “bora”, “consegues mais um bocadinho”, “não te deixes ir abaixo”, coisas que, como sabemos, são ditas com a melhor das intenções mas têm um efeito retrógrado. Essas “bocas de ânimo” – e eu tenho-as usado – são para quando passo por alguém que quero deixar para trás. Não. O Alex manteve-se ali, sereno, recordando até que no ano passado se tinha posto a andar naquela interminável subida. Às tantas, até achei que estava a reagir bem e ganhámos algumas posições. No Areeiro, a missão do Alex estava feita e “dei-lhe ordem” para se ir embora. Obrigadão Alex, sem essa ajuda teria que somar uns minutitos ao tempo final. A coisa estava por 2 Km .Em pouco tempo estava a entrar no estádio que, em vez do habitual relvado verdinho, estava cheio de montões de terra, devido a obras de substituição da relva. Lá estava o pórtico: 3,41,40.

Sentei-me um bocadinho. As náuseas não vieram, sinal de que não exagerei. Depois, dão-me o saco seaside, com uma t-shirt de “finalizador” – boa ideia- água, maçã, barra energética. Do outro lado, o chazinho quente e a medalha ao pescoço. Atento o Zé Sousa, ia fotografando os amigos nesse momento de glória. Estava feita mais uma Maratona, a minha 9ª consecutiva em Lisboa (de 11) e a 43ª das Maratonas de Estrada e a 52ª se juntar as ultras.

E não se riam se eu vos disser que “ganhei” todas.