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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Trilhos de Sintra à Noite



Foi giro! Dou por bem empregue o facto de me ter inscrito e participado nesta Prova , cujo “defeito-mor” está no nome que lhe deram : Run Sintra Trail By Night , blhaaaac…! Porque raio hão-de dar àquilo que é tão português, nomes estrangeiros, como se fosse essa a via para uma eventual internacionalização do evento!? Sintra não fica mais bela porque é descrita em inglês. Sintra é bela porque é bela. Quem for inglês, que fale dela em inglês com a simplicidade ou com o talento que cada um tenha. Percebe-se que Lord Byron tenha dito de Sintra o que disse na língua que conhecia, mas jamais se perceberia que Eça o tivesse feito sem ser em português.
Mas deixemo-nos destas questões e vamos a esta fabulosa  Corrida, que me levou a sítios por onde, vergonhosamente,  nunca tinha andado. Disse “vergonhosamente”, porque sou de Sintra! O traçado, embora anunciado,  deixei propositadamente, que fosse surpresa: Saída do Palácio da Vila, Volta do Duche, Rio do Porto, Escadinhas do Hospital, Largo da Vila e… a partir daí, junto ao Café Paris, penetrámos naquela Sintra invisível por quem não a percorre a pé (ruas estreitas, em calçada, com arcadas, com escadinhas, esquinas e mais esquinas, pequenos pátios); Estrada dos Seteais, entrada para a Quinta da Regaleira, com os seus imponentes jardins que, mesmo à luz ténue dos frontais dos atletas, deixava adivinhar os seus encantos meio escondidos pelos muros altos que a cercam. Aí, naquele serpentear de caminhos pedonais, que atravessavam riachos por pequenas pontes de madeira e sempre na presença do murmúrio das águas, assistiu-se a alguma confusão que, para aqueles que tinham mais espírito competitivo, foi uma enorme desilusão : as voltas estavam a sair repetidas, os da frente misturavam-se com  os do meio  e às tantas já ninguém sabia que rumo tomar, até que um elemento da organização, rompe uma das fitas balizadoras e dá uma indicação alternativa para que pudéssemos prosseguir. Passámos depois por um túnel escavado na rocha, que nos conduzia ao fundo do famoso Poço Iniciático, que ostentava o desenho de uma estrela octogonal e ao centro, um archote aceso a chamar a atenção. Subimos a escada em espiral contemplando os diversos nichos – cada um com o seu archote -  marcando os níveis . Chegados lá acima, continuámos a correr saindo dali. Penetrámos num trilho da Serra, por vezes enlameado, mas com um cheirinho a eucalipto agradável e penetrante que, a acreditar nos velhinhos xaropes caseiros que se fazia com estas folhas, certamente terá ajudado a “abrir” as vias respiratórias. Apetecia gritar : AR PURO!  Entrámos no alcatrão da Rampa da Pena, num pequeno troço comum ao GP Fim da Europa e depois, por uma pequena porta aberta numa espécie de contentor entrámos no Parque da Pena, onde, por diversas vezes encontrámos árvores caídas atravessadas no trilho. Ora saltávamos, ora passávamos por baixo, sempre atentos ao piso escorregadio que aqui e ali encontrávamos. Às tantas  estávamos a entrar no Castelo dos Mouros, que percorremos com atenção aos inúmeros degraus e às irregularidades do percurso, o que nos impedia de contemplar, de lá de cima, a vista enorme que dali se tinha : Uma espécie de firmamento terreno estrelado,  era o aspecto das terras planas que se estendem a norte da serra. Mas o momento não era para contemplações e havia que continuar.
Descemos, depois para S. Pedro e aí entrámos na zona urbana, onde já era possível correr até à meta instalada no Parque da Liberdade, no antigo ringue de patinagem, onde o chazinho quente e as bolachas Maria (seus malandros, anunciaram chazinho em chávena e bolachinhas recheadas e deram-nos chá em copo de plástico e bolacha Maria!!iol) estavam à nossa espera.
Soube há pouco que demorei  1,27,02 a fazer a Prova, ou melhor, a minha prova (pois aquela confusão na Quinta da Regaleira fez com que nem todos tenham feito o mesmo percurso) e classifiquei-me na 128ª posição da geral e 6º  do escalão M50.
Comentários: Foi uma excelente experiência em que apenas lamento a confusão na Quinta da Regaleira.  Permito-me apenas, fazer uma sugestão : Dado o volume de atletas, seria sempre de escolher um percurso inicial largo, durante cerca de 3Km para permitir que o pelotão “esticasse” de acordo com os andamentos de cada atleta. Só depois se poderia entrar naquelas ruas e escadas estreitinhas, por onde só pode passar um de cada vez. Por isso, não teria utilizado as escadas para o Rio do Porto, a pouco mais de 500 metros da partida. Havia a possibilidade de utilizar a estrada que passa junto aos Paços do Concelho e que também conduziriam à Escadinha do Hospital, onde uma nova “selecção” colocaria os atletas nas respectivas posições. O que se passou na Quinta da Regaleira, não passou de um acidente de percurso. Não nos esqueçamos que, numa prova desta natureza, quem vai à frente é tentado a seguir o caminho óbvio, quando, muitas vezes, é necessário “arrepiar caminho” estando sempre atento aos sinais reflectores. Se isso não acontece, os que vão atrás, confiam e seguem os passos de quem já vai enganado. Depois…acontece.
Sublinho, no entanto, que o espírito das provas de trilhos, não deve ser tão competitivo quanto as clássicas provas de estrada, mas sim participativo e de forma a que cada um, “saboreie” melhor o cenário envolvente, conhecendo sítios que, de outra forma jamais conheceria. Isso vale muito mais que chegar nos primeiros lugares.
Quando voltar a haver esta prova, estarei lá! AH…mas, por favor mudem-lhe o nome e escolham uma data mais primaveril. 
(ver se arranjo umas fotos...)

3 comentários:

Jorge Branco disse...

Caramba!
Que tortura!
Eu para aqui parado, a ver se recupero umas peças avariadas, e leio uma descrição, absolutamente fabulosa, de uma prova que me parece ser de sonho!
Aqui está uma prova que muito gostaria de fazer se o esqueleto voltar a ter condições e se conseguir ultrapassar os problemas logísticos e económicos que uma prova realizada em Sintra de noite acarretam para mim.
Totalmente de acordo quanto ao nome da prova e ao uso do Inglês.
Um pequena sugestão: o corpo, ou tipo de letra, usado no texto parece-me algo pequeno e, pelo menos a mim, torna-se algo cansativa a sua leitura. Se calhar é defeito meu que alem de ser uma "Raposa Manca" sou, igualmente, uma "Raposa Pitosga""! Forte abraço.

Isa disse...

Deve ter sido espectacular.
Obrigada pela sua descrição, desta forma senti quase que estive lá.
Boas corridas!

Fernando Andrade. disse...

Obrigado, Jorge. Faço votos para que "isso" recupere rápido e não perca a esperança de penetrar nas entranhas da Serra, mesmo numa noite gelada como a de ontem. Quanto ao tamanho da letra, vou ver se consigo escolher um tamanho maiorzito.
Grande abraço.

Obrigado Isa. Pode crer que foi mesmo espectacular. Basta que a organização lime umas arestas. Mas quem ia para apreciar o percurso, esteve-se borrifando para as falhas da organização. O mais importante é que as críticas não desanimem quem nos proporcionou este belo evento.
Beijinho.