Se houver imaginação, haverá sempre forma de se pugnar pela
verdade desportiva nas corridas, tantas vezes atropelada pelo chico-espertismo
daqueles que conseguem retirar algum prazer na glória vã de feitos que não cometeram.
Aparentam. Falseiam os resultados. Distorcem a realidade. Iludem os outros como
se não estivessem a iludir-se a si próprios. E é assim que vão passeando no
desporto fazendo-se passar por quem não são. Camuflados na molhada.
Falemos em concreto na Maratona. Quem se aventura a percorrer
a distância dos 42,195 Km tem o dever de avaliar o esforço que irá despender. Se
conseguiu cumprir tem todas as razões para ter a agradável sensação de
superação pessoal e uma certa transcendência por ter sido capaz. Se não
conseguiu cumprir – e ninguém melhor que o próprio saberá que não cumpriu –
deverá reconhecer que ainda não era o momento e que haverá mais oportunidades
para o fazer. Não vem daí nenhum mal ao mundo, pois ninguém lhe retira o mérito
de, pelo menos, ter tentado.
Porém, o momento mágico de cortar a meta está reservado para
quem conseguiu, como a consagração de quem cumpriu o desafio. “Quem quer passar
além do Bojador, tem de passar além da dor.”(F.Pessoa). Aqueles que apenas buscam
a consagração sem ter passado pelo que ela representa sabem que não estão a ser
correctos e não têm de ficar melindrados pelo facto de ter sido tornada pública
a listagem dos incumpridores na última edição da Maratona do Porto.
A Organização encontrou nesta medida, uma excelente forma de
moralizar a participação numa prova tão séria como é a Maratona.
Numa altura em que as organizações competem entre si, na
busca de apresentar o maior número possível de atletas chegados, a Runporto,
possivelmente indo contra os seus próprios interesses, desclassificou 88. E revela
a lista onde ninguém gostaria de se ver mencionado. Numa próxima, estou certo,
esta lista será substancialmente inferior, numa demonstração clara de que esta
medida deu frutos.
Bem sei que já haverá por aí quem pense que se trata de um
desrespeito pelo bom nome. Mas seria respeito pelo bom nome tratar de igual
modo os que cumpriram e os que fingiram ter cumprido, tentando ludibriar os
seus companheiros de corrida e a Organização?
Não só considero muito positiva esta medida, como desejo que
outras Organizações façam o mesmo. A lista de atletas chegados, que todas as
organizações desejam ser o maior possível, encontra aqui um filtro que
sacrifica o número em prol da verdade.
Para já fica um grande exemplo na luta contra a trapaça
desportiva.
Parabéns Runporto.
4 comentários:
Completamente de acordo com tudo o que está aqui escrito!
Em 2013 e 2014, a Meia de Lisboa retirou da classificação 169 e 241 atletas, respectivamente, pela mesma razão. Em ambos os anos fiz um artigo sobre isso, inclusive num desses anos publicando a lista dos que tinham sido desclassificados (por comparação entre a classificação original e a definitiva). Também publiquei a notícia que tinham sido desclassificados 143 na Maratona do Porto 2015 (curiosamente ainda é hoje o artigo mais lido do meu blogue).
Tal valeu-me que alguns tenham deixado de me falar, o que é para o lado que durmo melhor.
O que é certo é que esta praga mantém-se e sendo uma listagem disponibilizada pela própria organização, esperemos que dê frutos no futuro.
Infelizmente, a praga é generalizada pois amiúde lemos vários casos nos mais diversos países.
Quem corre e sente a enorme felicidade de superação, não consegue entender esta estranha forma de batota.
Grande abraço amigo Fernando!
Obrigado pelo comentário, João. Estamos perante um assunto que pode ser considerado polémico, mas por algum lado se deve começar, se se pretender listagens de classificação fidedignas. Bem sei que poderá parecer injusto colocar no mesmo saco aqueles que fizeram batota intencionalmente e aqueles que simplesmente não pensaram nas consequências de, sabendo que não fizeram a prova toda, cortar a meta. Mas a Maratona é uma prova séria, que deve ser encarada com todo o respeito quer em termos de preparação física, como em termos de comportamento ético. A um maratonista cabe a responsabilidade de se apresentar como um exemplo de saber estar na Corrida, de autocontrole, de superação, de orgulho de ser capaz. O desrespeito por estes valores por parte de quem se mascara de maratonista com ou sem intenção, fica sujeito ao escrutínio da comunidade da Corrida, com a publicação da listagem. Para uns servirá de "punição", para outros terá fins didácticos. Ambos pensarão duas vezes, na próxima Maratona.
Grande abraço, amigo.
Amigo Fernando completamente de acordo .Eu já me insurgi pessoalmente contra quem de forma habilidoso tenta enganar a organização...quer seja por não cumprir o percurso ou correr sem estar inscrito usufruindo no final do que as organizações dão.Em ambos os casos "apanhei" infractores.Recordo numa Maratona do Porto passei por um atleta que eu conhecia ali na zona das caves ...no retorno tínhamos de na ponte D.Luis virar á direita onde estava o km 28 na zona do Freixo e fazer o retorno ...para meu espanto quando passo km 35 apanho outra vez o mesmo atleta...aqui na zona todos sabem quem é e gabasse de ter tempos formidáveis. Aplaudo esta atitude da Runporto e que outras organizações sigam o mesmo para salvaguardar a verdade desportiva.
Saudações .
Nem mais, amigo Joaquim Costa. Obrigado pelo comentário e esperemos que esta atitude da Runporto dê frutos na próxima edição. Abraço.
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