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A gloriosa ACB |
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à chegada ao estádio (foto Paulo Pires) |
A consagração (foto Zé Sousa)
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O orgulho de mais uma |
Está mais que na altura de dizer qualquer coisa sobre a 26ª Maratona de Lisboa, por pouco que seja, pois a minha paixão pela distância, assim o exige.
Notaram-se significativas melhoras em relação ao ano anterior, mesmo sem falar dos eventos que se realizaram na véspera e se integravam na “Festa da Maratona de Lisboa”, nomeadamente na Caminhada do Pequeno Almoço (a que não assisti) e no Simpósium “Corrida no Século XXI” (a que assisti e gostei, embora tenha tido uma assistência bem mais reduzida do que, de facto, os temas em debate mereciam). Mas, adiante: a Feira estava bem composta e havia diversidade de expositores ligados à modalidade. Achei, no entanto, pobre a sinalética para o local do Secretariado (Estádio 1º de Maio). Apenas umas faixas publicitárias da Seaside, junto às cancelas, faziam adivinhar que algo se passaria no interior. Era giro que houvesse ali, à entrada, um outdoor apelativo, informando que era ali o local onde se desenrolavam as operações. Mas no dia da Prova já lá estava e bem. Gostei também de ter sido melhor organizada a partida, pois em 2010, nem pórtico havia.
Foi usado também um novo sistema de chip descartável da brasileira Chip Timing que, ao que parece, funcionou bem, tendo sido apurados para cada atleta, o tempo oficial e o tempo de chip. Reparei, no entanto, ao contrário do que é habitual, que as classificações são ordenadas em função do tempo de chip. Concordo com esta solução, mas não deixo de concordar com a outra. Por mim, está tudo bem.
Depois da foto de família com o pessoal da gloriosa ACB (que, desta vez, apostou mais forte nas estafetas, tendo conquistado o 1ª lugar das equipas femininas –Parabéns para as nossas ilustres atletas), cada um foi à sua vida, fazer os preparativos que entendesse, para enfrentar, com confiança, o desafio que aí vinha. Sem stresses, ainda fui tomar um cafezinho e, quando dei por mim, faltavam 10 minutos para a partida. Já o pessoal estava posicionado atrás do pórtico e eu ainda a tirar o fato de treino, pôr o dorsal e o chip. Encaminho-me para o local e dois ou três minutos depois soa o tiro.
A ideia era seguir uma estratégia semelhante à que usei no Porto : sem relógio, sem pressão, correndo ao sabor da vontade e da resposta do corpo. Andei com o marcador das 3,30 na Gago Coutinho, mas sabia que devia manter a calma e, no Areeiro, já ele ia uns 30m à frente. Passam uns amigos do PortoRunners (Pedro Amorim, Luis Pires, João Oliveira) num grupo em que ia também o Álvaro Pinto, mas aquilo era muito para mim. Deixa-os ir…! Já lá para as Telheiras, aproximou-se o meu colega de equipa e amigo, Virgílio Madeira e mantivemo-nos com o marcador ainda à vista até aos 15Km. Também o “Tigre”, que se tinha deixado levar pelo ritmo das 3,30, começava a “acender a luz do óleo” e passámos por ele. Às tantas, tivemos uma “visão” : uma jovem nórdica (digo nórdica, porque era loura e usava umas trancinhas vikings) despudoradamente, agacha-se atrás do rail, rabiosque ao léu virado para quem vinha de trás e aliviou ali mesmo, as “águas” que a incomodavam, na maior das descontracções, sem reparar tão pouco que tinha escolhido um verdadeiro “palco” permitindo àquela “plateia” que se aproximava,” arregalar” a vista sem ter que forçar o pescoço. Ainda à nossa frente, compõe-se, retoma o ritmo e “desapareceu” da nossa vista.
Mantive-me com o Virgílio até à Fontes Pereira de Melo, quando reparei que ele tinha ficado para trás. Sigo depois em solitário. Na Praça do Comércio, passa o José Carlos Pereira. Ia bem e continuou a ganhar vantagem. Meia Maratona. Não sei quanto tempo levava, mas, pouco depois, começo a notar sinais de pessoal que tinha partido dali há pouco tempo. Olha o Zé Carlos Jorge! Depois começo a cruzar-me com os que vinham do Dafundo, onde era o retorno aos 28km. Lá vinha o Luís Mota, o Desidério e tantos outros. É verdade que dá algum ânimo cruzarmo-nos com gente conhecida, uns da Maratona, outros da Meia, outros da Estafeta, mas dá mais ânimo ainda quando nos cruzamos, mas já somos nós a vir de lá. Os abastecimentos para mim eram apenas água e isotónico. Os sólidos não me atraem. Andei sempre com uma garrafa na mão, trocando-a em cada abastecimento. Não pesa muito e assim, refresco-me quando me apetecer e não quando a Organização acha que me apetece. Há coisas em que posso mostrar alguma “autoridade”,eheheh.
Praça do Comércio.35Km, Chega-se a mim o Alex, que vinha em bom ritmo. Disse-lhe para seguir mas ele fez questão de me acompanhar, abrandando o passo. Aí, eu estava a entrar naquela fase de “relaxaria” com a desculpa de me estar a poupar para subir a Almirante Reis. A tentar iludir-me. Mas o Alex ficou comigo, sacrificando a seu tempo e tendo o bom senso de não me pressionar minimamente com aquela do “bora”, “consegues mais um bocadinho”, “não te deixes ir abaixo”, coisas que, como sabemos, são ditas com a melhor das intenções mas têm um efeito retrógrado. Essas “bocas de ânimo” – e eu tenho-as usado – são para quando passo por alguém que quero deixar para trás. Não. O Alex manteve-se ali, sereno, recordando até que no ano passado se tinha posto a andar naquela interminável subida. Às tantas, até achei que estava a reagir bem e ganhámos algumas posições. No Areeiro, a missão do Alex estava feita e “dei-lhe ordem” para se ir embora. Obrigadão Alex, sem essa ajuda teria que somar uns minutitos ao tempo final. A coisa estava por 2 Km .Em pouco tempo estava a entrar no estádio que, em vez do habitual relvado verdinho, estava cheio de montões de terra, devido a obras de substituição da relva. Lá estava o pórtico: 3,41,40.
Sentei-me um bocadinho. As náuseas não vieram, sinal de que não exagerei. Depois, dão-me o saco seaside, com uma t-shirt de “finalizador” – boa ideia- água, maçã, barra energética. Do outro lado, o chazinho quente e a medalha ao pescoço. Atento o Zé Sousa, ia fotografando os amigos nesse momento de glória. Estava feita mais uma Maratona, a minha 9ª consecutiva em Lisboa (de 11) e a 43ª das Maratonas de Estrada e a 52ª se juntar as ultras.
E não se riam se eu vos disser que “ganhei” todas.