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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Os amigos diziam-lhe que estava com bom aspecto e de boa saúde, pois conseguia transmitir a quem a visitava, qualquer coisa de especial, não se sabe bem o quê, mas que convidava a voltar. Por outro lado, tinha mau feitio e os seus altos e baixos não eram encarados por todos da mesma forma.

Tinha poucos amigos, mas bons. Havia quem gostasse dela tal como era e quem gostasse que ela fosse de outra maneira.

Mas ela era assim: pequena pelo raquitismo de infância; rude porque nunca frequentou escolas prestigiadas; pobre porque nunca mereceu as atenções dos endinheirados; anónima porque pouco se falava dela.

Apenas tinha vontade de existir, de continuar simples e de trabalhar para ter à sua volta quem gostasse dela.

Chegou o dia de anos. Acordou com olheiras e irritada por ter dormido mal, receando não conseguir receber, condignamente, os convidados. Sabia que tinha tudo atrasado para a festa. Vestiu-se com a melhor fatiota que tinha, aplicou uns cosméticos para melhorar o seu aspecto e ficou ali, procurando receber toda a gente com um sorriso.

- Mas que bem que está! – diziam-lhe.

Ela sabia que estavam a ser simpáticos, mas quanto gostaria de acreditar que assim fosse!…

-Quem vê caras não vê corações! - respondia ela, vindo-lhe à cabeça as atribulações porque passara. Sabia que não estava assim tão bem. Dos remédios que tomara nem todos tinham sido eficazes e faltaram também algumas medidas profilácticas, pois surgiam-lhe dores onde não esperava que surgissem. Valia-lhe o doce amparo de mãos amigas.

Divertiram-se e a festa acabou. Estava cansada e sentia-se com tosse e com dores de cabeça mal disfarçadas.

Atento, um clínico dirigiu-se para ela. Observou-a de alto a baixo e fez-lhe o exame objectivo. Com o polegar, baixou-lhe as pálpebras que revelaram as escleróticas com indícios de anemia. Depois, pousou-lhe o estetoscópio no dorso e ordenou:

-Diga trinta e três!

-Como?

-Diga trinta e três! – repetiu com mais força.

Ela hesitou. Lembrou-se das palpitações que sentira na véspera e do desejo de uma tranquilidade estival que vai tardando e que o tempo vai passando implacavelmente pela vida e que a vida dela precisa da de outros, que se vão cansando da pressão e da azáfama vividas nestes dias. Súbito, à sua mente veio a lembrança das palavras de felicitações e de encorajamento e a alegria de ter visto o rejuvenescimento das bases em que se sustenta e a ideia de que tudo será mais fácil se houver a capacidade de antecipação dos problemas ao invés da utilização sistemática de soluções de recurso.

Uma luzinha de esperança iluminou-a e então, lá disse:

- Trinta e três, doze de Setembro de dois mil e nove!
- Trinta e quatro, onze de Setembro de dois mil e dez!
- Trinta e cinco …

4 comentários:

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Soberbo (o texto) como já nos habituou.

E muitos anos de vida à Menina dos seus olhos! 33, 34, 35..., tenha eu vida para os festejar com ela! Esses e muitos mais!

Um beijinho

Ana Pereira

António Almeida disse...

Caro Fernando Andrade

não que do Fernando não fosse de esperar mas este texto é simplesmente genial.
Aproveito também para o felicitar pelo enorme sucesso que foi uma veza mais a Meia de São João das Lampas.
Foi também para mim um enorme prazer o ter conhecido pessoalmente e agradeço-lhe a excelente tarde de sábado.
Um abraço,
António Almeida

Fernando Andrade. disse...

Embora muito, muito atrasado, não quero deixar de agradecer à Ana e ao António, a simpatia dos comentários que aqui deixaram e, por favor, não tomem a minha demora por desrespeito. Até já os tinha lido, mas, como não respondi logo, acabei por esquecer-me. Não me esqueço, no entanto, de visitar diariamente (ou quase) os vossos blogues na ânsia de novos "desenvolvimentos".
Curiosamente, conheci a Ana e o António exactamente no mesmo local, nos minutos que antecediam o tiro da partida da Meia de S.J.Lampas (29ª e 32ª).
Muito obrigado a ambos.

Herculano Araújo disse...

Fernando parabens pelos diplomas estão um expetaculo.


Um abraço