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domingo, 16 de novembro de 2008

Não é p'ra me gabar...











Estive, ontem, na qualidade de presidente da APOPA,(acompanhado pelo Vice-presidente, Artur Domingos) na Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Atletismo, na qual foram apresentados o Orçamento e Plano para 2009 e feita a tomada de posse dos órgãos sociais para o quadriénio que se inicia.

A dada altura, o Presidente da Associação de Atletismo de Lisboa referiu, entre outras coisas, que a crise do meio fundo e fundo se devia a factores intrínsecos à FPA e a factores exógenos, como a “atomização dos treinadores” ( quase que cada atleta tem o seu treinador), à “proliferação das provas de estrada”...

Eu gosto de passar despercebido, mas entendi que não podia deixar passar esta afirmação. Seria minha obrigação contestá-la, pelo que pedi a palavra e disse o seguinte :

“- Pretendo apenas referir-me à intervenção do Dr. Marcel Almeida, quando colocou entre os factores responsáveis pela crise do meio fundo e fundo, as provas de estrada. Posso estar errado, mas discordo desta afirmação pois entendo que se não fossem as provas de estrada o nosso atletismo estaria ainda pior.Não devemos esquecer-nos que o número de pistas existentes não cobre satisfatoriamente o território nacional. Eu próprio, que moro a 30 Km de Lisboa, se quiser correr em pista precisarei de andar 20 Km!

O Dr. Marcel Almeida esclareceu que o que dissera era que as provas de estrada desviavam os atletas das pistas. (Será muito diferente?)

Da parte da mesa é feita uma intervenção por parte do Arq. Luis Leite, dirigindo-se especificamente ao presidente da APOPA dizendo que, “ tinha estado a analisar os números europeus e constatei que, em termos de meia maratona, em Portugal existem 10 atletas no top 40 da Europa, enquanto nas outras disciplinas existe apenas um ou dois. E mais não digo!”

Achei interessante esta informação, mas, com toda a franqueza, não vi relação com aquilo que eu tinha dito. Mas aquele “e mais não digo” deixou-me a matutar.

Já a caminho de casa é que se fez luz na minha cabeça e constatei que sou mesmo de compreensão lenta!!!

Lembram-se de um texto que eu pus no Cidadão de Corrida, quando o Samuel Wanjiru ganhou a Maratona dos JO de Pequim, texto esse que o Prof. Mário Machado publicou no último nº da Spiridon? Passo a transcrevê-lo :

O Samuel é um “chavalo” que hoje tem 21 anos, e que, desde muito cedo, se habituou a correr quilómetros e quilómetros lá pelos campos do corno de África. Há cerca de 2 anos, na Holanda , ainda com idade de júnior, cometeu a proeza de bater o record do Mundo da Meia Maratona !Agora, em Pequim, bateu , em quase 3 minutos, o Record Olímpico da Maratona, de que o nosso Carlos Lopes foi detentor durante 24 anos!Refiro-me apenas a dois espectaculares feitos do Samuel só para dizer que isso nunca teria sido possível se ele tivesse nascido em Portugal, onde um junior, não pode ter a “veleidade” de querer correr uma meia maratona!Entretanto, os resultados do nosso fundo e meio fundo, estão mesmo... a bater no fundo.Talvez o Samuel faça reabrir o “dossiê” da discussão em volta do tema.Se se provar que é a saúde do jovem atleta que corre riscos, então, que fique tudo como está. Mas o que parece claro é que esta teimosa interdição dos jovens em participar em provas com mais de 10 Km, impossibilita o aparecimento de novos valores na maratona.De ambos os lados da questão sei que existem sérias convicções, mas o que é visível é que no tempo de vigência desta lei , o “fundista” português é uma espécie em vias de extinção. Pode ser só coincidência, mas custava tentar ?


Ora, aquele “mais não digo” -suponho eu - era uma espécie de contraponto ao que eu dissera neste texto: Afinal, o nosso fundo não estava nada no “fundo”, pois havia 10 meio-maratonistas nos 40 mais da Europa. E isso é bom !

Subtilmente, o que o Arquitecto me disse, afinal, podia ter a seguinte leitura : “Olha lá, meu, andas p’raí com apontamentos desbocados, mas os números provam que afinal, o nosso fundo está bem melhor que qualquer das outras disciplinas, o que demonstra que estamos a trabalhar bem”.

Imaginam, agora, a minha cara de parvo a perceber isto só duas horas depois !

3 comentários:

MPaiva disse...

O tema da crise do nosso meio fundo e fundo é extremamente pertinente. Quem acompanha o atletismo sento-o de forma muito evidente de há uns anos a esta parte, pelo que seria importante que houvesse da parte dos responsáveis pela modalidade a tomada de iniciativas para inverter o problema.
Não querendo ir muito longe, e pelo o relato do que se passou na AG da Federação, parece-me que, infelizmente, não é de esperar grandes melhorias nos próximos tempos...

joaquim adelino disse...

Amigo Fernando
A postura da Federação face ao minguar da qualidade de atletas de fundo e meio fundo é, de à muito tempo a esta parte, responsabilizar o Atletismo que se pratica na estrada. Têm tentado de tudo para dificultar a expansão desta vertente promocional do Atletismo, criaram um organismo próprio para controlar as provas de estrada, pelos vistos não está a acontecer; nos regulamentos das provas de estrada tentam limitar ao máximo a autonomia dos organizadores.Mas se não fossem as provas de estrada como é que a Federação iria realizar os campeonatos de estrada em Portugal? É bom que a Federação comece a virar a agulha envolvendo-se mais em articular todas as envolventes do Atletismo, correndo-se o risco se assim não for, nos afundarmos ainda mais e então aí as estatísticas irão certamente piorar.
Caro Fernando, você sabe o que faz e melhor o diz, a sua experiência e responsabilidade credebiliza-o para no lugar certo expressá-lo. Acho que é esse o caminho.
Em Tomar continuaremos esta conversa.
Desculpe por me ter alongado um pouco.
Receba um abraço.

Ricardo Baptista disse...

Caro Fernando,
Será que me pode explicar uma coisa? Como é que as provas de estrada estão a roubar atletas às provas de pista? Um lançador faz provas de estrada? Um velocista? (desculpe esta ignorância) Um meio-fundista, já percebo.

Agora eu, que já fiz provas de estrada e provas de pista, posso dar o meu ponto de vista para sempre ter preferido as provas de estrada: há muita burocracia nas provas de pista (ou pelo menos havia), é a chamada para o local, é o local de aquecimento, é teres de ir por ali, não podes passar por aqui... Enquanto na estrada é tudo mais simples, mais humano e mais divertido.
E o público? É que fazer 12,5 voltas a uma pista de tartin sem ninguém a aplaudir ou a apupar... é bem mais dificil que correr uma meia-maratona.

Quanto ao Arq. Luís Leite, teria esta pergunta para ele: Quantos atletas portugueses existem no top 40 mundial da meia-maratona? E já agora, quantos europeus também lá estão?

Bons treinos e boas provas.

Ricardo
http://maratona.blogs.sapo.pt/